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Neorrealismo é um movimento artístico ocorrido no século XX. Esse “novo realismo” apresenta obras ideologicamente comprometidas com questões sociais. Os romances de 1930 do modernismo brasileiro trazem uma perspectiva neorrealista. Já o cinema italiano do pós-guerra é o principal representante da vertente cinematográfica.
Portugal também vivenciou o neorrealismo literário. Além disso, a pintura neorrealista portuguesa sofreu influência do pintor modernista brasileiro Candido Portinari. Já na França, a maioria dos artistas não aderiu ao movimento neorrealista, havendo poucas obras com tal perspectiva.
Leia também: Concretismo — outro movimento artístico que surgiu no século XX
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o neorrealismo
- 2 - Características do neorrealismo
- 3 - Neorrealismo brasileiro
- 4 - Neorrealismo italiano
- 5 - Neorrealismo francês
- 6 - Neorrealismo português
- 7 - Neorrealismo e as relações internacionais
Resumo sobre o neorrealismo
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O neorrealismo é um movimento artístico que está associado a uma arte ideológica que denuncia os problemas sociais.
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No Brasil, esse movimento esteve mais presente na literatura, especificamente associado ao romance de 1930.
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Na Itália, ele sobressaiu no cinema, apesar de ter também grande influência na literatura.
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Na França, o movimento neorrealista foi quase inexistente e não teve muitos adeptos.
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Em Portugal, a literatura neorrealista teve grande destaque, mas o cinema e o teatro foram prejudicados pela censura.
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O termo “neorrealismo” também existe no contexto das relações internacionais como um conceito teórico que nada tem a ver com o movimento artístico.
Características do neorrealismo
O neorrealismo é um “novo realismo”, distinto, portanto, do realismo do século XIX, marcado pela objetividade. Os artistas do “novo realismo” do século XX produziram obras em que se percebe a parcialidade de seus autores. Assim, de forma genérica, o neorrealismo possui as seguintes características:
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crítica sociopolítica;
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ausência de idealizações;
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linguagem simples;
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caráter emotivo;
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reflexão social;
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protagonismo de pessoas do povo;
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denúncia de injustiças sociais;
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linguagem coloquial.
Vale ressaltar que a literatura neorrealista mostra o homem do povo em sua condição de subalterno, sob a exploração das elites. Já o cinema neorrealista pode apresentar locações reais e atores não profissionais. Mas o que vai definir uma obra cinematográfica como neorrealista é a temática sociopolítica do século XX.
A pintura neorrealista tem a mesma perspectiva social, pois mostra a vida do homem comum em seu dia a dia. E, principalmente, retrata indivíduos marginalizados, de forma a registrar o momento histórico e social de uma nação, especificamente a realidade do século XX.
Neorrealismo brasileiro
O cinema novo possui características neorrealistas, pois sofreu influência do cinema neorrealista italiano. Apesar de ter como seu principal nome o cineasta Glauber Rocha (1939-1981), esse estilo cinematográfico, possivelmente, tem início, em 1955, com o lançamento de Rio, 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018).
Nossa literatura neorrealista surge dentro do movimento modernista. O romance de 1930 é também regionalista e mostra a realidade social de determinadas regiões do Brasil. Ele possui caráter determinista e, portanto, aponta o meio em que vivem os personagens como uma das principais causas para a sua situação de miséria. Algumas obras literárias neorrealistas brasileiras são:
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O quinze (1930), de Rachel de Queiroz (1910-2003);
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Os ratos (1935), de Dyonélio Machado (1895-1985);
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Capitães da areia (1937), de Jorge Amado (1912-2001);
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Vidas secas (1938), de Graciliano Ramos (1892-1953).
A pintura neorrealista brasileira também está inserida no modernismo, e seu maior nome é Candido Portinari (1903-1962), que, com sua tela Café (1935), teve grande influência sobre a arte neorrealista portuguesa. Segundo Luciene Lehmkuhl, os “compêndios de História da Arte de Portugal apontam Candido Portinari como o agente catalisador do neorrealismo, importante movimento artístico nas artes portuguesas na década de 1940”|1|. Outras obras de Portinari, com temática social, são:
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O lavrador de café (1934);
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Lavadeiras (1937);
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Retirantes (1944).
Veja também: Cubismo — outro movimento artístico do século XX que se manifestou no modernismo brasileiro
Neorrealismo italiano
O cinema neorrealista italiano teve início em 1945, com o filme Roma, cidade aberta, do cineasta Roberto Rossellini (1906-1977). E influenciou a produção cinematográfica de outros países, como o Brasil.
A literatura neorrealista italiana faz oposição ao fascismo e possui elementos não só sociais, mas também existenciais. As principais obras literárias neorrealistas italianas são:
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Conversa na Sicília (1941), de Elio Vittorini (1908-1966);
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A trilha dos ninhos de aranha (1947), de Italo Calvino (1923-1985);
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É isto um homem? (1947), de Primo Levi (1919-1987);
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O cárcere (1948), de Cesare Pavese (1908-1950).
A pintura neorrealista italiana retratou o homem do campo, mas também imagens que remetem à resistência política. O principal artista desse movimento é Renato Guttuso (1911-1987), que produziu obras de cunho social, como:
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Atirando no campo (1938);
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Fuga do Etna (1940);
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Massacre (1943);
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Agricultores trabalhando (1950);
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A discussão (1960).
Neorrealismo francês
A presença do neorrealismo no cinema francês foi tímida, de forma que o único destaque é o filme de René Clément (1913-1996) intitulado A batalha dos trilhos, de 1946.
O mesmo aconteceu com a literatura. Assim, o romance Antoine Bloyé, de 1933, associado a um “realismo socialista”, é o que mais se aproxima do neorrealismo.
Já a pintura neorrealista tem como principal nome André Fougeron (1913-1998) e sua obra Parisienses no mercado, de 1947.
Neorrealismo português
De caráter ideológico e social, a literatura neorrealista portuguesa tem início no final da década de 1930. Desse modo, o neorrealismo português é inaugurado, em 1939, com a publicação do romance Gaibéus, de Alves Redol (1911-1969), em que se verifica o realismo social, com foco no sujeito socialmente marginalizado. Algumas obras literárias portuguesas neorrealistas são:
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Terra (1941), de Fernando Namora (1919-1989);
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Sol de agosto (1941), de João José Cochofel (1919-1982);
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Alcateia (1944), de Carlos de Oliveira (1921-1981);
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Caminheiros (1949), de José Cardoso Pires (1925-1998);
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Seara de vento (1958), de Manuel da Fonseca (1911-1993);
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Uma abelha na chuva (1959), de Carlos de Oliveira.
Porém, o neorrealismo português precisou conviver com a censura salazarista, que atingiu, principalmente, o cinema, em que o neorrealismo não frutificou, e o teatro. Foram censuradas peças como Forja (1948), de Alves Redol; Dois compartimentos (1950), de Avelino Cunhal (1887-1966); e Condenados à vida (1964), de Luiz Francisco Rebello (1924-2011).
A pintura neorrealista portuguesa conta com obras como:
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Apertado pela fome (1945), de Marcelino Vespeira (1925-2002);
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Gadanheiro (1945), de Júlio Pomar (1926-2018);
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Paisagem fabril (1951), de Maria Eugénia.
Neorrealismo e as relações internacionais
O termo “neorrealismo” também é utilizado no contexto das relações internacionais. No livro Teoria das relações internacionais, de 1979, Kenneth Waltz (1924-2013), um cientista político, lança o conceito de neorrealismo ou realismo estrutural. Assim, segundo Lara Martim Rodrigues Selis, mestre em Relações Internacionais:
[...], o neorrealismo pode ser entendido como um movimento ou um projeto coletivo definido por um conjunto de teorias com fundamentos comuns, sendo eles o estadocentrismo, o utilitarismo, o positivismo e o estruturalismo. A aceitação dessas premissas age não só sobre a natureza das questões levantadas, como no próprio desenvolvimento do discurso teórico|2|.
Está claro, portanto, que neorrealismo ou realismo estrutural é um conceito teórico da área de relações internacionais, que nada tem a ver com o movimento artístico neorrealista.
Notas
|1| LEHMKUHL, Luciene. O Café de Portinari na Exposição do Mundo Português — agente catalisador do neorrealismo. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v. 54, p. 1-20, 2021.
|2| SELIS, Lara Martim Rodrigues. Deslimites da razão: um estudo sobre a teoria neorrealista de Kenneth Waltz. 2011. 184 f. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais) – Instituto de Relações Internacionais, Universidade de Brasília, Brasília, 2011.
Crédito de imagem
[1] paulisson miura / Wikimedia Commons (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura