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A Alta Idade Média é um termo utilizado pelos historiadores para referir-se a um período específico da Idade Média que se estendeu do século V até o século X. Nele a Europa Ocidental passou por inúmeras transformações devido à desagregação do Império Romano do Ocidente e ao estabelecimento dos povos germânicos.
Durante a Idade Média, a Europa viu a estruturação do feudalismo, o surgimento do Império Carolíngio, a expansão do cristianismo e o fortalecimento da Igreja Católica. Fora do contexto europeu, surge do Islamismo e a expansão dos muçulmanos pelo norte da África e pela Península Ibérica.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Periodização
- 2 - Desagregação do Império Romano
- 3 - Características da Alta Idade Média
- 4 - Principais acontecimentos
- 5 - Império Carolíngio
- 6 - Império Bizantino
- 7 - Surgimento do Islamismo
- 8 - Fortalecimento da Igreja Católica
Periodização
A Idade Média é uma periodização criada pelos historiadores modernos e engloba todos os acontecimentos que se passaram entre 476 e 1453. Essa disposição considera, principalmente, os acontecimentos ocorridos na Europa Ocidental, e toda a Idade Média foi dividida em dois períodos, que são:
-
Alta Idade Média: século V ao século X;
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Baixa Idade Média: século XI ao século XV.
Desagregação do Império Romano
A Idade Média e todas as transformações observadas na Europa nesse período foram consequência da desagregação do Império Romano. O fim do Império Romano do Ocidente foi o resultado final de uma crise que se arrastou por séculos, pelo menos, desde os século III.
A partir do século III, o sistema que sustentava o Império Romano começou a colapsar por uma série de fatores. Primeiramente, há de considerar-se que o sistema escravista era o que afiançava a economia de Roma, e, a partir do século III, esse sistema entra em crise pelo fim das guerras de conquista do império.
O sistema escravista romano era dependente das guerras de conquista de Roma porque por meio delas é que se capturavam prisioneiros, enviados como escravos para o território. Esses escravos amparavam a economia romana, mas, com o fim das guerras de conquista, o número deles diminuiu e a economia romana colapsou. Além disso, havia a conturbada política romana.
No século III, a corrupção e a disputa pelo poder corroíam a sustentação de Roma e enfraqueciam o império. Tudo isso fez com que o território ficasse vulnerável e suas fronteiras suscetíveis a serem invadidas. Nesse momento aparecem os povos germânicos, que habitavam além das fronteiras do Império Romano e passaram a “pedir”, a partir do século III, passagem pelas terras de Roma.
Os historiadores debatem até hoje por que os povos germânicos começaram a migrar nesse período, e as especulações são inúmeras: procura por terras mais férteis, fuga de climas rigorosos, fuga de povos mais poderosos que já estavam em migração etc. Do século III em diante, dezenas de povos germânicos invadiram as terras de Roma.
Visigodos, ostrogodos, hérulos, alamanos, suevos, vândalos, hunos, saxões, francos, alanos, burgúndios, jutos e anglos são apenas alguns de muitos povos que assolaram as terras do Império Romano. As invasões traziam destruição que afetava mais a economia e ampliava a profundidade da crise romana.
O império tentou reestruturar-se por reformas: congelamento de preços, criação de uma nova capital (Constantinopla), divisão do império em Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente, entre outras. As reformas, no entanto, foram em vão, e o lado ocidental do império sucumbiu.
Em 476, Roma foi invadida pelos hérulos e o último imperador, Rômulo Augusto, foi destituído da sua função. Os territórios romanos na Europa Ocidental foram gradativamente ocupados pelos germânicos e assim se iniciou a mistura da cultura latina com a germânica, sendo essa uma das grandes marcas da Europa medieval.
Características da Alta Idade Média
A Alta Idade Média, como mencionado, foi um momento de transição. Nesse período, por meio das grandes transformações causadas pela desagregação do Império Romano, estruturou-se um dos grandes símbolos da Idade Média na Europa Ocidental: o feudalismo. Devido à desgregação do império, a Europa enfrentou um intenso processo de ruralização.
Para fugir da fome, da peste e da violência, os sobreviventes do fim do Império Romano passaram a reunir-se majoritariamente nas zonas rurais, onde ficavam as grandes propriedades de antigos patrícios. Lá eles tinham proteção e comida, mas eram obrigados a pagar isso com trabalho. Com o tempo, esses locais converteram-se nos feudos.
O comércio enfraqueceu-se a ponto de ser quase inexistente, e a circulação de moeda também se tornou raridade. O comércio fraco e a baixa circulação de moedas eram características do sistema feudal. Novos reinos formaram-se, e a mistura das culturas latina e germânica deu surgimento a novos idiomas, por exemplo. O português e o francês são dois casos da mistura de dialetos germânicos com o latim.
Os novos reinos estabelecidos tinham como grande líder um rei, mas o poder dele na época não era absoluto, como nos tempos do absolutismo. Na Idade Média, os reis não tinham, sob seu comando, grande número de soldados à disposição, por exemplo. A sustentação dessa figura na Alta Idade Média dava-se numa relação de dependência com outros nobres conhecida como vassalagem. Importante mencionar que a vassalagem só se desenvolveu concretamente por volta do século VIII.
No campo econômico, a Alta Idade Média ficou marcada pela retração econômica, em relação aos padrões estabelecidos no Império Romano. O trabalho era servil e a economia era dependente da produção agrícola, uma consequência da ruralização europeia. A produtividade, por sua vez, era baixa, mas foi aumentando conforme se aproximava o século X.
O artesanato também era fraco, uma vez que existia pouca mão de obra disponível e poucos consumidores. Além disso, a baixa produtividade acarretava na falta de matéria-prima para maior desenvolvimento dessa atividade, a qual, no entanto, sobrevivia, ainda que precariamente, nas cidades europeias.
Principais acontecimentos
A respeito dos principais acontecimentos da Alta Idade Média, levando em consideração a Europa (ocidental e oriental) e o Oriente Médio, do século V ao século X, podem ser destacados: a formação do Império Carolíngio, o crescimento do Império Bizantino, o surgimento e a expansão do Islamismo etc.
Império Carolíngio
Na Europa Ocidental ocupada pelos povos germânicos, o reino de maior sucesso foi o Reino dos Francos, que se estabeleceu na região da Gália e formou um grande império após a desagregação do Império Romano. O auge do domínio franco deu-se durante a dinastia carolíngia, estabelecida a partir do século VIII.
Os carolíngios ascenderam ao poder por meio de Pepino, o breve, que foi coroado rei ao tomar o poder no Reino dos Francos, em 751. Os antigos governantes eram os merovíngios, e essa dinastia foi destituída sob a alegação de que eles eram cruéis e maus governantes. A ascensão dos primeiros contou com o apoio do papa Estevão III.
O auge dos carolíngios aconteceu no reinado de Carlos Magno, de 768 a 814. Nesses anos, Carlos Magno expandiu consideravelmente o seu império, além de ter realizado grandes campanhas de cristianização. Uma das suas vitórias mais significativas ocorreu contra os lombardos, no norte da Península Itálica.
Depois da morte de Carlos Magno, o Império Carolíngio enfraqueceu-se e acabou fragmentado décadas depois.
Império Bizantino
Conhecemos o Império Bizantino como a continuação do Império Romano do Oriente depois que o lado ocidental deixou de existir no século V. O Império Bizantino existiu até o século XV, quando foi conquistado pelos otomanos, e teve seu auge no reinado de Justiniano, no século VI.
Tudo se iniciou em 330, quando a cidade de Constantinopla foi fundada pelos romanos, no local havia existido a Bizâncio, dos gregos. A Constantinopla desenvolveu-se na tradição grega, diferentemente de Roma, que o fez na tradição latina. Em 395, o Império Romano foi dividido e a porção oriental teve Constantinopla como capital.
A parte oriental sobreviveu pela sua prosperidade e por seu comércio pujante, e, até o século VI, conseguiu recuperar algumas das terras que um dia tinham feito parte do Império Romano do Ocidente. O rei Justiniano foi o grande re sponsável por essa expansão.
Durante o reinado de Justiniano, foi edificado um dos principais pontos da atual cidade de Istambul — a Hagia Sofia. Essa basílica foi construída como igreja ortodoxa, depois que os otomanos conquistaram a cidade, foi convertida em uma mesquita e atualmente é um museu. Após a morte de Justiniano, no entanto, as conquistas territoriais do Império Bizantino foram sendo perdidas.
Surgimento do Islamismo
O islamismo surgiu na Península Arábica no século VII, por obra de Muhammad (conhecido em português como Maomé). Na época, a península praticava uma religião politeísta e, por meio dele, a região foi sendo convertida ao islamismo. Na tradição islâmica, conta-se que Muhammad foi o grande profeta que recebeu a revelação de Allah.
Em 610, Allah teria aparecido para Muhammad pela primeira vez, e, a partir de 612, ele passou a realizar pregações da mensagem de Allah. Em decorrência, Muhammad começou a ser perseguido pelos grandes comerciantes de Meca (cidade que ele morava), pois sua mensagem religiosa era ruim para os negócios locais.
Em 622, ele fugiu para Medina (evento conhecido como Hégira) e de lá comandou uma guerra contra a cidade de Meca. Ao final, Muhammad conseguiu conquistar Meca e expandiu o islamismo por toda a Península Arábica. Seus sucessores difundiram essa religião pela Ásia, norte da África e chegaram até a Europa, no século VIII. A expansão muçulmana nesse continente foi barrada em 732, pelo franco Carlos Martel, durante a Batalha de Poitiers.
Acesse também: Ascenção e queda do Império Islâmico: os principais acontecimentos
Fortalecimento da Igreja Católica
A desagregação do Império Romano e o início da Alta Idade Média contribuíram para o crescimento e fortalecimento da Igreja Católica. Por meio do Édito de Tessalônica, ratificado pelo imperador Teodósio I, o catolicismo tornou-se a religião oficial do Império Romano e, de religião perseguida, passou a ser perseguidora da demais.
Via aparato de poder de Estado romano, o cristianismo pôde consolidar-se e enfraquecer as religiões pagãs. Com a crise final do Império Romano na Europa Ocidental, a Igreja pôde ocupar o vazio deixado pelo Estado e consolidar sua posição como instituição poderosa. Além de tudo, a cristianização dos povos germânicos serviu de ponto de encontro da cultura germânica com a latina.
Acesse também: Arianismo: uma das principais heresias combatidas pela Igreja na Alta Idade Média
O poder secular que existia em Roma foi transferido para as mãos da Igreja nesse período, e muitas cidades da Europa na Alta Idade Média eram governadas pelo bispo local. Gradativamente, as autoridades católicas conseguiram estruturar e expandir a Igreja combatendo heresias, normatizando a fé católica e estabelecendo formas de controle tanto dos padres quanto dos fiéis.
Por fim, a consolidação da Igreja deu-se pelas tentativas dela de conduzir o poder secular. Os reinos germânicos estabelecidos na Europa Ocidental, que tinham sido recentemente cristianizados, buscavam consolidar seu poder pelo respaldo das autoridades eclesiásticas. Isso deu riqueza e posses à Igreja.
Por fim, na definição do historiador Jacques Le Goff, os representantes da Igreja Católica transformaram-se nos “chefes polivalentes de um mundo desorganizado”. No âmbito social, a Igreja fornecia alimentos e esmolas aos mais necessitados; no militar, reforçou seu poder ao formar forças para combater hereges e germânicos. Por fim, ela associou o seu poder religioso ao político.|1|
Nota
|1| LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente medieval. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 37.
Créditos da imagem
[1] Vladimir Korostyshevskiy e Shutterstock
Por L.do Daniel Neves
Professor de História