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O coelho da Páscoa é conhecido como um importante símbolo da Páscoa, celebração cristã que comemora a ressurreição de Jesus Cristo. Essa figura se estabeleceu como símbolo pascal a partir do século XIX e, atualmente, é conhecida por trazer os ovos de chocolate para as crianças.
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Significado do coelho da Páscoa
Todos nós conhecemos a tradição do coelho da Páscoa e o seu papel de trazer os ovos de chocolate, assim como o Papai Noel traz os presentes no Natal. O coelho da Páscoa deixa os ovos escondidos, e as crianças que os encontram ficam com eles. Em nome dessa tradição, muitos pais fazem a brincadeira de esconder os ovos pela casa para que as crianças possam procurá-los.
Essa história tem muita relação com a cultura popular germânica, pois, na Alemanha, havia a lenda sobre o Osterhase, uma lebre que trazia ovos enfeitados para as crianças durante o período do equinócio da primavera. A lebre trazia os ovos e os escondia, cabendo às crianças o dever de encontrá-los.
Essa lenda foi levada aos Estados Unidos por imigrantes alemães a partir do século XVIII, popularizando-se por lá. Existe muita especulação acerca da sua provável origem, se é pagã ou cristã, mas o fato é que é impossível fazer essa definição.
O que sabemos é que a forma como enxergamos a Páscoa foi modificada, a partir do século XIX, para transformar essa celebração em algo mais familiar. Esse processo entendeu a Páscoa como uma festividade a ser comemorada em família e contribuiu para estabelecer o coelho como um dos seus símbolos.
Esse processo se relaciona também com a forma como as sociedades ocidentais passaram a enxergar a infância. Essa fase da vida passou a ser vista como um período em que, além de preparar para a vida adulta, a criança pudesse ter acesso ao lazer e a situações que a fizessem feliz.
Essa nova perspectiva sobre a infância repercutiu na Páscoa, fazendo com que se tornasse algo mais familiar, e a brincadeira de procurar os ovos é parte dessa mudança da infância como uma fase mais divertida na formação do ser humano. Além disso, era uma brincadeira caseira.
Por fim, os impactos de todo esse desenvolvimento fizeram com que um novo símbolo surgisse: o coelho. Isso porque, como mencionado, a lenda falava da lebre, um animal maior e mais agressivo. O coelho, por sua vez, é menor e mais dócil, e a transformação da Páscoa em uma celebração familiar passava pela criação de um símbolo mais domesticável.
Como podemos perceber, com o coelho da Páscoa outro símbolo se estabeleceu: o ovo de Páscoa. O ovo era um símbolo bem tradicional (em culturas pagãs da Europa e do Oriente) de fertilidade e era entendido como um símbolo da renovação da vida. Por isso, em determinados locais e épocas, os ovos eram decorados e distribuídos como presentes.
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Origem do coelho da Páscoa
As origens do coelho enquanto símbolo da Páscoa são difíceis de ser precisadas, mas algumas informações nos ajudam a entender esse assunto. O coelho é um animal de grande simbolismo, tanto em culturas pagãs quanto em culturas cristãs.
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Paganismo
A relação mais comum que se tem do coelho em culturas pagãs é a de associá-lo ao símbolo de fertilidade, dada a grande capacidade que ele tem de se reproduzir. Tradicionalmente, tem-se o coelho como um símbolo de Eostre, deusa germânica também conhecida como Ostara, relatada por um monge do século VIII chamado Beda.
Ostara era conhecida como a deusa da primavera, quando a natureza renasce, depois do inverno. Esse renascimento da natureza vincula-se com a fertilidade, atributo pelo qual ela também era conhecida. Essa associação do coelho com Ostara é, no entanto, questionada por muitos estudiosos.
Uma lenda germânica falava que Ostara decidiu transformar um pássaro em coelho, mas o animal teria ficado descontente na sua nova forma e pedido para retornar a sua de origem. Ostara concedeu o pedido, e o pássaro, grato, teria presenteado a deusa germânica com ovos coloridos, que ela distribuiu às crianças.
Os irmãos Grimm, importantes folcloristas germânicos do século XIX, associavam a lenda da lebre (que levava ovos para as crianças e os escondia) com a deusa Ostara. O coelho da Páscoa em alemão é conhecido como Osterhase, nome bastante semelhante ao da deusa germânica. Novamente, os historiadores não têm comprovação histórica dessa teoria.
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Cristianismo
No cristianismo também existe associação do coelho com importantes passagens dessa religião. Inicialmente o símbolo utilizado era a lebre, e, conforme mencionado, com o tempo ela foi substituída pelo coelho, um animal bem mais dócil.
Pode-se afirmar que, entre os cristãos da Antiguidade, o coelho ou a lebre eram vistos como símbolos de castidade. Essa associação deu-se, pois se acreditava que os coelhos eram capazes de se reproduzir assexuadamente. Isso contribuiu para que esses animais fossem associados a Maria, mãe de Jesus, uma vez que, nessa visão, ela, assim como os coelhos, reproduzia-se sem contato sexual.
Outra versão aponta para uma espécie de lebre conseguir engravidar uma segunda vez enquanto carrega o primeiro filhote. A imagem do coelho como um animal que representa castidade e virgindade é bem estranha para nós, uma vez que reconhecemos esse animal como um sinal de fertilidade por sua grande capacidade reprodutiva.
No entanto, a imagem do coelho como símbolo de pureza e inocência permaneceu durante a Idade Média e esteve presente até o renascimento, uma vez que existe um quadro, do pintor renascentista Tiziano Vicelli, que retrata um coelho junto da Virgem Maria. Esse quadro recebeu o nome de A Virgem e o coelho.
Outra importante referência do coelho no cristianismo é encontrada em Devon, na Inglaterra. Nesse local, uma série de igrejas do período medieval têm, em sua iconografia, um símbolo que apresenta um círculo com três coelhos (ou lebres) interligados pelas próprias orelhas. Os historiadores não sabem se os coelhos, nesse símbolo, representam pureza ou se têm outro significado.
Por fim, existem lendas que apontam que um coelho foi o primeiro ser a presenciar a ressurreição de Jesus e que esse animal era um símbolo de renovação, pois era o primeiro a sair de sua toca com o fim do inverno. Essa renovação seria entendida, dentro da teologia cristã, como um sinônimo da ressurreição.
Por Vanessa Sardinha dos Santos
Professora de Biologia