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Nise da Silveira

Nise da Silveira foi uma psiquiatra brasileira que ficou marcada por ser a pioneira na defesa de tratamentos humanizados para os pacientes com transtornos mentais.

Estátua em homenagem a Nise da Silveira localizada em Maceió, cidade natal dessa importante médica psiquiatra. [1]
Estátua em homenagem a Nise da Silveira localizada em Maceió, cidade natal dessa importante médica psiquiatra. [1]
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Nise da Silveira foi uma importante psiquiatra brasileira, considerada pioneira na defesa de tratamentos humanizados para pacientes com transtornos mentais. Ela sempre se posicionou contra métodos violentos, como o eletrochoque, e introduziu tratamentos que colocavam os pacientes em contato com animais domésticos e expressões artísticas.

Ela se formou em Medicina na Bahia e especializou-se em psiquiatria no Rio de Janeiro. Foi presa na década de 1930 por conta do seu envolvimento com organizações de esquerda, como o Partido Comunista Brasileiro. Foi proposta a inclusão de Nise da Silveira no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria, o que foi vetado por Jair Bolsonaro.

Leia também: Oswaldo Cruz — médico que ficou marcado na história do Brasil pelo combate a epidemias

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Nise da Silveira

  • Nise da Silveira foi uma psiquiatra que legou uma grande contribuição para o tratamento dos transtornos mentais.

  • Ela criticava tratamentos violentos como o eletrochoque e a insulinoterapia.

  • Introduziu, em nosso país, tratamentos que colocavam os pacientes em contato com expressões artísticas e animais domésticos.

  • Foi presa na década de 1930 por envolvimento com organizações de esquerda, como o PCB.

  • Teve sua inscrição no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria vetada por Jair Bolsonaro.

Nascimento e juventude de Nise da Silveira

Nise Magalhães da Silveira nasceu em Maceió, capital de Alagoas, no dia 15 de fevereiro de 1905. Era filha de Faustino Magalhães, que trabalhava como professor de Matemática e jornalista, e de Maria Lidia da Silveira, uma pianista. Durante sua infância, estudou em uma das melhores escolas de sua cidade, o Colégio Santíssimo Sacramento, uma instituição de freiras.

Ela ingressou no ensino superior com apenas 16 anos e esteve matriculada na Faculdade de Medicina da Bahia entre os anos de 1921 e 1926. A jovem Nise foi a única mulher a graduar-se em Medicina em uma turma formada por 157 pessoas. O apoio da família foi fundamental para que ela conseguisse esse feito.

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Vida adulta e prisão de Nise da Silveira

Nise da Silveira graduou-se em 1926. No ano seguinte, decidiu mudar-se para o Rio de Janeiro, junto de seu marido, o sanitarista Mário Magalhães da Silveira, de quem era prima. Lá, eles procuraram dar os primeiros passos em suas carreiras na Medicina, além de buscarem sua estabilidade financeira.

A jovem Nise da Silveira estagiou um período em uma clínica de neurologia de um médico chamado Antônio Austregésilo. Essa clínica era vinculada à Faculdade de Medicina do Distrito Federal, e essa oportunidade permitiu que Nise se especializasse em psiquiatria. Em 1933, ela decidiu participar de um concurso que oferecia vagas para trabalhar no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospício Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro.

Ela foi aprovada no concurso e assumiu esse cargo público. Entretanto, sua carreira pública foi interrompida por conta do clima político repressivo que ganhou espaço no Brasil durante a década de 1930. Isso porque Nise da Silveira era uma intelectual que compactuava com ideais do comunismo e se engajava em atividades do Partido Comunista Brasileiro, o PCB.

O envolvimento dela foi limitado porque membros do partido não concordavam com a dedicação de Nise ao concurso para o qual ela foi aprovada. Ela também tecia críticas a algumas diretrizes do partido, e isso foi o suficiente para que ela fosse expulsa do PCB sob a acusação de ser trotskista (isto é, de seguir a proposta do Leon Trotsky para o socialismo), mas a acusação era falsa, pois Nise da Silveira nunca se identificou como tal.

O envolvimento da médica com o comunismo fez com que ela assinasse o Manifesto dos Trabalhadores Intelectuais ao Povo Brasileiro, documento que defendia a luta dos trabalhadores contra a opressão e a miséria e realizava elogios à União Soviética como o país capaz de combater as mazelas das sociedades capitalistas.

Esse documento foi assinado por Nise da Silveira e por outros intelectuais, como jornalistas e advogados. A assinatura desse documento fez com que Nise se transformasse em figura suspeita para a polícia. Depois da realização da Intentona Comunista, os signatários desse documentário passaram a ser investigados.

Considerada suspeita por sua postura e atividades e ligadas ao comunismo, Nise acabou presa em fevereiro de 1936, depois de ter sido denunciada por uma colega de trabalho por possuir livros de orientação marxista. Quando foi presa, a polícia encontrou vários panfletos e livros de ideologia marxista nos pertences de Nise.

Nise permaneceu presa até agosto de 1937, quando escapou da prisão e se retirou para o interior da Bahia. Em janeiro de 1938, o caso de Nise da Silveira foi levado a julgamento, mas ela não compareceu à sessão, pois permanecia escondida das autoridades. De qualquer forma, ela foi absolvida porque não havia processo instaurado contra ela.

Carreira de Nise da Silveira na psiquiatria

A carreira médica de Nise Silveira só foi retomada em 1944, momento em que a ditadura do Estado Novo enfraquecia no Brasil e em que anistia era concedida para aqueles que eram perseguidos politicamente. Nise passou a atuar no Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro, conhecido atualmente como Instituto Municipal Nise da Silveira, localizado no Rio de Janeiro.

A atuação de Nise da Silveira na psiquiatria ficou marcada pela sua oposição ferrenha a práticas tradicionais desse campo naquele período. Os tratamentos para problemas psiquiátricos utilizados na época eram invasivos e violentos, trazendo grande sofrimento para os pacientes — além do sofrimento causado pelos próprios transtornos.

Assim, Nise se colocou contra a utilização de tratamentos baseados em lobotomia, insulinoterapia e eletrochoque. O primeiro consistia em uma cirurgia no cérebro, o segundo era um tratamento à base de insulina que visava levar o paciente a um coma para desligar o cérebro dos problemas psíquicos e o terceiro era a utilização de sessões de choque como tratamento para a esquizofrenia.

A atuação profissional de Nise da Silveira se deu no sentido de combater esses (e outros) métodos tradicionais e violentos. Ela propunha tratamentos alternativos, mais humanizados, para garantir a recuperação dos pacientes. Um dos métodos alternativos propostos por Nise foi o uso da arte.

Ele incentivava seus pacientes a se engajarem na pintura e na modelagem como forma de tratar sua saúde mental. Os resultados desse trabalho ficam expostos no Museu de Imagens do Inconsciente, fundado por ela em 1952 com o propósito de trazer ao público as obras produzidas pelos internos.

Nise da Silveira também ficou marcada por utilizar cães e gatos no tratamento dos pacientes, permitindo que eles tivessem autonomia para cuidar dos animais. Ela os utilizava como forma de estabelecer um vínculo de afeto entre os pacientes e os bichos e obteve bons resultados com essa prática. Essas pessoas eram cuidadas por Nise na Casa das Palmeiras, fundada pela médica em 1956.

O trabalho dela foi considerado pioneiro no Brasil, permitindo um avanço significativo nos tratamentos oferecidos pela psiquiatria. Ela também foi precursora ao introduzir estudos sobre Carl Gustav Jung, um importante psiquiatra da Suíça, em nosso país. Dessa forma, ela contribuiu para a difusão dos métodos de tratamento propostos por Jung.

Leia também: Jung e a construção da psicologia analítica

Últimos anos de Nise da Silveira

Em 1975, Nise da Silveira se aposentou compulsoriamente — porque completou 70 anos de idade. Ela seguiu realizando estudos na área da psiquiatria, sendo que alguns deles foram publicados. Além disso, recebeu inúmeros prêmios pelo trabalho desenvolvido ao longo de sua vida e se tornou uma referência na psiquiatria brasileira, recebendo também reconhecimento internacional.

Nise da Silveira ficou com a saúde debilitada ao longo da década de 1990, devido à sua idade avançada, e faleceu em 30 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro, em consequência de uma insuficiência cardíaca.

Inclusão no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria

Em 2017, a deputada federal Jandira Feghali propôs a inclusão do nome de Nise da Silveira no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A proposta da deputada era uma forma de reconhecimento do papel pioneiro da psiquiatra na difusão de tratamentos mais humanizados em nosso país contra transtornos mentais.

O projeto de lei proposto por Feghali foi aprovado no plenário do Senado em abril de 2022, mas foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro em maio do mesmo ano. A presidência argumentou alegando que a proposta está em “contrariedade com o interesse público”.

Créditos da imagem:

[1] De Oliveira Franca e Shutterstock

 

Por Daniel Neves Silva
Professor de História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Nise da Silveira"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/nise-da-silveira.htm. Acesso em 27 de abril de 2024.

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