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Neorrealismo

O neorrealismo é um movimento artístico do século XX. Ele está associado a uma arte ideológica que denuncia os problemas sociais.

“O lavrador de café” (1934), de Candido Portinari, uma importante obra do neorrealismo brasileiro.
O lavrador de café (1934), de Candido Portinari, uma importante obra do neorrealismo brasileiro. [1]
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Neorrealismo é um movimento artístico ocorrido no século XX. Esse “novo realismo” apresenta obras ideologicamente comprometidas com questões sociais. Os romances de 1930 do modernismo brasileiro trazem uma perspectiva neorrealista. Já o cinema italiano do pós-guerra é o principal representante da vertente cinematográfica.

Portugal também vivenciou o neorrealismo literário. Além disso, a pintura neorrealista portuguesa sofreu influência do pintor modernista brasileiro Candido Portinari. Já na França, a maioria dos artistas não aderiu ao movimento neorrealista, havendo poucas obras com tal perspectiva.

Leia também: Concretismo — outro movimento artístico que surgiu no século XX

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o neorrealismo

  • O neorrealismo é um movimento artístico que está associado a uma arte ideológica que denuncia os problemas sociais.

  • No Brasil, esse movimento esteve mais presente na literatura, especificamente associado ao romance de 1930.

  • Na Itália, ele sobressaiu no cinema, apesar de ter também grande influência na literatura.

  • Na França, o movimento neorrealista foi quase inexistente e não teve muitos adeptos.

  • Em Portugal, a literatura neorrealista teve grande destaque, mas o cinema e o teatro foram prejudicados pela censura.

  • O termo “neorrealismo” também existe no contexto das relações internacionais como um conceito teórico que nada tem a ver com o movimento artístico.

Características do neorrealismo

O neorrealismo é um “novo realismo”, distinto, portanto, do realismo do século XIX, marcado pela objetividade. Os artistas do “novo realismo” do século XX produziram obras em que se percebe a parcialidade de seus autores. Assim, de forma genérica, o neorrealismo possui as seguintes características:

  • crítica sociopolítica;

  • ausência de idealizações;

  • linguagem simples;

  • caráter emotivo;

  • reflexão social;

  • protagonismo de pessoas do povo;

  • denúncia de injustiças sociais;

  • linguagem coloquial.

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Vale ressaltar que a literatura neorrealista mostra o homem do povo em sua condição de subalterno, sob a exploração das elites. Já o cinema neorrealista pode apresentar locações reais e atores não profissionais. Mas o que vai definir uma obra cinematográfica como neorrealista é a temática sociopolítica do século XX.

A pintura neorrealista tem a mesma perspectiva social, pois mostra a vida do homem comum em seu dia a dia. E, principalmente, retrata indivíduos marginalizados, de forma a registrar o momento histórico e social de uma nação, especificamente a realidade do século XX.

Neorrealismo brasileiro

O cinema novo possui características neorrealistas, pois sofreu influência do cinema neorrealista italiano. Apesar de ter como seu principal nome o cineasta Glauber Rocha (1939-1981), esse estilo cinematográfico, possivelmente, tem início, em 1955, com o lançamento de Rio, 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018).

Nossa literatura neorrealista surge dentro do movimento modernista. O romance de 1930 é também regionalista e mostra a realidade social de determinadas regiões do Brasil. Ele possui caráter determinista e, portanto, aponta o meio em que vivem os personagens como uma das principais causas para a sua situação de miséria. Algumas obras literárias neorrealistas brasileiras são:

  • O quinze (1930), de Rachel de Queiroz (1910-2003);

  • Os ratos (1935), de Dyonélio Machado (1895-1985);

  • Capitães da areia (1937), de Jorge Amado (1912-2001);

  • Vidas secas (1938), de Graciliano Ramos (1892-1953).

A pintura neorrealista brasileira também está inserida no modernismo, e seu maior nome é Candido Portinari (1903-1962), que, com sua tela Café (1935), teve grande influência sobre a arte neorrealista portuguesa. Segundo Luciene Lehmkuhl, os “compêndios de História da Arte de Portugal apontam Candido Portinari como o agente catalisador do neorrealismo, importante movimento artístico nas artes portuguesas na década de 1940”|1|. Outras obras de Portinari, com temática social, são:

  • O lavrador de café (1934);

  • Lavadeiras (1937);

  • Retirantes (1944).

Veja também: Cubismo — outro movimento artístico do século XX que se manifestou no modernismo brasileiro

Neorrealismo italiano

Anna Magnani, no filme “Roma, cidade aberta”, filme que deu início ao neorrealismo no cinema italiano.
Anna Magnani (1908-1973), no filme Roma, cidade aberta (1945), de Roberto Rossellini.

O cinema neorrealista italiano teve início em 1945, com o filme Roma, cidade aberta, do cineasta Roberto Rossellini (1906-1977). E influenciou a produção cinematográfica de outros países, como o Brasil.

A literatura neorrealista italiana faz oposição ao fascismo e possui elementos não só sociais, mas também existenciais. As principais obras literárias neorrealistas italianas são:

  • Conversa na Sicília (1941), de Elio Vittorini (1908-1966);

  • A trilha dos ninhos de aranha (1947), de Italo Calvino (1923-1985);

  • É isto um homem? (1947), de Primo Levi (1919-1987);

  • O cárcere (1948), de Cesare Pavese (1908-1950).

A pintura neorrealista italiana retratou o homem do campo, mas também imagens que remetem à resistência política. O principal artista desse movimento é Renato Guttuso (1911-1987), que produziu obras de cunho social, como:

  • Atirando no campo (1938);

  • Fuga do Etna (1940);

  • Massacre (1943);

  • Agricultores trabalhando (1950);

  • A discussão (1960).

Neorrealismo francês

A presença do neorrealismo no cinema francês foi tímida, de forma que o único destaque é o filme de René Clément (1913-1996) intitulado A batalha dos trilhos, de 1946.

O mesmo aconteceu com a literatura. Assim, o romance Antoine Bloyé, de 1933, associado a um “realismo socialista”, é o que mais se aproxima do neorrealismo.

Já a pintura neorrealista tem como principal nome André Fougeron (1913-1998) e sua obra Parisienses no mercado, de 1947.

Neorrealismo português

De caráter ideológico e social, a literatura neorrealista portuguesa tem início no final da década de 1930. Desse modo, o neorrealismo português é inaugurado, em 1939, com a publicação do romance Gaibéus, de Alves Redol (1911-1969), em que se verifica o realismo social, com foco no sujeito socialmente marginalizado. Algumas obras literárias portuguesas neorrealistas são:

  • Terra (1941), de Fernando Namora (1919-1989);

  • Sol de agosto (1941), de João José Cochofel (1919-1982);

  • Alcateia (1944), de Carlos de Oliveira (1921-1981);

  • Caminheiros (1949), de José Cardoso Pires (1925-1998);

  • Seara de vento (1958), de Manuel da Fonseca (1911-1993);

  • Uma abelha na chuva (1959), de Carlos de Oliveira.

Porém, o neorrealismo português precisou conviver com a censura salazarista, que atingiu, principalmente, o cinema, em que o neorrealismo não frutificou, e o teatro. Foram censuradas peças como Forja (1948), de Alves Redol; Dois compartimentos (1950), de Avelino Cunhal (1887-1966); e Condenados à vida (1964), de Luiz Francisco Rebello (1924-2011).

A pintura neorrealista portuguesa conta com obras como:

  • Apertado pela fome (1945), de Marcelino Vespeira (1925-2002);

  • Gadanheiro (1945), de Júlio Pomar (1926-2018);

  • Paisagem fabril (1951), de Maria Eugénia.

Neorrealismo e as relações internacionais

O termo “neorrealismo” também é utilizado no contexto das relações internacionais. No livro Teoria das relações internacionais, de 1979, Kenneth Waltz (1924-2013), um cientista político, lança o conceito de neorrealismo ou realismo estrutural. Assim, segundo Lara Martim Rodrigues Selis, mestre em Relações Internacionais:

[...], o neorrealismo pode ser entendido como um movimento ou um projeto coletivo definido por um conjunto de teorias com fundamentos comuns, sendo eles o estadocentrismo, o utilitarismo, o positivismo e o estruturalismo. A aceitação dessas premissas age não só sobre a natureza das questões levantadas, como no próprio desenvolvimento do discurso teórico|2|.

Está claro, portanto, que neorrealismo ou realismo estrutural é um conceito teórico da área de relações internacionais, que nada tem a ver com o movimento artístico neorrealista.

Notas

|1| LEHMKUHL, Luciene. O Café de Portinari na Exposição do Mundo Português — agente catalisador do neorrealismo. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v. 54, p. 1-20, 2021.

|2| SELIS, Lara Martim Rodrigues. Deslimites da razão: um estudo sobre a teoria neorrealista de Kenneth Waltz. 2011. 184 f. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais) – Instituto de Relações Internacionais, Universidade de Brasília, Brasília, 2011.

Crédito de imagem

[1] paulisson miura / Wikimedia Commons (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Neorrealismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/artes/neorrealismo.htm. Acesso em 30 de dezembro de 2024.

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