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Tereza de Benguela

Tereza de Benguela foi uma mulher que liderou por cerca de 20 anos o Quilombo do Piolho, no Mato Grosso, no século XVIII. Transformou-se em um símbolo de resistência.

Pintura de 1911 representando Tereza de Benguela, mulher que liderou o Quilombo do Piolho ao lado de seu marido, José Piolho.
Tereza de Benguela liderou o Quilombo do Piolho por cerca de 20 anos.
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Tereza de Benguela foi uma mulher que liderou, por cerca de 20 anos, o Quilombo do Piolho. Inicialmente, ela foi rainha com seu marido, o rei José Piolho. Por volta de 1750, José Piolho foi assassinado e Tereza de Benguela passou a governar o quilombo sozinha. Durante esse período, o quilombo desfrutou de grande prosperidade e passou ileso às tentativas de ataque dos portugueses. Foi somente em 1770 que uma expedição portuguesa conseguiu conquistá-lo, assassinando nove quilombolas e fazendo com que muitos fugissem.

Não conhecemos o fim de Tereza, alguns historiadores afirmam que ela morreu nos combates em 1770, outros, que ela escapou do ataque e viveu mais alguns anos.

Em 2014, foi criado o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza é atualmente um símbolo da liderança da mulher negra feminina e da resistência dos povos escravizados no Brasil, além de uma referência de luta para todas as mulheres negras do Brasil contra a discriminação.

Leia também: Dandara dos Palmares — guerreira que liderou tropas na luta do Quilombo dos Palmares contra os portugueses

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Tereza de Benguela

  • Tereza de Benguela foi uma mulher que governou por cerca de 20 anos o Quilombo do Piolho, no Mato Grosso, no período colonial.
  • Pouco sabemos sobre sua origem. A teoria mais aceita é a de que ela nasceu em Benguela, em Angola.
  • Ela foi casada com José Piolho, rei do quilombo, e passou a governá-lo sozinha, após o falecimento de seu marido.
  • Também não se sabe sobre o fim de Tereza de Benguela. Alguns historiadores afirmam que ela morreu nos combates em 1770, outros, que ela escapou do ataque e viveu mais alguns anos.
  • As poucas fontes do período, todas elas escritas pelas autoridades portuguesas, retratam-na como uma pessoa com grande autoridade e que governava com violência.
  • Na atualidade, ela é um símbolo da liderança da mulher negra feminina e da resistência dos povos escravizados no Brasil.
  • Ela também é uma referência de luta para todas as mulheres negras do Brasil contra a discriminação.
  • A lei nº 12.987, de 2014, criou o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra como forma de relembrar a importância de mulheres negras do Brasil na luta contra a escravidão, o racismo e o machismo.

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Biografia de Tereza de Benguela

Existem poucos registros sobre Tereza de Benguela, o que leva a muitas incertezas sobre sua vida. A primeira delas é a data do seu nascimento, todavia, a maioria dos historiadores aponta que ela deve ter nascido nas primeiras décadas do século XVIII.

Outra dúvida é sobre o seu local de nascimento, se na África, se no Brasil. Alguns historiadores defendem que, pelo seu nome, “de Benguela”, ela teria nascido nessa região, pertencente ao Reino de Angola na época. Nomear escravizados com o nome do seu porto de partida da África era uma prática comum no período colonial.

As poucas fontes que citam Tereza no século XVIII são do período no qual ela já se encontrava no Quilombo do Piolho, sendo esposa do rei José Piolho. Tereza de Benguela foi rainha do Quilombo do Piolho junto de seu marido, mas passou a governar sozinha após ele ter sido assassinado.

Recorte da pintura “San Salvador”, de Rugendas, mostrando pessoas se divertindo em um quilombo.
Nos quilombos, os africanos e seus descendentes mantinham costumes e tradições africanas.

Também chamado de Quilombo do Quariterê, o Quilombo do Piolho se localizava na região do atual Mato Grosso, nas fronteiras entre as terras espanholas e portuguesas, estabelecidas pelo Tratado de Madri, de 1750. Sendo uma região de fronteira, era muito comum que escravizados fugidos penetrassem nas terras espanholas, escapando, assim, das autoridades portuguesas.

Em um ofício de 1754, o governador de Mato Grosso, Antônio Rolim de Moura Tavares, se queixou ao Conselho Ultramarino justamente sobre as fugas de escravos lusos para terras espanholas e afirmou que era necessária “uma convenção com a Espanha para que os escravos sejam devolvidos”.

Em 1770, o Quilombo do Piolho foi citado nos anais de Vila Bela:

Era esse quilombo muito antigo. Segundo as notícias que dão os negros foi fabricado [construído, estabelecido] pouco depois do descobrimento destas minas. Teve rei e rainha. O rei era falecido há anos. Por seu falecimento, ficou a rainha governando, com poder tão absoluto que, não só chegou a mandar enforcar, mas também quebrar pernas e braços e enterrar vivos aqueles que, arrependidos da fuga, queriam tornar para a casa de seus senhores.|1|

A fonte demostra que o quilombo já era antigo em 1770 e que, após a morte de José Piolho, que se acredita ter ocorrido por volta de 1750, a rainha centralizou o poder na comunidade. Essa rainha era justamente Tereza de Benguela, que governou contando com o auxílio de um conselho.

Só foi em 1770 que o quilombo foi desmantelado, quando tropas portuguesas atacaram e mataram nove quilombolas. Após o ataque, 18 orelhas cortadas foram mostradas pelas tropas às autoridades lusitanas como prova da conquista do quilombo, por isso, os historiadores inferem que nove deles foram assassinados.

Não se sabe o fim de Tereza de Benguela, alguns pesquisadores afirmam que ela morreu nesse ataque, outros, que ela conseguiu fugir e morreu, de forma misteriosa, anos depois. Anos após o ataque, um novo quilombo se formou na região, recebendo o mesmo nome, Quilombo do Piolho.

Importância de Tereza de Benguela para a história

Tereza de Benguela tem grande importância histórica por ser um símbolo da liderança negra feminina e da resistência dos povos escravizados no Brasil. Resgatar sua história é uma forma de mostrar que escravizados também fizeram história, lutaram por sua liberdade e foram fundamentais no processo que culminou com a abolição da escravidão.

Isso é importante porque a maior parte da história oficial do Brasil foi construída na segunda metade do século XIX e início do século XX, e ela excluiu diversos grupos sociais dos seus livros, como os escravos, os libertos, os indígenas e as mulheres.

Na história oficial, foi em 13 de maio de 1888 que a princesa Isabel, branca e da elite, libertou os negros da escravidão em um ato de “extrema bondade”, como se eles fossem submissos e aceitassem pacificamente a escravidão. Essa versão da história retira a importância da luta de escravizados e de outros grupos sociais pela liberdade e pela abolição.

Acesse também: Quais foram as principais formas de resistência dos escravos durante a escravidão no Brasil?

Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra

O Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra é comemorado anualmente no dia 25 de julho. A lei que criou essa data foi assinada, em 2 de junho de 2014, pela então presidente Dilma Rousseff. A data tem por objetivo relembrar a importância de mulheres negras do Brasil na luta contra a escravidão, o racismo e o machismo.

Homenagens à Tereza de Benguela

Existem três ruas no país que possuem o nome Tereza de Benguela, em Cacoal-RO, São Leopoldo-RS e Belo Horizonte-MG.

Em 2021, uma vereadora do município de São Paulo levou à plenária da Câmara dos Vereadores a proposta de lei que trocaria a estátua do bandeirante paulista Borba Gato pela estátua de Tereza de Benguela. A proposta não teve prosseguimento.

Em 2021, Mauricio de Souza fez uma ilustração homenageando Tereza de Benguela no projeto Donas da Rua. O objetivo é dar visibilidade e reforçar a importância do dia 25 de julho, Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

Nota

|1|ANAIS do Senado da Câmara do Cuiabá: 1719-1830. Transcrição e sua organização Yumiko Takamoto Suzuki. Cuiabá, MT: Entrelinhas / Arquivo Público de Mato Grosso, 2007.

Fontes

ANAIS do Senado da Câmara do Cuiabá: 1719-1830. Transcrição e sua organização Yumiko Takamoto Suzuki. Cuiabá, MT: Entrelinhas / Arquivo Público de Mato Grosso, 2007.

FIABINI, Adelmir. Mato, palhoça, pilão: o quilombo, da escravidão às comunidades remanescentes, 1532-2004. Editora Expressão Popular, São Paulo, 2004.

MOURA, Clóvis. Quilombos – Resistência ao escravismo. Editora Expressão Popular, São Paulo, 2020.

Escritor do artigo
Escrito por: Jair Messias Ferreira Junior Pós-graduado em História pela Unicamp e professor da Educação Básica há mais de 20 anos. Também é formador de professores e produtor de materiais didáticos há mais de 10 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

JUNIOR, Jair Messias Ferreira. "Tereza de Benguela"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia/tereza-de-benguela.htm. Acesso em 27 de abril de 2024.

De estudante para estudante


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