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Maurício de Nassau foi um conde e militar germânico que ficou conhecido por ter sido enviado pelos holandeses para administrar a região de Pernambuco durante o período que os holandeses dominaram a região. Maurício de Nassau ficou conhecido por ser um humanista que apreciava as ciências e as artes e tentou desenvolver ambas no Brasil.
Retornou para a Europa por decisão da Companhia das Índias Ocidentais, a empresa que o trouxe para cá, por conta do endividamento dessa e por desentendimentos com Nassau. Poucos anos depois que Maurício de Nassau deixou Recife, a região de Pernambuco foi reconquistada pelos portugueses em 1654.
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Origens de Maurício de Nassau
João Maurício de Nassau-Siegen (em alemão Johann Moritz von Nassau-Siegen) nasceu em 17 de junho de 1604, em Dillenburg, região que fazia parte do Sacro Império Romano-Germânico e que atualmente se localiza na Alemanha.
O pai de Maurício de Nassau chamava-se João VII, ele era o conde de Nassau-Siegen, e sua mãe era a duquesa Margarida de Schleswig-Holstein-Sonderburg. Maurício de Nassau foi o primeiro filho do segundo casamento de João VII de Nassau e, ao todo, seu pai teve 25 filhos.
Maurício de Nassau recebeu uma educação de acordo com o que era exigido para os jovens da aristocracia do século XVII. Até os dez anos, permaneceu na residência de sua família e foi educado por humanistas de pouca expressão da região de Siegen. Depois disso, acabou partindo para estudar longe de sua família.
Em 1614, Maurício de Nassau viajou até a casa de sua irmã mais velha, chamada Juliana de Nassau-Dillenburg. Juliana era casada com o conde Maurício de Hesse-Kassel e ambos moravam nas terras de Maurício em Kassel. O conde de Hesse-Kassel foi um importante tutor no processo de aprendizagem de Maurício de Nassau.
Depois de Kassel, Maurício de Nassau partiu para Basel, na Suíça, local onde estudou por um ano. Após isso, ele passou por outros locais da Europa, como Genebra, Estrasburgo e Zurique. Por fim, Maurício de Nassau estudou no Colegium Mauritianum, uma escola de grande reputação naquela região. Nesse colégio, estudou inúmeras disciplinas, como História, Música, Teologia etc. Vale mencionar que Maurício de Nassau foi criado em ambientes que professavam o calvinismo.
A pesquisadora Mariana de Campos Françozo afirma que Maurício de Nassau viveu em um modelo de corte que valorizava bastante a prática e o estudo de ciências e das artes e que isso foi fundamental para a formação do holandês. Anos depois, ele tentaria reproduzir esse modelo quando foi enviado para o Brasil|1|.
Com quinze anos, retornou para Siegen, pois seu pai não tinha condição de continuar financiando seus estudos (a família de Maurício de Nassau estava empobrecendo na época). De Siegen, ele mudou-se para Leeuwarden, na região dos Países Baixos (atual Holanda) para morar com seu tio, o conde Willem Lodewijk van Nassau.
Junto de seu tio, Maurício de Nassau iniciou sua carreira como militar e prosperou rapidamente nesse ofício. Foi promovido por diversas vezes e atuou em batalhas da Guerra dos Oitenta Anos (guerra travada entre Países Baixos e Espanha) e na Guerra dos Trinta Anos (guerra travada entre católicos e protestantes). Acabou conquistando prestígio e reconhecimento por ser vitorioso no Cerco de Schenkenschans, reconquistando essa cidade que estava nas mãos dos espanhóis até 1636.
O ano de 1636 acabou sendo marcante para Maurício de Nassau também de outra forma. Famoso e bem estabelecido em Haia, Maurício de Nassau recebeu a oferta da Companhia das Índias Ocidentais para ser o governador-geral da colônia dos holandeses na região de Pernambuco. Maurício de Nassau aceitou a oferta e assumiu o comando das ações políticas e militares na região invadida pelos holandeses.
Acesse também: Por que os holandeses decidiram invadir o Brasil no século XVII?
Vinda de Nassau ao Brasil
Maurício de Nassau chegou em Pernambuco em 23 de janeiro de 1637 e foi por acompanhado por cerca de 2700 soldados, mais funcionários da Companhia das Índias Ocidentais (WIC, na sigla em holandês). Nassau também fez questão de trazer artistas e cientistas com a intenção de fazer registros sobre o Brasil em pinturas e estudos científicos|2|.
Uma das primeiras medidas de Maurício de Nassau ao chegar no Brasil foi procurar reestruturar economicamente a região. Os holandeses tinham conquistado Pernambuco em 1630 e, até 1637, trataram de consolidar seu domínio na região. A guerra contra os portugueses tinha contribuído para enfraquecer economicamente a região.
As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling destacam que Nassau incentivou a venda de engenhos que tinham sido abandonados pelos portugueses, assim como retomou o tráfico de escravos e incentivou a instalação de manufaturas na região dominada pelos holandeses. Para evitar uma crise de abastecimento, incentivou o plantio de mandioca|3|.
Durante os sete anos que esteve à frente da colônia holandesa no Nordeste brasileiro, Nassau incentivou estudos científicos e registros artísticos sem precedentes na história colonial brasileira. Importantes registros sobre os habitantes da região e sobre a natureza foram feitos por holandeses e no campo das artes destacou-se a vinda de dois artistas: Frans Post e Albert Eckhout. Ambos legaram diversas obras que retratavam a geografia pernambucana, assim como registravam os habitantes locais (sejam indígenas ou descendentes de europeus), as frutas, as grandes cidades etc.
Maurício de Nassau transformou Recife na capital de Pernambuco e promoveu inúmeros investimentos para reforçar a urbanização de sua colônia. Promoveu a construção de um novo palácio para si em Recife e criou um jardim botânico na capital pernambucana. Nassau também ordenou a construção de alamedas arborizadas e de pontes que ligavam uma ilha no litoral recifense ao continente.
O governador-geral ainda ordenou a construção de um observatório astronômico e proibiu as pessoas de jogarem lixo nas ruas e nos açudes dentro da cidade e nos arredores de Recife. Além disso, ficou conhecido por ter um grande coleção de obras de artes, plantas e artefatos variados. Em seu jardim, em Recife, também eram criados animais exóticos.
A partir de 1640, uma série de atritos entre Nassau e a direção da WIC aconteceram e colocaram em xeque a sua gestão na colônia holandesa. Ele era criticado por realizar gastos excessivos (a WIC estava em dificuldades financeiras) e Nassau criticava a forma como a WIC tratava os colonos e não concordava com a redução dos efetivos holandeses na região.
Em 1643, uma ordem vinda diretamente da Holanda demitiu Nassau de sua função determinou que ele retornasse para a Europa. Em maio daquele ano, ele embarcou para retornar à Holanda, levando consigo uma grande coleção de animais empalhados, artefatos, obras de arte etc. O retorno de Nassau marcou também o início do declínio da colônia holandesa e, em 1654, os portugueses reconquistaram Pernambuco.
Acesse também: Como o Brasil foi retratado pelo pintor holandês Frans Post?
Últimos anos
De volta à Holanda, Maurício de Nassau voltou a viver em Haia. A casa de Nassau em Haia ficava ao lado do centro político da cidade e depois a converteu em uma galeria de artes que ficou conhecida como Mauritshuis (literalmente “casa de Maurício”).
Na Europa, Maurício de Nassau retomou funções de militar, lutou pelos holandeses novamente durante a Guerra dos Trinta Anos e no final de sua vida acabou conquistando a patente de marechal de campo. Assumiu a função de governador de uma região do Sacro Império chamada Cleves. Ele também governou as regiões de Mark e Ravensberg.
Por conta de seus serviços aos Sacro Império Romano-Germânico foi transformado em príncipe daquele reino pelo rei Fernando III. Maurício de Nassau viveu os últimos anos de sua vida em Cleves e lá morreu em 20 de dezembro de 1679.
Notas
|1| FRANÇOZO, Mariana de Campos. De Olinda a Olanda: Johan Maurits van Nassau e a circulação de objetos e saberes no Atlântico holandês (século XVII). Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Unicamp. Campinas, 2009, P.75.
|2| Idem, p. 77.
|3| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 60.
Por Daniel Neves
Professor de História