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Nas questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) relativas à parte de Ciências Humanas e suas Tecnologias, o que inclui disciplinas como História, Geografia, Sociologia e Filosofia, a linguagem visual é bastante explorada, isto é, há uma grande variedade de questões que são formuladas a partir de fotografias, pinturas e desenhos de cartunistas. O foco deste texto é essa última modalidade: os cartoons.
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O Enem e as “competências”
Para compreendermos o porquê de o Enem atribuir grande importância à linguagem visual, é necessário que saibamos que esse exame é orientado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, bem como pelas Orientações Educacionais Complementares e, em ambos documentos, há preocupação com as “competências” que os alunos devem desenvolver no processo de aprendizagem. Entre essas competências, está o “domínio de diferentes linguagens, desde idiomas até representações matemáticas e artísticas”. Essa competência, naturalmente, não está dissociada das outras quatro, que são: “compreender processos, sejam eles sociais, naturais, culturais ou tecnológicos; diagnosticar e enfrentar problemas reais, construir argumentações; e elaborar proposições solidárias.”
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A linguagem do cartoon
O termo “cartoon”, que tem vários significados possíveis, entre eles caricatura, esboço cômico, etc., apareceu na língua inglesa na virada do século XVIII para o século XIX, assim como na França, na mesma época, sob o nome de “charge”, que significa carga (no sentido de concentração de energia). O que o cartoon, por meio dos desenhos e diálogos, sempre procura oferecer ao leitor é uma leitura dos acontecimentos cotidianos de forma sagaz, inteligente, cômica e rápida. A linguagem do cartoon enquadra-se, na terminologia dos PCNs, como “representação artística”. Mas, ao contrário das outras formas de arte visual, o cartoon, como é bastante volátil, privilegia o traço e o enquadramento simples, tentando fazer o que, no meio jornalístico, denomina-se “punch”, isto é, o “soco”, o impacto sobre o leitor.
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Exemplos de questões
Tendo em vista essas características, vamos aos exemplos. Abaixo oferecemos duas questões: a primeira, questão 17 do caderno azul da prova do Enem de 2014, e a segunda, questão 40, também do caderno azul, mas do Enem de 2015.
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1ª questão:
Questão 17 do ENEM de 2014 (caderno azul)
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2ª questão:
Questão 40 do ENEM de 2015 (caderno azul)
Na primeira imagem, vemos o desenho de uma família sentada em uma calçada. O homem, com o texto da Constituição de 1988 em mãos, lê um item referente aos direitos sociais fundamentais dos cidadãos brasileiros: “Todo brasileiro tem direito à moradia”. A mulher, com uma criança no colo, replica: “Agora lê aquele pedaço bonito que fala de comida, saúde...”. Esse cartoon faz uma crítica à discrepância entre o que prevê a Carta Constitucional e a realidade de muitas famílias do país, que não tinham e ainda hoje não têm nem moradia, nem acesso à comida etc. É preciso estar atento à mensagem que o cartunista quer passar. A única alternativa que aponta para essa leitura é a B.
Já a segunda imagem traz três quadrinhos em sequência. No primeiro, um cadeirante observa ofertas de emprego em um jornal. No segundo, ele apressa-se para ir a algum lugar. No terceiro, ele chega à entrada de um local que oferece vagas para deficientes, mas frustra-se ao ver que o acesso ao local se dá por meio de uma escadaria. A ironia do cartoon, nesse caso, está no fato de a própria oferta de emprego destinada a contemplar o grupo dos deficientes físicos ser discriminadora. O cabeçalho da questão exige do aluno que ele aponte qual é o desafio que o tema da inclusão social impõe às democracias contemporâneas. A alternativa correta é a D, que aponta para a universalização dos direitos e o reconhecimento das diferenças.
Por Me. Cláudio Fernandes