O século XIV é considerado na Europa medieval um período de crise. Aumento da violência, alterações climáticas, fome e revoltas foram elementos que caracterizaram esse século. Além desses fatores, o principal elemento para essa crise foi a chamada Peste Negra.
Tópicos deste artigo
A Doença e seu Contágio
A Peste Negra foi um dos maiores surtos epidêmicos da história da humanidade. A doença era contraída a partir do contato humano com pulgas infectadas pela bactéria Yersinia pestis que estavam presentes em ratos. A peste manifestava-se de duas maneiras:
a) peste bubônica: contraída pelo contato com as pulgas ou ratos infectados, caracterizava-se por gânglios que acumulavam sangue negro, principalmente nas axilas.
b) peste pneumônica: era contraída pelas vias respiratórias a partir do contato com outra pessoa infectada.
O último registro da doença na Europa havia sido no século VI, mas ela sempre esteve presente na Ásia Central e na África|1|. A peste retornou para a Europa a partir de 1348 e foi trazida por navios genoveses para vários portos do continente europeu. A colônia genovesa de Caffa, localizada na Crimeia, foi cercada pelos tártaros, que utilizaram os cadáveres infectados como arma. Os cadáveres eram lançados por cima das muralhas para dentro da cidade, o que fez com que a doença se disseminasse.
Com a cidade cercada e com o surto epidêmico, muitos genoveses fugiram em seus navios e acabaram levando a enfermidade para outras cidades da Europa, como Constantinopla, Messina, Gênova e Marselha. Os navios possuíam ratos infectados e também cadáveres daqueles que haviam falecido durante a viagem.
Mortalidade da Peste Negra
A partir do acometimento dessas cidades, a doença atacou a Europa em um verdadeiro surto. De 1348 até 1350, a doença atuou de forma fulminante. O historiador Jacques Le Goff afirma que “os homens e as mulheres contaminados pelo bacilo eram derrubados depois de uma curta incubação por um acesso que, depois de 24 a 36 horas, levava na maioria das vezes à morte”|2|.
Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
Os locais mais afetados foram aqueles onde a aglomeração humana era maior, ou seja, as cidades. Assim, muitos procuraram o isolamento, principalmente os ricos, que possuíam meios de se abrigar em suas propriedades nas zonas rurais, como retratou o italiano Giovanni Boccaccio em sua obra Decamerão.
Os relatos falam da dificuldade de realizar os funerais em decorrência do grande volume de mortos e do risco do contágio. O historiador Hilário Franco Júnior também aponta que os grupos mais atacados pela doença eram coveiros, médicos e padres |3| pelo contato constante que tinham com os infectados.
Dessa maneira, a doença encerrou o processo de crescimento populacional que a Europa vivia desde o século X. As estatísticas muitas vezes são imprecisas, mas os historiadores afirmam que pelo menos um terço da população de toda a Europa morreu em decorrência da epidemia. Hilário Franco Júnior afirmou que a Europa só recuperou o índice populacional pré-peste no século XVI, ou seja, 200 anos depois|4|.
Pela falta de conhecimento, a população europeia encarou a epidemia como manifestação da ira divina pelos pecados cometidos. Assim, a doença levou ao fortalecimento das manifestações religiosas. Além disso, também gerou manifestações de antissemitismo, pois muitos consideravam os judeus responsáveis pelos surtos.
Por fim, a peste ocasionou um maior cuidado com a limpeza, e muitas cidades passaram a prezar a higiene como forma de evitar novos surtos. Apesar disso, a doença foi recorrente na Europa até o século XVIII.
|1| LE GOFF, Jacques. Raízes medievais da Europa. Petrópolis: Vozes, 2011, p.227.
|2| Idem, p.227
|3| FRANCO JÚNIOR, Hilário. Idade Média, nascimento do ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006, p.30.
|4| Idem, p.31
Por Daniel Neves
Graduado em História