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Inferno

O inferno é concebido em várias tradições como um lugar ou estado de sofrimento eterno e separação de Deus, reservado para aqueles que rejeitam a salvação.

O abismo do inferno, quadro de Sandro Botticelli.
O abismo do inferno, quadro de Sandro Botticelli.
Crédito da Imagem: Commons
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O inferno é um lugar ou estado de sofrimento eterno e separação de Deus, reservado para aqueles que rejeitam a salvação, segundo várias tradições religiosas. Na Bíblia, ele é descrito como um destino de punição para os que vivem em pecado, e Jesus se refere a ele como o "fogo eterno" destinado aos que recusam o arrependimento. A palavra “inferno” vem do latim infernum, que significa "o que está abaixo", e remonta à ideia de um mundo subterrâneo onde as almas residem.

Leia também: Maniqueísmo — a doutrina que defende a existência de duas forças primordiais: o bem e o mal

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o inferno

  • O inferno é descrito como um lugar ou estado de sofrimento e separação eterna de Deus, reservado para os que rejeitam a salvação.
  • A palavra "inferno" vem do latim infernum, que significa “o que está abaixo”, referindo-se a um mundo subterrâneo e sombrio onde, em várias culturas antigas, as almas dos mortos residiam, consolidando-se posteriormente como um local de punição na tradição cristã.
  • As religiões interpretam o inferno de maneiras variadas:
    • no catolicismo, o inferno representa a separação definitiva de Deus;
    • no protestantismo, o inferno é amplamente caracterizado como um estado eterno de separação de Deus;
    • no islã, é um lugar de fogo chamado Jahannam;
    • no judaísmo, Gehena é uma etapa de purificação;
    • no espiritismo, é um estado temporário de sofrimento moral;
    • no budismo, representa reinos de punição temporária.
  • Nas mitologias antigas, o inferno, ou mundo inferior, é geralmente o destino das almas e possui características distintas:
    • no grego, Hades é a morada dos mortos;
    • na mitologia chinesa, Diyu é um reino de punição;
    • no Egito Antigo, o submundo é governado por Osíris, onde as almas são julgadas.
  • A ideia moderna de inferno teve grande influência da obra de Dante Alighieri, "A Divina Comédia", particularmente em sua primeira parte, o "Inferno".

O que é o inferno?

Gravura medieval representado a visão da época sobre o inferno.
Gravura medieval representado a visão da época sobre o inferno.

Segundo várias tradições religiosas, o inferno é um lugar ou estado de sofrimento e separação eterna de Deus, reservado para os que rejeitam a salvação. A imagem de tormento e escuridão prevalece na maioria das tradições, com variações de significados e simbolismos em diferentes religiões e culturas.

A ideia de inferno na tradição cristã teve forte influência na arte e na literatura, consolidando a imagem de um local aterrorizante, habitado por seres demoníacos e destinado aos ímpios. Essa visão permeia as descrições medievais e renascentistas, como na "Divina Comédia" de Dante Alighieri, que ajudou a cristalizar a imagem de um inferno de círculos, cada qual reservado a tipos específicos de pecadores.

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O inferno segundo a Bíblia

Na Bíblia, o inferno é apresentado como um lugar de punição final para aqueles que, por suas escolhas e ações, rejeitam o relacionamento com Deus e vivem em oposição aos Seus princípios.  

No Antigo Testamento, a ideia de um local para os mortos aparece no termo “Seol”, que representa uma espécie de morada sombria onde todos os mortos, justos e ímpios, esperam. Nesse contexto inicial, o Seol não é necessariamente um lugar de tormento, mas sim um estado de separação entre o mundo dos vivos e o dos mortos, refletindo uma distância de Deus e da Sua vida eterna.

Diversos trechos do Antigo Testamento mencionam o Seol, como, por exemplo:

1.  Gênesis 37:35

  • "Todos os seus filhos e filhas vieram consolá-lo, mas ele recusou ser consolado, dizendo: 'De luto descerei ao Seol para junto de meu filho.' Assim chorou por ele seu pai.”

2.  Números 16:30

  • "Mas, se o Senhor criar algo totalmente novo, e a terra abrir sua boca e os engolir com tudo o que possuem, e eles descerem vivos ao Seol, vocês saberão que estes homens desprezaram o Senhor."

3.  Deuteronômio 32:22

  • "Pois um fogo foi aceso pela minha ira, fogo que consome até o Seol mais profundo. Ele devorará a terra e suas colheitas e consumirá os alicerces dos montes.

4.  1 Samuel 2:6

  • "O Senhor mata e dá vida; ele faz descer ao Seol e dele resgata."

5.  Jó 7:9

  • "Assim como a nuvem se desfaz e passa, aquele que desce ao Seol não subirá."

6.  Jó 14:13

  • "Ah, se apenas me escondesses no Seol e me ocultasses até que a tua ira passasse! Se ao menos me fixasses uma data e depois te lembrasses de mim!"

7.  Salmos 16:10

  • "Porque não abandonarás a minha alma no Seol, nem permitirás que o teu santo veja corrupção."

8.  Salmos 49:15

  • "Mas Deus redimirá a minha vida do poder do Seol, pois ele me tomará para si."

9.  Provérbios 9:18

  • "Mas ele não sabe que ali estão os mortos, que os seus convidados estão nas profundezas do Seol."

10.  Isaías 14:9

  • "No Seol, os mortos estão todos agitados por tua causa, para te receber. Eles despertam os espíritos dos falecidos, todos os que eram líderes no mundo; fazem levantar-se dos seus tronos todos os que eram reis das nações."

11.  Amós 9:2

  • "Mesmo que cavem até o Seol, de lá a minha mão os tirará; mesmo que subam até os céus, de lá os farei descer."
Uma representação pictográfica do Seol datada do século XIX.
Uma representação pictográfica do Seol datada do século XIX.

Já no Novo Testamento, o conceito de inferno é expandido com o termo “Hades” "ᾅδης" (Hades, transliterado), a tradução grega para o Seol. O Hades é comumente descrito como o lugar onde as almas dos mortos permanecem até o julgamento final. Abaixo estão os principais trechos onde Hades é utilizado no texto grego original:

1.  Mateus 11:23

  • "E você, Cafarnaum, será elevada até o céu? Não! Você descerá até o Hades."

2.  Mateus 16:18

  • "E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não prevalecerão contra ela."

3.  Lucas 16:23

  • "No Hades, onde estava sendo atormentado, ele olhou para cima e viu Abraão, com Lázaro ao seu lado.”

4.  Atos 2:27

  • "Pois não abandonarás a minha alma no Hades, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção."

5.  Atos 2:31

  • "Vendo isso de antemão, falou da ressurreição do Cristo, que sua alma não foi deixada no Hades, nem o seu corpo viu corrupção."

6.  Apocalipse 1:18

  • "Eu sou aquele que vive. Estive morto, mas agora estou vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da morte e do Hades."

7.  Apocalipse 6:8

  • "Olhei, e diante de mim estava um cavalo amarelo. Seu cavaleiro chamava-se Morte, e o Hades o seguia de perto."

8.  Apocalipse 20:13

  • "O mar entregou os mortos que nele estavam, e a morte e o Hades entregaram os mortos que neles havia."

9.  Apocalipse 20:14

  • "Então a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo. O lago de fogo é a segunda morte."

Essas passagens apresentam Hades de maneiras variadas: como um lugar literal dos mortos (Lucas 16:23), um símbolo do poder da morte (Apocalipse 1:18) ou um conceito escatológico (Apocalipse 20:14).

O Novo Testamento também introduz o termo “Geena” para descrever a punição definitiva. Jesus utilizou o termo “Geena” para simbolizar o inferno como um lugar de tormento eterno, enfatizando que aqueles que rejeitam a graça de Deus estariam destinados ao fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos.

A palavra "Geena" é muitas vezes traduzida como "inferno" em versões modernas da Bíblia, mas alguns estudiosos e fontes sugerem que essa tradução pode não capturar plenamente o significado original do termo. Derivada do hebraico "Ge Hinnom", que significa "Vale de Hinom", Geena refere-se a um local próximo a Jerusalém com um histórico de conotações negativas. Esse vale foi associado a sacrifícios humanos, especialmente de crianças, em cultos ao deus Moloque durante períodos da Antiguidade.

Com o tempo, o Vale de Hinom teria se transformado em um local de descarte e queima de lixo, restos de animais e outros materiais. Alguns estudiosos acreditam que essa função de lugar de destruição deu origem à metáfora de Geena como um local de punição.

No entanto, diferentes interpretações sobre a Geena e sua ligação com o conceito de "inferno" têm sido amplamente discutidas. Apesar de a palavra Geena ser muitas vezes traduzida como inferno, no contexto judaico original não há necessariamente uma ideia de tormento eterno, um conceito que se desenvolveu mais tarde na tradição cristã.

A discussão sobre a tradução de Geena e sua relação com o conceito de inferno é um tema complexo, que envolve interpretações culturais, teológicas e históricas. Ao entender Geena em seu contexto original, é possível evitar algumas associações anacrônicas e potencialmente inadequadas entre o termo e o conceito cristão de inferno. Assim, as diferenças de tradução e interpretação de Geena ilustram como a história das traduções bíblicas e das doutrinas pode influenciar a compreensão religiosa moderna.

Algumas das principais passagens bíblicas sobre a Geena incluem:

1.  Mateus 5:22

  • "Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, quem disser ao seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal. Mas quem disser: ‘Tolo!’ estará sujeito ao fogo da Geena."

2.  Mateus 5:29

  • "Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e jogue-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que todo o seu corpo ser lançado na Geena."

3.  Mateus 5:30

  • "E se sua mão direita o fizer pecar, corte-a e jogue-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que todo o seu corpo ser lançado na Geena."

4.  Mateus 10:28

  • "Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma quanto o corpo na Geena."

5.  Mateus 18:9

  • "E se o seu olho o fizer pecar, arranque-o e jogue-o fora. É melhor entrar na vida com um só olho do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena do fogo."

6.  Mateus 23:15

  • "Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês percorrem terra e mar para fazer um convertido, e quando conseguem, vocês o tornam duas vezes mais filho da Geena do que vocês."

7.  Mateus 23:33

  • "Serpentes! Raça de víboras! Como vocês escaparão da condenação da Geena?"
Vista do monte Himon (Geena), associado à concepção cristã de inferno, em Jerusalém.[1]
Vista do monte Himon (Geena), associado à concepção cristã de inferno, em Jerusalém.[1]

Outro aspecto importante sobre o inferno na Bíblia é a sua descrição como um estado de completa exclusão da presença de Deus. Em 2 Tessalonicenses 1:9, o inferno é descrito como um lugar de “destruição eterna, longe da presença do Senhor e da glória do seu poder”. Isso reforça que o inferno é mais do que um lugar de sofrimento físico; é, acima de tudo, uma condição de alienação espiritual.

Leia também: Cristianismo — a maior religião do mundo

O que Jesus falou sobre o inferno?

Jesus fez várias referências ao inferno em seus ensinamentos, muitas vezes usando imagens vívidas para descrever a gravidade do destino dos ímpios. Aqui estão alguns dos principais pontos que Jesus mencionou sobre o inferno:

  1. Fogo eterno: Jesus frequentemente se referiu ao inferno como um lugar de fogo eterno. Em Mateus 25:41, Ele fala sobre o "fogo eterno" preparado para o diabo e seus anjos.
  2. Tormento: em Lucas 16:23-24, na parábola do rico e Lázaro, Jesus descreve o rico em tormentos no inferno, pedindo alívio e água, o que ilustra a dor e o sofrimento associados a esse lugar.
  3. Advertências sobre o inferno: em várias passagens, Jesus adverte sobre a seriedade do pecado e as consequências eternas. Em Mateus 5:29-30, Ele fala sobre a importância de evitar o pecado a todo custo, mesmo que isso signifique fazer sacrifícios drásticos, para não ser lançado no inferno.
  4. O diabo e seus anjos: Jesus menciona que o inferno foi preparado para o diabo e seus anjos (Mateus 25:41), indicando que é um lugar de punição para aqueles que se opõem a Deus.
  5. A segunda morte: em Apocalipse 21:8, que é uma revelação de Jesus, Ele fala sobre a "segunda morte", que é o lago de fogo onde os ímpios serão lançados.

Conceito de inferno de acordo com algumas religiões

  • Conceito de inferno para o catolicismo

O inferno, segundo a visão católica, representa a separação definitiva de Deus, onde a pessoa opta, por livre escolha, por rejeitar a presença divina e o amor que Ele oferece. No ensinamento católico, o inferno não é uma simples punição física ou um lugar de tormentos; é, antes de tudo, um estado de privação de Deus. Isso se alinha com a ideia de que o inferno é consequência da liberdade humana em relação ao amor divino, e não uma imposição punitiva.

O catecismo da Igreja Católica explica que o inferno é reservado para aqueles que, até o final de suas vidas, permanecem em rejeição voluntária e definitiva de Deus. Esse estado final de afastamento é compreendido como resultado do pecado mortal, quando a pessoa, conscientemente, escolhe contra os ensinamentos divinos e rejeita a comunhão com Deus. Essa separação é descrita como uma ausência de felicidade eterna, e o ser humano perde a chance de encontrar a plena realização junto ao Criador.

O Papa Francisco também reitera a compreensão do inferno não como um lugar punitivo no sentido literal, mas como um estado de isolamento voluntário de Deus. Ele afirma que a doutrina do inferno deve ser compreendida à luz da misericórdia divina, sendo uma realidade que surge da própria liberdade humana. Segundo o Papa, a doutrina católica sobre o inferno reflete o respeito de Deus pela liberdade humana e pela escolha de cada pessoa em aceitar ou rejeitar Sua presença.

A teologia católica, representada por teólogos como o Padre Athos Turchi, aborda o inferno como um mistério associado à justiça e à misericórdia de Deus. Ele explica que Deus, sendo infinitamente justo e misericordioso, oferece continuamente oportunidades de arrependimento e conversão. O inferno, portanto, é o resultado de uma decisão definitiva, sem a qual a liberdade humana seria anulada.

  • Conceito de inferno para o protestantismo

A visão cristã protestante do inferno é amplamente caracterizada como um estado eterno de separação de Deus, destinado aos ímpios, ou seja, aqueles que rejeitam a salvação por meio de Jesus Cristo. Para os protestantes, o inferno não é uma mera condição de sofrimento físico, mas uma existência onde se experimenta a completa ausência da presença de Deus e de qualquer possibilidade de bem-aventurança. Essa concepção está fundamentada no princípio de que o ser humano é dotado de liberdade para escolher seu destino eterno e, ao rejeitar Cristo e viver em pecado, faz uma escolha consciente que leva à condenação.

Diferente do catolicismo, que prevê a existência de um purgatório onde as almas podem ser purificadas antes de alcançar a salvação, a doutrina protestante não admite uma segunda chance após a morte; o destino eterno, seja o céu ou o inferno, é imediatamente determinado​. Essa compreensão remonta aos primórdios da Reforma Protestante, quando figuras como Martinho Lutero e João Calvino rejeitaram práticas e doutrinas católicas, incluindo o purgatório, que, segundo eles, não encontravam respaldo bíblico.

Para Calvino, em particular, a ideia do inferno era um aspecto central da justiça divina: os ímpios que não aceitassem o sacrifício de Cristo estariam destinados ao “fogo eterno” e à “morte eterna com o diabo”, sem qualquer possibilidade de salvação após o juízo final.

Ele defendia que, no juízo, os justos seriam glorificados e reunidos com Deus, enquanto os ímpios estariam irrevogavelmente condenados às trevas eternas. Essa perspectiva demonstra a visão calvinista da predestinação e da soberania divina, na qual Deus já determinou o destino final de cada indivíduo, ainda que esse destino seja inevitavelmente revelado apenas após a morte​.

Na tradição batista, por exemplo, que se inspirou na doutrina da predestinação calvinista, o inferno é visto como uma consequência da escolha individual e de uma vida vivida em pecado. A Primeira Confissão de Fé Batista de 1646 reforça essa ideia ao declarar que “Deus preordenou alguns homens para a vida eterna através de Jesus Cristo, para louvor e glória de sua graça, deixando os restantes em seus pecados, para julgamento”. Essa afirmação aponta para a ideia de que o inferno é uma punição definitiva, reservada para aqueles que, mesmo diante do sacrifício de Cristo, escolheram o pecado.

Outros grupos protestantes, como os seguidores de Jacob Armínio, enfatizaram o livre-arbítrio humano, defendendo que cada pessoa pode escolher entre a salvação e a perdição. No entanto, ainda assim, o inferno é visto como uma consequência do pecado e um estado sem retorno, onde não há intercessão pelos mortos nem possibilidade de redenção após a morte.

  • Conceito de inferno para o anglicanismo

A visão anglicana também seguiu a tendência de rejeitar o purgatório e outros ritos católicos de intercessão. “O Livro de Oração Comum”, publicado pela Igreja da Inglaterra em 1552, refletiu essa nova perspectiva ao condenar missas e orações pelos falecidos, prática que foi omitida e considerada inapropriada na liturgia anglicana.

Para os anglicanos, o inferno era considerado o destino eterno dos que morressem sem aceitar a fé, em consonância com a visão escatológica protestante de que o juízo final será o momento em que todos terão seu destino eterno.

  • Conceito de inferno para o islamismo

No islamismo, o inferno é chamado "Jahannam" e é descrito no Alcorão como um lugar de fogo ardente e sofrimento, reservado para aqueles que negaram a verdade e desobedeceram a Alá. Jahannam é dividido em diferentes níveis, e cada um deles abriga pecadores específicos de acordo com a gravidade de suas faltas. No entanto, o islã oferece a possibilidade de misericórdia divina, sugerindo que algumas almas podem eventualmente ser liberadas do inferno. Para os muçulmanos, o inferno não é apenas uma punição; ele também serve como um lembrete da justiça e da soberania de Deus, enfatizando a importância de uma vida reta e da obediência aos preceitos islâmicos.

  • Conceito de inferno para judaísmo

No judaísmo, o conceito de inferno é menos explícito e mais diversificado. Embora a tradição judaica reconheça um lugar chamado "Gehena", ele não é necessariamente um local de punição eterna.

Para os judeus, Gehena é visto como um estágio intermediário, onde as almas passam por um período de purificação antes de alcançar o mundo vindouro. Esse processo de purificação não é eterno; geralmente, acredita-se que dure até 12 meses, após os quais a alma é considerada purificada e capaz de se unir a Deus. A visão judaica do inferno destaca a importância do arrependimento e da correção moral, permitindo que até mesmo os pecadores encontrem redenção.

  • Conceito de inferno para o espiritismo

No espiritismo, o inferno não é um lugar físico de tormento eterno, mas sim um estado espiritual de sofrimento resultante das ações do próprio indivíduo. De acordo com os ensinamentos de Allan Kardec, as almas sofrem de acordo com a sua condição moral e espiritual, experimentando os tormentos derivados de sua própria consciência e da ausência de evolução espiritual. Esse sofrimento, no entanto, não é permanente.

O espiritismo acredita na reencarnação, o que permite que a alma busque melhorias e purificação ao longo de várias vidas. Dessa forma, o inferno no espiritismo é uma condição transitória que reflete o processo de aprendizado e progresso espiritual.

  • Conceito de inferno para o budismo

O budismo, apesar de não ter um conceito de inferno eterno, possui uma ideia de reinos de sofrimento, onde as almas impuras experienciam consequências negativas de suas ações. Esses reinos são temporários, e a duração do sofrimento depende do carma acumulado pela pessoa.

No budismo, a reencarnação é um ciclo contínuo, e os seres têm a oportunidade de purificar seu carma ao longo de várias existências. Assim, o inferno budista é um estágio de aprendizado e reflexão, não uma punição permanente. Esse ciclo de renascimentos e carma busca, em última instância, a iluminação e a libertação do sofrimento.

Inferno nas mitologias

  • Inferno na mitologia grega

Na mitologia grega, o Hades, como mencionado, era o reino dos mortos. Governado pelo deus Hades, esse lugar abrigava não apenas os mortais comuns, mas também aqueles que haviam cometido crimes graves e que, por isso, recebiam punições eternas.

Algumas figuras, como Tântalo e Sísifo, foram condenadas a tormentos perpétuos devido aos seus pecados. O rio Estige, uma das fronteiras de Hades, era um símbolo de separação entre o mundo dos vivos e o dos mortos. A mitologia grega, assim, introduz a ideia de uma punição eterna, embora limitada a certos indivíduos, e destaca a crença na retribuição divina como uma lição moral.

  • Inferno na mitologia chinesa

Na mitologia chinesa, o conceito de inferno é chamado "Diyu" e é um reino governado por Yama, o rei dos mortos. Diyu é descrito como um lugar de sofrimento, dividido em várias cortes ou camadas, onde as almas dos pecadores são julgadas e punidas de acordo com seus atos em vida. Cada corte tem um tipo específico de punição e reflete os princípios de justiça e retribuição moral da cultura chinesa.

Diferente das ideias ocidentais, o inferno chinês é visto como um estágio temporário de punição e purificação, após o qual a alma pode renascer ou alcançar um estágio de paz. Essa visão enfatiza a importância do equilíbrio e da retidão, além da crença no ciclo de renascimento e redenção.

  • Inferno na mitologia egípcia

Na mitologia egípcia, o conceito de inferno está associado ao submundo governado por Osíris, o deus dos mortos. Para os egípcios, a alma passava por um julgamento no "Salão de Maat", onde seu coração era pesado contra uma pluma, representando a justiça e a verdade. Se o coração fosse mais leve que a pluma, a alma seria admitida no paraíso. Caso contrário, seria condenada a um destino sombrio, onde sofreria por suas más ações. Essa visão reflete a importância do julgamento moral e do equilíbrio espiritual. O inferno egípcio, portanto, era uma consequência da vida em desarmonia com os valores de verdade e justiça.

Leia também: Ragnarök — o entendimento sobre o fim do universo para os nórdicos

Origem da palavra inferno

A palavra "inferno" tem sua origem no latim infernum ou inferus, que significam "o que está abaixo" ou "o mundo inferior". Essas palavras remetem a uma noção de profundidade ou de local subterrâneo, associando o inferno a uma região distante da superfície, onde se encontram os vivos. Na mitologia e na religião, esse lugar é geralmente compreendido como a morada dos mortos ou dos espíritos, especialmente daqueles que não foram destinados a um destino de bem-aventurança.

Nas culturas antigas, como a grega e a romana, essa ideia do mundo subterrâneo ou inferior estava presente na crença de um reino dos mortos, como o Hades na Grécia e o Orco em Roma. Essas regiões eram imaginadas como lugares onde as almas passavam uma eternidade sombria, e o inferno foi, aos poucos, sendo associado a essa visão de um local de sofrimento e retribuição.

Com a difusão do cristianismo, o conceito de inferno ganhou novos significados. Tornou-se o local de punição eterna para os pecadores, onde aqueles que rejeitam a fé cristã e cometem pecados graves são enviados após o julgamento final. O inferno, assim, deixou de ser apenas uma simples morada dos mortos e passou a representar o lugar de condenação e afastamento total da presença de Deus, sendo descrito como um ambiente de sofrimento e tormento eterno.

Representação do inferno
O inferno é descrito como um ambiente de sofrimento e tormento eterno.

Quem criou o inferno?

De acordo com a visão bíblica, o inferno foi criado por Deus. A Bíblia menciona que o inferno, ou o lago de fogo, foi preparado para o diabo e seus anjos. Essa ideia é encontrada em Mateus 25:41, onde Jesus diz: "Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos."

A criação do inferno é entendida como parte do plano de Deus para lidar com o pecado e a rebelião. O inferno serve como um lugar de punição para aqueles que rejeitam a Deus e escolhem viver em desobediência a Seus mandamentos.

Além disso, a Bíblia ensina que Deus é justo e que o inferno é uma expressão de Sua justiça, onde o mal e a iniquidade são finalmente julgados. Portanto, embora o inferno seja um lugar de punição, sua criação está ligada à natureza justa de Deus e à necessidade de lidar com o pecado de maneira adequada.

Quem vai para o inferno?

De acordo com a Bíblia, várias categorias de pessoas são mencionadas como destinadas ao inferno, ou ao lago de fogo, como resultado de suas escolhas e ações. Aqui estão algumas das principais referências:

  1. Os ímpios: aqueles que vivem em desobediência a Deus e não se arrependem de seus pecados. Em Mateus 25:41, Jesus menciona que os "malditos" serão enviados para o fogo eterno.
  2. Os que rejeitam a salvação: aqueles que não aceitam a oferta de salvação através de Jesus Cristo. Em João 3:18, é dito que "quem não crê já está condenado".
  3. Os que praticam a iniquidade: em Mateus 7:23, Jesus diz: "Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade." Isso se refere a pessoas que, apesar de suas aparências religiosas, não têm um relacionamento verdadeiro com Deus.
  4. Os que não se arrependem: em Apocalipse 21:8, é mencionado que os tímidos, incrédulos, abomináveis, homicidas, fornicadores, feiticeiros, idólatras e mentirosos terão sua parte no lago que arde com fogo e enxofre.
  5. Os que seguem o diabo e seus ensinamentos: em Apocalipse 20:10, o diabo, que engana as pessoas, é lançado no lago de fogo, e aqueles que o seguem também compartilham desse destino.
  6. Os que não têm seus nomes escritos no Livro da Vida: em Apocalipse 20:15, é dito que "se alguém não foi achado escrito no Livro da Vida, esse foi lançado no lago de fogo."

Onde fica o inferno?

A Bíblia não fornece uma descrição geográfica precisa do inferno, mas menciona algumas características e imagens que ajudam a entender sua natureza. Aqui estão alguns pontos relevantes sobre a localização do inferno de acordo com a Bíblia:

  1. Simbolismo e imagens: o inferno é frequentemente descrito usando imagens simbólicas, como fogo, escuridão e tormento. Por exemplo, em Mateus 25:41, Jesus fala sobre o "fogo eterno", e em Marcos 9:48, menciona que "onde o seu verme não morre, e o fogo nunca se apaga". Essas descrições são mais sobre a experiência do inferno do que sobre sua localização física.
  2. No seio da Terra: em algumas tradições, o inferno é associado a um lugar abaixo da terra. Em Lucas 16:23, na parábola do rico e Lázaro, o rico está em tormentos "no inferno" e ergue os olhos, vendo Abraão ao longe. Essa imagem sugere uma separação entre os justos e os ímpios, mas não fornece uma localização exata.
  3. Lago de fogo: o Apocalipse menciona o "lago de fogo" como o destino final dos ímpios (Apocalipse 20:10, 14). Esse lago de fogo é descrito como um lugar de tormento eterno, mas, novamente, a Bíblia não especifica uma localização geográfica.
  4. Estado espiritual: muitos teólogos interpretam o inferno não apenas como um lugar físico, mas como um estado de separação eterna de Deus, onde os ímpios experimentam a consequência de suas escolhas. Essa visão enfatiza a natureza espiritual do inferno em vez de uma localização física específica.

A representação do inferno em Dante Alighieri

Dante e os lugares retratados na “Divina Comédia”: o inferno, o céu e o purgatório.
Dante e os lugares retratados na “Divina Comédia”: o inferno, o céu e o purgatório.

A ideia moderna de inferno teve grande influência da obra de Dante Alighieri, "A Divina Comédia", particularmente em sua primeira parte, o "Inferno". Escrito no século XIV, durante o período medieval, o poema de Dante descreve o inferno como um espaço organizado e detalhado, dividido em nove círculos concêntricos, cada um destinado a pecadores específicos, de acordo com a natureza de seus pecados. Essa estrutura inovadora é uma das representações mais marcantes do inferno na literatura e consolidou muitas das imagens e noções de tormento eterno que perduram até hoje.

O contexto social e religioso da época em que Dante viveu também é refletido em sua obra. No período medieval, a Igreja Católica utilizava imagens vívidas do inferno para promover a moralidade e o temor a Deus entre os fiéis. Sermões, pregações e representações artísticas frequentemente enfatizavam a monstruosidade dos demônios e as torturas infernais como uma forma de reforçar a disciplina religiosa e garantir a adesão aos preceitos da Igreja. A descrição de Dante captura esse imaginário religioso, consolidando o inferno como um lugar de punição eterna e justificada.

A presença de figuras mitológicas e pagãs no inferno dantesco, como Minos, que age como juiz dos condenados, e Caronte, o barqueiro que transporta as almas através do rio Aqueronte, demonstra a influência das mitologias grega e romana. Esses personagens, embora pertencentes a mitos pré-cristãos, são reinterpretados por Dante como entidades demoníacas que desempenham papéis específicos na administração das punições infernais. Essa integração de elementos pagãos ao imaginário cristão foi uma das maneiras pelas quais Dante deu forma e densidade ao inferno, reforçando sua estrutura como uma instituição de justiça divina.

Além dos aspectos religiosos, a obra de Dante reflete também a vida política e social de sua época. Exilado de Florença, Dante critica figuras de sua cidade, incluindo líderes políticos e religiosos, colocando-os em diversos círculos do inferno de acordo com seus pecados. Esse ato de condenar figuras contemporâneas demonstra como o inferno na "Divina Comédia" é tanto uma alegoria moral quanto um comentário social, em que Dante utiliza o espaço infernal como um espelho das falhas humanas e das corrupções de sua sociedade.

A representação do inferno como um local de tortura punitiva e definitiva influenciou profundamente o imaginário ocidental sobre o destino dos pecadores. A obra de Dante inspirou não apenas outros escritores, mas também influenciou pregações, pinturas e esculturas que buscavam capturar a intensidade de sua visão de justiça e tormento. O inferno dantesco tornou-se uma referência duradoura, modelando a forma como o mundo ocidental visualiza o castigo eterno até os dias de hoje. Ao incorporar temas religiosos, morais e sociais, Dante Alighieri construiu uma das representações mais complexas e persistentes do inferno na literatura mundial.

Leia também: Pecados capitais — os principais vícios condenados pela Igreja

Hades e o inferno

Na tradição greco-romana, o Hades era o reino dos mortos, uma morada subterrânea aonde as almas eram enviadas após a morte, independentemente de suas virtudes ou pecados. Governado pelo deus Hades, esse local era uma extensão da vida terrena, apesar de sua natureza sombria e isolada. Embora o Hades não fosse visto inicialmente como um local de punição eterna, sua interpretação influenciou o conceito de inferno nas tradições cristãs posteriores.

Hades, o deus do submundo, e Cerberus, o cão de três cabeças que guarda a entrada do mundo inferior.
Hades, o deus do submundo, e Cerberus, o cão de três cabeças que guarda a entrada do mundo inferior.

Quando o cristianismo se consolidou, o inferno passou a ser associado com a ideia de um lugar de punição eterna para os pecadores, onde o fogo eterno representava o sofrimento dos que se afastaram de Deus. Esse desenvolvimento religioso transformou a visão de Hades em uma ideia mais punitiva e associada ao juízo final, impactando profundamente a iconografia e as doutrinas sobre o inferno no Ocidente.

Créditos da imagem

[1] Michal Levinsky / Wikimedia Commons

Fontes:

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SILVEIRA FILHO, Darly Gomes. Vida após a morte: uma análise das escatologias católico-romana e protestante-reformada e suas possíveis influências no modus vivendi dos cristãos. 2008. 78 f. Dissertação (Mestrado em Religião) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2008.

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Escritor do artigo
Escrito por: Tiago Soares Campos Bacharel, licenciado e doutorando em História pela USP. Bacharel em Direito e pós-graduado em Direito pela PUC. É professor de História e autor de materiais didáticos há mais de 15 anos.

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CAMPOS, Tiago Soares. "Inferno"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/religiao/inferno.htm. Acesso em 28 de novembro de 2024.

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