O que é a Idade Média? Em que consiste o chamado “período medieval”? Durante muito tempo, prevaleceu para nós, ocidentais, uma imagem negativa da Idade Média, imagem essa que foi gestada durante os séculos XVI, XVII e XVIII, quando os conceitos de “modernidade”, “progresso” e “revolução” passaram a emoldurar uma realidade bem distante daquela vivida pelo homem medieval. Além disso, esses conceitos também estavam associados a uma visão de mundo que não era a mesma do medievo. A própria expressão “Idade Média” foi cunhada por intelectuais da Renascença Italiana, que consideravam os mil anos anteriores a eles como um hiato, um “intervalo sombrio”, entre a cultura clássica greco-romana e o resgate dela feito pelos renascentistas.
Somente com o desenvolvimento da história enquanto disciplina científica, na virada do século XIX para o século XX, que estudos sérios e detidos sobre o período medieval desvincularam esse período de sua aura negativa. Esses estudos passaram a descrever, analisar e compreender a complexidade do mundo ocidental durante os dez séculos em que se desenvolveu, de V a XV d.C. Esse longo período foi dividido esquematicamente em duas partes principais: “Alta Idade Média” (século V a século X) e “Baixa Idade Média” (século X a século XV).
Muitos historiadores dão a esses dois períodos a denominação de “Cristandade”, haja vista que o que hoje conhecemos como Europa (ou civilização europeia) formou-se durante a Alta Idade Média, sob bases cristãs, em meio a guerras e invasões bárbaras. E foi sob essas mesmas bases que essa civilização se consolidou no período da Baixa Idade Média. Na Alta Idade Média, os primeiros reinos cristãos, como o dos Francos, formados a partir da decadência do Império Romano do Ocidente, conseguiram mesclar elementos políticos e culturais da tradição germânica e da tradição romana e formar uma nova concepção de organização social, que ficou entrelaçada com a instituição da Igreja Católica. Essa última, por sua vez, desenvolveu nesse mesmo período sua hierarquia interna e seu modelo de conversão dos povos bárbaros, que garantiu preservação moral do vasto território europeu.
Foi ainda na Alta Idade Média que o modelo econômico característico do Período Medieval como um todo foi elaborado: o feudalismo. O sistema feudal foi desenvolvido como forma de proteção contra invasões externas (como a dos muçulmanos) que os poderosos senhores de terras ofertavam àqueles que se tornavam seus servos. As relações do senhor feudal com seus servos eram denominadas pelos termos de “suserania” e “vassalagem”. Havia também, além dos feudos pertencentes a nobres, as faixas de terras cuja posse era do clero. Nessas terras havia o trabalho dos monges, que viviam em abadias e monastérios. Muitos dos modelos de trabalho desenvolvidos pelos monges serviram, posteriormente, para outros feudos.
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A Baixa Idade Média foi caracterizada pelo esplendor da cultura cristã, com o desenvolvimento do pensamento escolástico e do sistema das artes liberais, a criação de universidades, a arquitetura românica e gótica, a pintura de gênios como Giotto e a poesia de igualmente gênios, como Dante Alighieri. Foi também na Baixa Idade Média que ocorreram as Cruzadas em direção a Jerusalém, na Palestina, que tinham como objetivo retomar as conexões da Europa Ocidental com o Oriente Médio e a Ásia obstruídas pelos muçulmanos, que haviam conquistado boa parte da região próxima ao Mar Mediterrâneo. Foi nesse período também que foi instalada a Inquisição como uma instituição direcionada à investigação dos suspeitos de heresia. Esse tribunal tinha a função maior de impedir os justiçamentos públicos que a própria população promovia contra os supostos hereges indiscriminadamente.
Os séculos “fronteiriços” entre Idade Média e Idade Moderna, isto é, os séculos XIV e XV, viram os acontecimentos que marcaram a transição de uma época à outra. É caso dos Renascimentos. Primeiro, o Renascimento Urbano e Comercial, que foi resultado das Cruzadas e liberação do Mar Mediterrâneo. Segundo, o Renascimento Cultural, que também só foi possível em virtude do contato restabelecido que os europeus tiveram com a Ásia Menor (berço da filosofia e de todo o conhecimento grego, helenístico) após as Cruzadas. Mas foi também nessa época de transição que ocorreu uma das piores catástrofes epidemiológicas do mundo, a Peste Negra, que, vinda da Ásia, entrou por meio das cidades comerciais portuárias e assolou uma boa parcela da população europeia.
Por Me. Cláudio Fernandes