Notificações
Você não tem notificações no momento.
Whatsapp icon Whatsapp
Copy icon

Julieta Lanteri

Julieta Lanteri foi uma médica e ativista argentina que ficou conhecida por lutar pelos direitos das mulheres, como o sufrágio feminino. Morreu dois dias após ser atropelada.

Julieta Lanteri com cabelo preso em foto de 1920.
Julieta Lanteri foi uma médica e ativista argentina que lutou pelos direitos das mulheres. [1]
Imprimir
Texto:
A+
A-
Ouça o texto abaixo!

PUBLICIDADE

Julieta Lanteri foi uma importante ativista da Argentina, reconhecida como uma feminista que lutava pelos direitos das mulheres e das crianças, além de defender reformas sociais e melhorias nas condições laborais e de saúde da população argentina.

Ela era uma médica, especializada na psiquiatria, embora também se dedicasse à saúde das mulheres e das crianças. Ficou conhecida por ter sido a primeira mulher na América do Sul a votar e disputou diversas eleições pela União Feminista Nacional, mas não foi eleita em nenhuma ocasião. Morreu vítima de um atropelamento, em Buenos Aires.

Leia também: Rosa Luxemburgo — filósofa e militante comunista que denunciava a opressão das mulheres operárias

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Julieta Lanteri

  • Julieta Lanteri foi uma médica e ativista feminista argentina.

  • Ela nasceu na Itália, mas mudou-se para a Argentina quando era uma criança e adquiriu a nacionalidade argentina em 1911.

  • Formou-se em Farmacologia e Medicina, sendo a sexta mulher a formar-se em Medicina na Argentina.

  • Defendia o sufrágio feminino, a equiparação salarial e dos direitos civis entre homens e mulheres.

  • Morreu vítima de um atropelamento em 1932.

Origens de Julieta Lanteri

Giulia Maddalena Angela Lanteri, comumente conhecida como Julieta Lanteri, nasceu em Briga Marittima, uma cidade que fazia parte de Cuneo, província italiana, em 22 de março de 1873. Atualmente, a cidade não faz mais parte do território italiano, porque foi anexada pela França após a Segunda Guerra Mundial.

Ela era filha de Mattea Guido e Pierre-Antoine Lanteri, que juntos emigraram para a Argentina, em 1879. Julieta também tinha uma irmã que emigrou com sua família. Eles se estabeleceram na cidade de La Plata.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Formação de Julieta Lanteri e o preconceito enfrentado

Julieta Lanteri ficou marcada como uma das mulheres ativistas mais importantes da Argentina no século XX. Desde muito cedo, ela demonstrou sua vontade de superar preconceitos. A respeito de sua educação, Julieta Lanteri ficou conhecida por ter sido a primeira mulher a matricular-se no Colégio Nacional de La Plata.

Ela iniciou seus estudos em 1891, concluindo um curso em Farmacologia em 1898. Posteriormente, ela matriculou-se na Universidade de Buenos Aires, onde estudou Medicina, graduando-se em 1907. Nesse curso, ela encontrou inúmeros desafios, todos eles relacionados com o machismo da sociedade argentina e a rejeição de muitos pelo fato de uma mulher seguir a carreira médica.

Ela foi a sexta mulher na Argentina a obter uma graduação em Medicina. Os desafios encontrados por ela na universidade fizeram com que ela, junto de Cecilia Grierson, a primeira mulher a formar-se em Medicina na Argentina, fundasse a Associação de Universitárias Argentinas, cujo objetivo era fornecer apoio para que mulheres ingressassem e concluíssem os seus estudos universitários.

Veja também: Cristina Kirchner — a mulher que assumiu a presidência da Argentina duas vezes e quase foi morta em um atentado

Atuação profissional de Julieta Lanteri

Durante sua formação, ela atuou no Hospital San Roque e procurou especializar-se no tratamento de doenças mentais e de doenças que afetavam crianças e mulheres. Além disso, ao longo de sua carreira médica, buscou ampliar os seus conhecimentos em psiquiatria. Lanteri ainda tentou ingressar no ramo acadêmico para dar aulas de psiquiatria, mas teve sua aplicação negada.

A justificativa para isso foi o fato de ela ser uma mulher estrangeira. Depois que sua aplicação foi negada, ela procurou obter a nacionalidade argentina, o que também lhe foi negado, porque a nacionalidade argentina só era dada para mulheres estrangeiras se elas fossem casadas. Em 1910, ela casou-se com Alberto Renshaw e, no ano seguinte, obteve a nacionalidade argentina.

Ela se candidatou para ser professora-adjunta e novamente foi rejeitada, o que fez com que ela abandonasse suas pretensões acadêmicas. Apesar disso, Lanteri seguiu na carreira médica e, entre 1907 e 1920, fez sucessivas viagens à Europa para ampliar os seus conhecimentos médicos e levá-los à Argentina, implantando-os nos seus tratamentos e contribuindo para melhorar o atendimento e os precedimentos dos hospitais argentinos.

Ativismo de Julieta Lanteri

Além de ter sido uma médica dedicada, Julieta Lanteri atuou como ativista em defesa, sobretudo, dos direitos das mulheres, procurando obter a equiparação dos direitos entre mulheres e homens. Ela também defendia a realização de importantes reformas sociais na Argentina e era defensora do sufrágio feminino.

Em 1906, ela participou do Congresso Internacional do Pensamento Livre. Um ano antes, havia participado da fundação da Associação Argentina do Pensamento Livre. Em 1909, fundou a Liga Nacional Feminina do Pensamento Livre e em 1910, organizou o Primeiro Congresso Internacional de Mulheres.

Na questão do voto, ela também foi uma mulher inovadora, sendo anunciada por muitos pesquisadores como a primeira mulher a votar na América do Sul. Isso teria acontecido em 16 de julho de 1911, nas eleições para o Conselho Deliberativo de Buenos Aires (Legislativo da capital argentina).

Isso aconteceu porque Julieta Lanteri teria um bom conhecimento a respeito da lei que estabelecia o sufrágio na Argentina. Por meio da interpretação da lei, ela teria convencido o presidente do distrito eleitoral a permitir que ela votasse. Como a lei não mencionava a questão do gênero e como ela atendia a todos os requisitos, ela pôde votar.

Posteriormente, a lei foi alterada para exigir serviço militar obrigatório dos eleitores, um mecanismo para fazer com que apenas homens votassem. Essa questão também não foi ignorada por Julieta Lanteri, pois, anos depois, em 1929, ela tentou se alistar no Exército argentino, com a justificativa de que as mulheres também tinham direito de fazê-lo, já que o serviço militar era obrigatório a todos os cidadãos. O alistamento dela foi rejeitado.

Saiba mais: Voto feminino no Brasil — uma conquista da luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres

Julieta Lanteri na política

Depois de sua experiência de votar e de a lei eleitoral ser alterada para excluir as mulheres, Lanteri decidiu participar da política de outra forma: como candidata. Em 1918, ela participou da fundação da União Feminista Nacional, um partido político. De 1919 até 1930, se elegeu como deputada nas eleições argentinas.

As pautas defendidas por Julieta Lanteri incluíam propostas como:

  • sufrágio universal (direito de homens e mulheres de poder votar);

  • direitos iguais entre homens e mulheres no código civil argentino;

  • redução da jornada diária de trabalho;

  • pagamento igualitário entre homens e mulheres;

  • direito para as mulheres grávidas e puérperas;

  • ampliação das condições de segurança dos trabalhadores argentinos, em especial das mulheres e crianças;

  • acompanhamento profissional para jovens delinquentes;

  • reforma prisional;

  • abolição da pena de morte;

  • ampliação do acesso ao tratamento médico;

  • proibição da venda de bebidas alcoólicas.

No entanto, a plataforma de Julieta Lanteri não conquistou muitos votos, e ela não foi eleita em nenhuma eleição que disputou. Lembrando que ela disputou eleições em um contexto em que as mulheres não podiam votar, portanto todos os eleitores eram homens. As mulheres só receberam o direito a votar na Argentina em 1947.

Morte de Julieta Lanteri

A militância de Julieta Lanteri fez dela uma mulher proeminente na Argentina, em especial em Buenos Aires, onde residia. Em 23 de fevereiro de 1932, ela foi atropelada por um veículo quando caminhava pela avenida Roque Sáenz Peña e, após dois dias internada, faleceu aos 58 anos. O motorista do carro fugiu do local do acidente.

O funeral dela foi acompanhado por mais de 1000 pessoas, e não se sabe se o atropelamento dela foi fruto de um acidente ou um crime político motivado pela militância e atuação feminista de Lanteri. Supostamente, o motorista do carro era David Klapenbach, membro de uma organização paramilitar de direita. A investigação policial, no entanto, teria omitido o autor do crime.

Créditos da imagem

[1] Wikimedia Commons

 

Por Daniel Neves Silva
Professor de História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Julieta Lanteri"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia/julieta-lanteri.htm. Acesso em 27 de abril de 2024.

De estudante para estudante