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Guerra dos Mascates

A Guerra dos Mascates foi um conflito entre senhores de engenho de Olinda e comerciantes portugueses de Recife, na capitania de Pernambuco, entre os anos de 1710 e 1711.

Um mascate e seu escravo, de Henry Chamberlain, óleo sobre tela.
Um mascate e seu escravo, de Henry Chamberlain, óleo sobre tela.
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A Guerra dos Mascates foi um confronto entre comerciantes de Recife e senhores de engenho de Olinda, ambas cidades do estado do Pernambuco, então capitania de Pernambuco. Ocorreu entre os anos de 1710 e 1711, por causa da crise do açúcar brasileiro, que passou a encontrar concorrentes em outros lugares do mundo.

Essa guerra foi assim chamada porque os comerciantes portugueses de Recife eram designados pelos senhores de engenho de Olinda como mascates, de maneira pejorativa. Ao fim da guerra, muitos olindenses foram presos, Recife passou a ser a sede administrativa da capitania e um interventor, nomeado pela Coroa portuguesa, passou a governá-la.

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Tópicos deste artigo

Resumo sobre a Guerra dos Mascates

  • O contexto histórico da Guerra dos Mascates foi a crise internacional do açúcar, que encontrava concorrentes em outros lugares, como nas Antilhas. Somou-se a isso a expulsão dos holandeses de Olinda, que eram ligados aos senhores de engenho.

  • O motivo da Guerra dos Mascates foi a disputa entre senhores de engenho de Olinda e comerciantes portugueses de Recife. Quando os primeiros ficaram endividados, pediram empréstimos aos segundos; porém recifenses sonhavam em se emancipar, já que a Câmara continuava nas mãos dos senhores. Essa tentativa de emancipação foi o estopim da guerra.

  • A Guerra dos Mascates se deu com uma primeira vitória de Olinda para que, na sequência, perdesse batalhas para os recifenses, que a venceram no final.

  • “Mascate” diz respeito a comerciantes que vendem produtos variados de casa em casa. É também o nome de uma cidade árabe, de onde vieram muitos dos descendentes portugueses que eram chamados de mascates no Brasil de maneira pejorativa.

  • As principais consequências da Guerra dos Mascates foram a prisão de olindenses senhores de engenho e a emancipação de Recife, que passou a ser a sede administrativa da capitania.

Videoaula sobre a Guerra dos Mascates

Contexto histórico da Guerra dos Mascates

O contexto histórico da Guerra dos Mascates remete à invasão holandesa no Brasil, que aconteceu ao longo de todo o século XVII. O principal território dessa ocupação foi a capitania de Pernambuco, mas aquela também teve influência em outros locais espalhados por onde hoje chamamos de região Nordeste.

As primeiras aparições por aqui foram em 1630, e a expulsão, em 1654, em um desenlace diplomático envolvendo Holanda, Portugal e Espanha. Porém, não só diplomático, já que, em abril de 1648 e fevereiro de 1649, aconteceram as Batalhas dos Guararapes, conflito entre tropas do Império Português e o exército holandês.

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Essas batalhas fizeram parte de um confronto maior, chamado de Guerra da Restauração, entre Portugal e Espanha, envolvendo outras colônias, inclusive na África, e a retomada portuguesa das que tinham sido tomadas pela Holanda e que estavam sob o domínio da Espanha.

Quando expulsos, os holandeses, que investiam em cana-de-açúcar, deixaram aos senhores de engenho no Brasil uma situação em que os investimentos caíram, e a concorrência internacional com o mesmo produto, vindo das Antilhas, diminuiu seus lucros.

Esses senhores, apesar da diminuição do poder econômico, mantiveram o poder político, já que faziam parte das Câmaras de Olinda, local onde se concentravam e detinham o controle da região, até mesmo de Recife, que também era uma cidade importante economicamente, mas por outro motivo: o comércio, exercido pelos portugueses.

Existiam divergências entre as duas cidades e os dois setores, mas os senhores de engenho, nos períodos mais graves da crise do açúcar, chegaram a solicitar empréstimos dos comerciantes portugueses e, mais tarde, não conseguiram pagar. Com a queda do açúcar e, consequentemente, dos senhores de engenho e a expulsão holandesa, Olinda foi deixando de ser uma cidade tão importante como fora. Para contornar a situação, foram aumentados impostos de toda a capitania para tentar recuperar a cidade. Isso causou revolta dos comerciantes de Recife, que lutaram até terem direito de constituir uma Câmara própria, autônoma.

Os senhores de engenho, por sua vez, sentiram-se ameaçados com essa medida política, pois ela poderia afetá-los economicamente, fazendo-os pagar os empréstimos, por exemplo. Assim, foram iniciados os primeiros conflitos que vieram a culminar na Guerra dos Mascates.

 “Batalha dos Guararapes”, de Victor Meirelles, pintura óleo sobre tela exposta no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
Pouco antes da Guerra dos Mascates, houve a Batalha dos Guararapes, de portugueses versus holandeses, também em Pernambuco.

Motivos da Guerra dos Mascates

Os motivos para a Guerra dos Mascates foram:

  • a crise da cana-de-açúcar e a expulsão dos holandeses;

  • a rivalidade entre Olinda (senhores de engenho) e Recife (comerciantes portugueses);

  • os altos impostos cobrados, que revoltaram os recifenses e fizeram com que eles buscassem autonomia política.

Nesse contexto, os olindenses sentiram-se ameaçados, pois, tempos antes, tinham tomado empréstimos que, então, poderiam ser cobrados. Foram estabelecidas fronteiras bem nítidas entre as duas cidades (chamadas de vilas), e a Guerra dos Mascates começou a tomar forma em algumas primeiras batalhas, que culminariam nas grandes contendas de 1710 e 1711.

Leia também: Maurício de Nassau — o militar alemão enviado para administrar Pernambuco no contexto das invasões holandesas

Desfecho da Guerra dos Mascates

Nos primeiros confrontos, Olinda conseguiu vencer, invadindo e controlando Recife, para, logo na sequência, perderem-na. Isso porque os recifenses receberam reforços de outras capitanias.

Somente em 1711 a guerra teve fim, com a vinda de um governante, chamado Félix José de Mendonça, nomeado pela Coroa portuguesa, para apaziguar os conflitos, apoiando os comerciantes compatriotas e encarcerando senhores de engenho de Olinda.

Vista da cidade histórica de Olinda
A cidade de Olinda, no Pernambuco, foi palco da Guerra dos Mascates.

Por que os portugueses eram chamados de mascates?

“Mascate” era a forma pejorativa pela qual os senhores de engenho de Olinda chamavam os comerciantes portugueses de Recife, no contexto da rivalidade histórica, política e econômica entre as duas cidades, logo, entre os dois grupos.

A palavra “mascate”, substantivo masculino, segundo o dicionário Oxford Languages, significa: “mercador ambulante, vendedor que oferece mercadorias em domicílio; bufarinheiro”. A origem da palavra remete ao nome de uma cidade árabe, de onde vieram alguns desses comerciantes para o Brasil.

São geralmente chamados de mascates, ainda hoje (ou até pouquíssimo tempo), vendedores que vão de casa em casa e comercializam todo tipo de produtos. Muitos ciganos também foram assim denominados, sobretudo por serem nômades. Da mesma forma como acontecia com os portugueses de Recife, é uma maneira pejorativa de tratamento.

Consequências da Guerra dos Mascates

A principal consequência da Guerra dos Mascates, além da prisão de vários olindenses e da destruição da cidade e engenhos, foi a autonomia de Recife, que, pouco tempo depois, em 1712, tornou-se a capital (sede administrativa) da capitania de Recife.

Os olindenses, derrotados, utilizavam a retórica de que isso havia acontecido porque os portugueses tinham apoio da Coroa portuguesa, além de continuarem o discurso pejorativo quanto às suas atividades comerciais, enquanto eles seriam os verdadeiros nobres, senhores de terras.

Leia também: Quilombo dos Palmares — comunidade que cresceu durante a disputa travada entre holandeses e portugueses

Exercícios resolvidos sobre a Guerra dos Mascates

Questão 01

(UFPE) Olinda e Recife viveram momentos históricos diferentes desde os tempos da colonização portuguesa. Chegaram, inclusive, a ter conflitos que assinalavam divergências de interesse. Um deles, a Guerra dos Mascates, que

a) mostrou a decadência econômica de Olinda, que sofria com suas dívidas financeiras em crescimento.

b) afirmou a importância política do Recife, com seu rico porto, independente até das ordens vindas de Portugal.

c) consagrou o poderio da aristocracia olindense, com amplo domínio da produção do açúcar na colônia.

d) consolidou o governo de Castro e Caldas, aliado dos recifenses e líder político no conflito.

e) criou condições para a recuperação de Olinda, dificultando as atividades comerciais do Recife.

Resolução:

Letra A

Como vimos, após a expulsão dos holandeses, os senhores de engenho de Olinda entraram em grave crise econômica, também ocasionada pela concorrência com o açúcar das Antilhas. Assim, pediram empréstimos aos comerciantes de Recife.

Questão 02

(Uece) Considere as afirmações a seguir em relação à Guerra dos Mascates, ocorrida na capitania de Pernambuco entre 1710 e 1711:

I. A Guerra dos Mascates foi um conflito entre os comerciantes de Recife e os proprietários de terras de Olinda, no contexto em que os primeiros floresciam e os segundos mostravam claros sinais de decadência.

II. A vitória dos comerciantes de Recife possibilitou a emancipação de sua vila e o fim da sujeição política, administrativa e jurídica a Olinda.

III. O discurso dos olindenses derrotados era aquele que os afirmava como nobres homens da terra, destituídos de suas prerrogativas por estrangeiros e seus descendentes aventureiros.

Está correto o que se afirma em:

a) III apenas.

b) II e III apenas.

c) I apenas.

d) I, II e III.

Resolução:

Letra D

As três afirmativas estão corretas, incluindo o que foi a Guerra dos Mascates (I), quem a venceu (II) e o discurso dos derrotados (III).

 

Por Mariana de Oliveira Lopes Barbosa
Professora de História 

Escritor do artigo
Escrito por: Mariana de Oliveira Lopes Barbosa Doutora em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Graduada e Mestra em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG)

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

BARBOSA, Mariana de Oliveira Lopes. "Guerra dos Mascates"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/guerra-dos-mascates.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

De estudante para estudante


Videoaulas


Lista de exercícios


Exercício 1

Estabeleça a diferença política e econômica entre Recife e Olinda no século XVIII.

Exercício 2

(FUVEST) A chamada Guerra dos Mascates, ocorrida em Pernambuco, em 1710, deveu-se:

a) ao surgimento de um sentimento nativista brasileiro, em oposição aos colonizadores portugueses.

b) ao orgulho ferido dos habitantes da vila de Olinda, menosprezados pelos portugueses.

c) ao choque entre comerciantes portugueses do Recife e à aristocracia rural de Olinda pelo controle da mão de obra escrava.

d) ao choque entre comerciantes portugueses do Recife e a aristocracia rural de Olinda, cujas relações comerciais eram, respectivamente, de credores e devedores.

e) a uma disputa interna entre grupos de comerciantes, que eram chamados depreciativamente de mascates.