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Paráfrase é um tipo de intertextualidade que consiste na citação indireta de outro texto, verbal ou não verbal. E se caracteriza pela manutenção do sentido original do texto parafraseado. Assim, parafrasear é dizer a mesma coisa, mas com outras palavras ou outras imagens. Já a paródia não mantém o sentido original do texto parodiado, pois altera o seu sentido em prol da crítica, da ironia, da sátira.
Leia também: Quais são os tipos de intertextualidade?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre paráfrase
- 2 - O que é paráfrase?
- 3 - Características da paráfrase
- 4 - Regras da paráfrase
- 5 - Exemplos de paráfrase
- 6 - Diferenças entre paráfrase e paródia
Resumo sobre paráfrase
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A paráfrase é um tipo de intertextualidade, pois consiste em uma citação indireta.
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Paráfrase e paródia apresentam dois tipos diferentes de processos intertextuais.
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A paráfrase deve manter o sentido original do texto parafraseado.
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A paródia deve subverter, alterar o sentido original do texto parodiado.
O que é paráfrase?
A paráfrase é um tipo de intertextualidade que consiste na citação de um texto de forma indireta. Nessa perspectiva, aquele que se apropria do discurso alheio mantém a ideia principal do discurso original. Paráfrase é dizer a mesma coisa que outro disse, mas com outras palavras. Desse modo, reformulamos o enunciado original, sem mudar o seu sentido.
Características da paráfrase
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Caráter intertextual.
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Repetição de uma ideia.
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Manutenção do discurso ou sentido primitivo.
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Aspecto verbal ou não verbal.
Regras da paráfrase
Para ser considerado paráfrase, o enunciado deve ser uma citação indireta, ou seja, uma reformulação do discurso de origem. Portanto, o autor da paráfrase precisa fazer um resumo do pensamento original, com suas próprias palavras, distintas das do autor do enunciado parafraseado.
Contudo, na reformulação, é permitido manter uma ou outra palavra do texto-fonte, desde que ela seja de suma importância para a manutenção do sentido. De qualquer forma, é preciso mencionar a autoria do texto original. Em um texto parafrástico mais informal, basta dizer “segundo Fulano” ou “parafraseando Fulano”.
Mas, se for um texto acadêmico, o autor da paráfrase deve seguir as normas da ABNT para a citação da fonte. Já no texto literário, é responsabilidade do leitor identificar o seu caráter parafrástico, já que a intertextualidade, nesse caso, se configura em mais um recurso artístico utilizado pelo autor.
E, por fim, a citação direta (reprodução exata do discurso de outro autor) não é uma paráfrase. Nesse caso, as aspas devem, obrigatoriamente, ser usadas. Do contrário, o texto copiado é visto como plágio.
Exemplos de paráfrase
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Paráfrase de provérbio ou ditado popular
PROVÉRBIO |
PARÁFRASE |
“A pressa é inimiga da perfeição.” |
A ansiedade é inimiga da perfeição. |
“O apressado come cru.” |
O ansioso come cru. |
“Cada macaco no seu galho.” |
Cada galo no seu poleiro. |
“É dando que se recebe.” |
É ajudando que se é ajudado. |
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Paráfrase de poema
Observe a primeira estrofe do soneto 18, do poeta italiano Francesco Petrarca (1304-1374):
Esta alma gentil, que se departe,
Chamada antes da hora à outra vida,
Se é lá no além, como era aqui, querida,
Terá do céu a mais bendita parte.
Se ela ficasse dentre a Terra e Marte,
Faria a luz do Sol descolorida;
Pois que a mirar-lhe a graça tão subida,
Toda alma digna, em torno a ela, parte.
Se sob o quarto ninho ela pousasse,
Qualquer das três seria menos bela
E fama e voz talvez só ela achasse.
No quinto giro não pousara ela;
Porém, se ela a mais alto erguesse a face,
Venceria com Jove a toda estrela.
Agora veja o caráter parafrástico da primeira estrofe do soneto 80, do poeta português Luís de Camões (1524-1580):
Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
alguma coisa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.
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Paráfrase de quadro ou imagem
A seguinte ilustração parafraseia o quadro O grito, do pintor expressionista Edvard Munch (1863-1944). Nela, a figura do homem é trocada pela de um gato. No entanto, esse texto não verbal mantém a mesma intenção ou sentido da obra original, ou seja, a angústia do grito:
Diferenças entre paráfrase e paródia
Tanto a paráfrase quanto a paródia são mecanismos intertextuais; porém, diferentes. Afinal, a paráfrase consiste em resumir, com outras palavras, o sentido original de um enunciado alheio. Já a paródia subverte, altera o sentido original. Portanto, a paródia apresenta aspecto crítico, irônico, satírico.
Um famoso exemplo de paródia pode ser encontrado na seguinte estrofe do poema Canto do regresso à pátria, do escritor modernista Oswald de Andrade (1890-1954):
“Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá”
Observe o primeiro verso da estrofe de Oswald e o primeiro verso da seguinte estrofe do poema Canção do exílio, do escritor romântico Gonçalves Dias (1823-1864):
“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.”
Se ambos os versos tivessem o mesmo sentido, o verso do escritor modernista poderia ser considerado uma paráfrase. No entanto, Oswald altera, subverte o sentido original, de forma a imprimir um caráter mais político, em vez de bucólico, ao seu verso. Assim, Oswald de Andrade faz uma paródia.
Fontes:
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ANDRADE, Oswald de. Canto do regresso à pátria. In: ANDRADE, Oswald de. Pau brasil. Paris: Sans Pareil, 1925.
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