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Nove noites é um romance, de Bernardo Carvalho, pertencente à literatura contemporânea brasileira. Nessa obra ficcional, um homem tenta descobrir o motivo do suicídio de um personagem real — o antropólogo americano Buell Quain —, ocorrido no Brasil, em 1939, durante o Estado Novo.
Desse modo, o livro conta com dois narradores: Manoel Perna (amigo de Quain) e um narrador não identificado (possivelmente, o próprio autor). Manoel Perna relata as nove noites em que vivenciou uma forte amizade com o protagonista. Já o narrador não identificado, em 2001, relata a sua investigação acerca da vida e da morte do antropólogo.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo da obra Nove noites
- 2 - Videoaula sobre o livro Nove noites
- 3 - Análise da obra Nove noites
- 4 - Bernardo Carvalho
- 5 - Contexto histórico de Nove noites
Resumo da obra Nove noites
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É uma obra da literatura contemporânea brasileira.
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Seu autor é o escritor e jornalista Bernardo Carvalho.
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O livro parte de um fato: o suicídio do antropólogo Buell Quain.
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A morte de Buell Quain ocorre no Brasil, durante o Estado Novo.
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A obra apresenta dois narradores-personagens que narram em épocas distintas.
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O primeiro narrador é Manoel Perna, amigo do antropólogo morto.
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O segundo narrador não é identificado, mas se confunde com o autor.
Videoaula sobre o livro Nove noites
Análise da obra Nove noites
→ Personagens da obra Nove noites
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Alfred Métraux: antropólogo
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Andrew Parsons: fotógrafo
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Buell Quain: etnólogo americano
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Charles Wagley: antropólogo
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Diniz
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Eric P. Quain: pai de Buell Quain
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Fannie Dunn Quain: mãe de Buell Quain
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Heloísa Alberto Torres: diretora do Museu Nacional do Rio de Janeiro
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Ismael: indígena
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João: indígena
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José Maria: antropólogo
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Lévi-Strauss: antropólogo
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Luiz de Castro Faria: antropólogo
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Manoel Perna: primeiro narrador
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Maria Júlia Pourchet: assistente de Heloísa
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Marion Quain Kaiser: irmã de Buell Quain
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Mrs. Lowell
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Professor Pessoa
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Ruth Benedict: orientadora de Buell Quain
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Ruth Landes: antropóloga
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Schlomo Parsons: filho do fotógrafo
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Segundo narrador: possivelmente, o próprio autor
→ Tempo da obra Nove noites
Parte da narrativa está centrada no suicídio de Buell Quain, ocorrido em 2 de agosto de 1939, além dos fatos que precederam e dos anos que se seguiram após a morte do etnólogo. Já a outra parte tem início em 12 de maio de 2001, quando o narrador principal lê, pela primeira vez, o nome de Quain, em um artigo de jornal, e começa a buscar informações sobre ele.
→ Espaço da obra Nove noites
Os principais espaços da narrativa são as cidades de Carolina e de São Paulo.
→ Enredo da obra Nove noites
O romance parte de um fato, o suicídio do antropólogo americano Buell Quain, em 2 de agosto de 1939, com 27 anos de idade. O narrador — Manoel Perna — identifica-se como amigo do morto, que “se matou sem explicações aparentes, num ato intempestivo e de uma violência assustadora”.
O americano chegou, em março de 1939, à cidade de Carolina. No dia 9 de agosto, 20 índios entraram na cidade para comunicar a morte do doutor Quain e entregar ao narrador os pertences do morto. Esse narrador tem um destinatário para a sua narrativa, alguém que ele chama de “você”:
“Desde então eu o esperei, seja você quem for. Sabia que viria em busca do que era seu, a carta que ele lhe escrevera antes de se matar e que, por segurança, me desculpe, guardei comigo, desconfiado, já que não podia compreender o que ali estava escrito — embora suspeitasse — nem correr o risco de pedir ao professor Pessoa que me traduzisse aquelas linhas.”
Ele compõe essa narrativa seis anos após a morte de Quain, e guarda uma carta do morto, que espera, durante todos esses anos, que ela seja entregue a esse destinatário ainda não identificado. Após esse momento, a história dá um salto no tempo, vai para 12 de maio de 2001, quando um segundo narrador lê “o nome de Buell Quain pela primeira vez num artigo de jornal”.
Ele entra em contato com a autora do artigo. Além disso, faz pesquisas no Brasil e nos Estados Unidos, e passa a narrar a morte de Buell Quain. Antes de se matar, o etnólogo deixou sete cartas. Quatro delas endereçadas a:
“[…] sua orientadora, Ruth Benedict, da Universidade Columbia, em Nova York; a dona Heloísa Alberto Torres, diretora do Museu Nacional, no Rio de Janeiro; a Manoel Perna, um engenheiro de Carolina de quem se tornara amigo; e ao capitão Ângelo Sampaio, delegado de polícia da cidade.”
Assim, em retrospectiva, o narrador vai contando a história do protagonista antes de sua vinda para o Brasil. Dessa forma, ele tenta desvendar o mistério, isto é, o motivo do suicídio. Em uma das cartas que Quain escreveu antes de se matar, direcionada a Heloísa, ele afirma: “Estou morrendo de uma doença contagiosa. A senhora receberá esta carta depois da minha morte. A carta deve ser desinfetada”.
Então, o primeiro narrador diz a seu interlocutor:
“Isto é para quando você vier. Foram apenas nove noites. Se agi como se ignorasse os motivos que o levaram ao suicídio foi para evitar o inquérito. A polícia tomou conhecimento do caso e fez o inventário dos fatos e do espólio a pedido dos americanos. Não me julgue mal.”
Em suas pesquisas, o narrador do século XXI descobre que Quain se declarou casado ao chegar ao Brasil, em 1938, mas não havia referência ao nome do cônjuge. Em seguida, o antropólogo foi viver entre os índios, e, no dia de seu suicídio, ele estava em companhia dos índios João e Ismael.
O relato é cercado de mistérios. De acordo com o primeiro narrador, Quain afirmava que “era vigiado onde quer que estivesse”. Quando o segundo narrador encontra o filho do fotógrafo Andrew Parsons, a quem é direcionada a narrativa do primeiro narrador, um mistério é, possivelmente, solucionado.
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→ Narrador da obra Nove noites
A obra apresenta dois narradores-personagens pertencentes a épocas distintas. O primeiro — Manoel Perna — é amigo do protagonista e conviveu com ele durante nove noites. Já o segundo se confunde com o autor, pois busca descobrir o motivo do suicídio do americano Buell Quain. Dessa forma, a narração é alternada entre esses dois narradores.
→ Características da obra Nove noites
O livro de Bernardo Carvalho, pertencente à literatura contemporânea brasileira, é composto por 19 capítulos. É uma obra de ficção, mas apresenta características de um romance jornalístico, já que um dos narradores relata seus passos durante uma investigação em que busca encontrar o motivo do suicídio do protagonista.
Além disso, a obra recorre ao recurso do flashback, para voltar não só ao passado do americano Buell Quain, mas também ao próprio passado do narrador principal. Desse modo, a narrativa se torna fragmentada e misteriosa, além de, com base no suicídio do protagonista, refletir sobre questões sociopolíticas do Brasil e sobre a realidade dos indígenas brasileiros.
Bernardo Carvalho
Bernardo Carvalho nasceu em 5 de setembro de 1960, no Rio de Janeiro. Além de escritor, é jornalista, formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 1983. Logo depois, foi morar em São Paulo e trabalhou na Folha de S. Paulo a partir de 1986. Para esse jornal, atuou como correspondente internacional em Paris e Nova Iorque.
Em 1993, concluiu seu mestrado em cinema pela Universidade de São Paulo. Em 1995, publicou seu primeiro romance — Onze. Já em 2003, recebeu o Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira e o Jabuti, pela sua obra Nove noites, além de ganhar o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte, pelo seu livro Mongólia.
Contexto histórico de Nove noites
O Estado Novo surgiu com um golpe de estado em 10 de novembro de 1937, quando Getúlio Vargas (1882-1954) implantou um governo ditatorial. Assim, com características nazifascistas, o regime passou a combater, severamente, o comunismo no Brasil. Para isso, usou de violenta repressão policial.
Além disso, o regime se apoiava em forte propaganda nacionalista, condizente com os movimentos fascista e nazista, na Itália e Alemanha. Devido a isso, impôs restrições à imigração, para beneficiar os trabalhadores brasileiros. Também censurou todos os meios de comunicação por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).
O DIP era responsável, também, pela promoção do Estado Novo, de forma a criar uma imagem heroica do presidente Vargas, considerado o “pai dos pobres”. No entanto, por questões econômicas, o Brasil acabou apoiando os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e se opondo à Alemanha. Com o enfraquecimento do regime, o presidente foi deposto em 1945, chegando ao fim o Estado Novo.
Crédito das imagens
[1] Companhia das Letras (reprodução)
[2] Georges Seguin (Okki) / Commons
Por Warley Souza
Professor de Literatura