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Paródia

A paródia é uma forma de intertextualidade que consiste na modificação de sentido do texto parodiado.

Ilustração de várias pessoas rindo em alusão à paródia, marcada pela ironia.
A paródia é marcada pela ironia.
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Paródia é uma forma de intertextualidade. Ela é caracterizada pela alteração de sentido do texto original e objetiva ironizar, satirizar, questionar. Existem três tipos de paródia: verbal, formal e temática.

Leia também: O que é uma anedota?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a paródia

  • A paródia é um tipo de intertextualidade marcado pela modificação de sentido.

  • A ironia, o contraste e a imitação são características marcantes da paródia.

  • Existem três tipos de paródia, isto é, verbal, formal e temática.

  • A paródia verbal é feita por meio da substituição de poucas palavras do texto parodiado.

  • A paródia formal imita o estilo do texto original em prol da ironia.

  • A paródia temática faz uma imitação exagerada do estilo e das ideias do autor do texto parodiado.

  • Diferentemente da paródia, a paráfrase consiste em dizer a mesma coisa; porém, com outras palavras.

O que é paródia?

A paródia é uma forma de intertextualidade e consiste em um texto obtido pela alteração de sentido de outro texto. Ela pode apresentar um caráter contrastante, de modo que o texto parodístico utiliza ideias opostas ao texto parodiado. Essa forma de intertextualidade é subversiva, crítica e irônica. Por meio da imitação, ela subverte o sentido do texto original.

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Características da paródia

As principais características da paródia são as seguintes:

  • inversão de sentido;

  • interdiscursividade;

  • ironia;

  • contraste;

  • imitação;

  • sátira social;

  • aspecto questionador;

  • provocação de riso ou reflexão;

  • plurissignificação;

  • caráter transgressor.

Tipos de paródia

  • Paródia verbal: ocorre a substituição ou supressão de poucas palavras do texto parodiado, de forma a alterar seu sentido.

  • Paródia formal: acontece a imitação do estilo do texto original na forma de sátira ou ironia.

  • Paródia temática: é feita a imitação exagerada das ideias do autor do texto parodiado.

Veja também: Quais são os tipos de intertextualidade?

Como fazer uma paródia?

  1. Escolha o texto que você pretende parodiar.

  2. Decida se vai fazer uma paródia verbal, formal ou temática.

  3. Se optar pela paródia verbal, escolha que palavras do texto parodiado devem ser suprimidas ou modificadas para a alteração de sentido.

  4. Se optar pela paródia formal, é preciso imitar o texto parodiado, mas alterando seu sentido original.

  5. Se optar pela paródia temática, mantenha as ideias do autor, mas de forma caricata ou exagerada.

Vamos tomar como exemplo este ditado popular: “Cão que ladra não morde”, e fazer uma paródia verbal dele. Assim, suprimimos o advérbio “não” e temos uma paródia: “Cão que ladra morde”.

Exemplos de paródia

Uma das obras literárias mais parodiadas no Brasil é o poema “Canção do exílio” do poeta romântico Gonçalves Dias:

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.|1|

Autores como Murilo Mendes, Oswald de Andrade, Ferreira Gullar, José Paulo Paes, entre outros, fizeram paródia desse famoso poema. Assim, escolhemos como exemplo a paródia temática “Canção do exílio” feita por Casimiro de Abreu. Observe que ocorre uma imitação exagerada tanto do estilo quanto das ideias do poema de Gonçalves Dias. Para isso, o poeta romântico Casimiro de Abreu recorre a exclamações e à ideia de morte:

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!

Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!

O país estrangeiro mais belezas
Do que a pátria, não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
Tão doces duma mãe!

Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!
[...]

Quero ver esse céu da minha terra
Tão lindo e tão azul!
E a nuvem cor de rosa que passava
Correndo lá do sul!
[...]

Quero morrer cercado dos perfumes
Dum clima tropical,
E sentir, expirando, as harmonias
Do meu berço natal!

Minha campa será entre as mangueiras
Banhada do luar,
E eu contente dormirei tranquilo
À sombra do meu lar!

As cachoeiras chorarão sentidas
Porque cedo morri,
E eu sonho no sepulcro os meus amores
Na terra onde nasci!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!|2|

Outra paródia conhecida é o poema “Meus oito anos” do escritor modernista Oswald de Andrade:

Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da Rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais

Eu tinha doces visões
Da cocaína da infância
Nos banhos de astro-rei
Do quintal de minha ânsia
A cidade progredia
Em roda de minha casa
Que os anos não trazem mais

Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais|3|

Esse irônico poema faz uma paródia formal do famoso poema “Meus oito anos” do poeta romântico Casimiro de Abreu:

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d’amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã.
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

[...]|4|

Vamos ler agora um trecho do famoso poema “Vou-me embora pra Pasárgada” do poeta modernista Manuel Bandeira:

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

[...]

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.|5|

A seguir, vamos ler uma paródia verbal feita pelo escritor Millôr Fernandes. Nesta versão do poema “Vou-me embora de Pasárgada”, ao trocar algumas palavras do texto parodiado, o eu lírico cria um sentido oposto ao do texto de Manuel Bandeira:

Vou-me embora de Pasárgada
Sou inimigo do Rei
Não tenho nada que eu quero
Não tenho e nunca terei
Vou-me embora de Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
A existência é tão dura
As elites tão senis
Que Joana, a louca da Espanha,
Ainda é mais coerente
do que os donos do país.|6|

Origem da paródia

A paródia remonta à Antiguidade. Na Poética, o filósofo grego Aristóteles (384-322 a. C.) afirma que o criador da paródia foi o dramaturgo grego Hegemon de Thaso, que viveu durante o século V a. C. Apesar disso, segundo o escritor Affonso Romano de Sant’Anna, alguns autores “apontam [o poeta grego] Hipponax de Éfeso [que viveu no século VI a. C.] como ‘o pai da paródia’”.|7|

Diferenças entre paródia e paráfrase

  • Paródia: forma de intertextualidade que faz a imitação de um texto, com o intuito de ironizá-lo. Ela pode também imitar o estilo e as ideias de um autor, mas de forma exagerada, ou seja, caricata.

  • Paráfrase: forma de intertextualidade que mantém as ideias do texto parafraseado, de forma que não há ironia nem exagero. A paráfrase consiste em dizer a mesma coisa; porém, com outras palavras.

Em síntese, a paráfrase reafirma o discurso parafraseado, enquanto a paródia subverte, modifica ou contesta o discurso parodiado.

Já vimos alguns exemplos de paródia ao longo do texto. Façamos agora uma paráfrase deste texto de Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias:

“É claro que não devemos nos esquecer de que a constante interação entre o conteúdo do texto e o leitor é regulada também pela intenção com que lemos o texto, pelos objetivos da leitura.”

Paráfrase do texto:

“É preciso lembrar que o propósito ou os objetivos da leitura são o que também orienta a frequente relação entre o texto e o leitor.”

Para saber mais detalhes sobre a paráfrase, clique aqui.

Notas

|1|GONÇALVES DIAS. Canção do exílio. In: GONÇALVES DIAS. Poesia. São Paulo: Agir, 1969.

|2|ABREU, Casimiro de. Canção do exílio. In: ABREU, Casimiro de. As primaveras. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

|3|ANDRADE, Oswald de. Meus oito anos. In: ANDRADE, Oswald de. Poemas completos. São Paulo: Globo, 1988.

|4|ABREU, Casimiro de. Meus oito anos. In: ABREU, Casimiro de. As primaveras. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

|5|BANDEIRA, Manuel. Vou-me embora pra Pasárgada. In: BANDEIRA, Manuel. Antologia poética. 6. ed. São Paulo: Global, 2013.

|6|FERNANDES, Millôr. Vou-me embora de Pasárgada. Folha de S. Paulo, mar. 2001.

|7|SANT’ANNA, Affonso Romano de. Paródia, paráfrase & cia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2003.

Fontes

ABREU, Casimiro de. Canção do exílio. In: ABREU, Casimiro de. As primaveras. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

ABREU, Casimiro de. Meus oito anos. In: ABREU, Casimiro de. As primaveras. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

ALAVARCE, C. S. A ironia e suas refrações: um estudo sobre a dissonância na paródia e no riso. São Paulo: Editora UNESP/ Cultura Acadêmica, 2009.

ANDRADE, Oswald de. Meus oito anos. In: ANDRADE, Oswald de. Poemas completos. São Paulo: Globo, 1988.

ARISTÓTELES; HORÁCIO; LONGINO. A poética clássica. Tradução de Jaime Bruna. 7. ed. São Paulo: Cultrix, 1997.

BANDEIRA, Manuel. Vou-me embora pra Pasárgada. In: BANDEIRA, Manuel. Antologia poética. 6. ed. São Paulo: Global, 2013.

COUTINHO, Raissa Regina Silva. O discurso sobre o uso pedagógico da charge na EJA. 2014. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Educação, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2014.

FERNANDES, Millôr. Vou-me embora de Pasárgada. Folha de S. Paulo, mar. 2001.

GONÇALVES DIAS. Canção do exílio. In: GONÇALVES DIAS. Poesia. São Paulo: Agir, 1969.

KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2010.

ROCHA, Arthur de Oliveira. Paródia satírica e crítica midiática nas notícias fictícias do site Sensacionalista. 2017. Dissertação (Mestrado em Estudos da Mídia) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.

SANT’ANNA, Affonso Romano de. Paródia, paráfrase & cia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2003.

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Paródia"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/parodia.htm. Acesso em 27 de abril de 2024.

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