PUBLICIDADE
Judith Butler é uma filósofa estadunidense que formulou diversas teorias que mudaram os estudos de gênero, questionaram o feminismo e trouxeram a ela também muitos opositores. A pensadora traz, em uma de suas obras, a ideia de gênero performativo, ou seja, como somatório de repetições de comportamentos socialmente praticados ao longo da história. Uma de suas principais obras é Problema de gênero, lançada em 1990. É judia, lésbica, feminista — embora questione o feminismo —, antirracista, anti-lgbtfóbica e libertária.
Leia também: Hannah Arendt — uma filósofa mundialmente conhecida pelos estudos acerca dos regimes totalitários
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Judith Butler
- 2 - Videoaula sobre Judith Butler
- 3 - Biografia de Judith Butler
- 4 - Principais obras de Judith Butler
- 5 - Teorias de Judith Butler
- 6 - Frases de Judith Butler
Resumo sobre Judith Butler
-
Judith Butler é filósofa, lésbica, mãe e autora de diversas obras que revolucionaram os estudos de gênero.
-
Nasceu nos Estados Unidos, em 1956.
-
Sua principal obra é Problema de gênero, lançada em 1990.
-
Suas teorias dizem respeito principalmente à teoria da performatividade, ao feminismo e à teoria queer.
-
Suas visões políticas são feministas, antissionistas, antirracistas anti-lgbtfóbicas e libertárias.
Videoaula sobre Judith Butler
Biografia de Judith Butler
Judith Butler nasceu em 24 de fevereiro de 1956, em Cleveland, Ohio, nos Estados Unidos e é de origem judaica. Ela é casada com a cientista política Wendy Brown, com quem tem um filho, Isaac (para quem dedica alguns de seus livros).
Sua graduação em Filosofia foi feita na Universidade de Yale, de onde também obteve seu PhD, em 1984. Sua tese, cujo título era Sujeitos de desejo: reflexões hegelianas no franco do século XX (Subjects of Desire: Hegelian Reflections in Twentieth-Century Franc, em inglês), foi publicada posteriormente como livro.
No início de uma de suas obras mais famosas, Problema de gênero, conta que seu interesse pela Filosofia partiu de indagações e consequentes punições de sua criação judia, tendo sido aconselhada muitas vezes pelo rabino de seus pais e pela comunidade.
Judith Butler é professora de Literatura Comparada no Departamento de Retórica da Universidade da Califórnia, em Berkley, Califórnia. Lá, fundou o Consórcio Internacional de Programas em Teoria Crítica (International Consortium of Critical Theory Programs) e o Programa de Teoria Crítica (Critical Theory Program). Ela também é professora titular da cátedra Hannah Arendt na Escola Europeia de Pós-Graduação, em Saas Fee, Valais, na Suíça. [1]
Compõe várias organizações sociais, tais como:
-
Jewish Voice for Peace (Voz Judaica pela Paz);
-
Center for Constitutional Rights (Centro de Direitos Constitucionais);
-
American Philosophical Society (Sociedade Filosófica Americana).
Principais obras de Judith Butler
Butler tem uma vasta produção, tanto individual quanto em parcerias e como organizadora de coletâneas de artigos. Veja, a seguir, quais são as principais obras de Judith Butler e o que abordam.
→ Problemas de gênero, de Judith Butler
Publicado em 1990, um dos principais livros de Judith Butler é também um dos primeiros: Problemas de gênero: feminismo e a subversão da identidade é uma obra vanguardista que interroga os papéis de gênero habituais e o binarismo que baseiam a sociedade.
Butler exibe um ponto de vista não essencialista e sugere a concepção de performatividade de gênero. A obra influenciou e continua influenciando bastante não só academicamente, mas, sobretudo, no movimento feminista e LGBTQIA+; e também tem gerado comoção e manifestações de setores mais conservadoras da sociedade.
→ Corpos que importam, de Judith Butler
Publicado em 1993, Corpos que importam: os limites discursivos do “sexo” aprofunda a teoria em torno da performatividade de gênero, contrapondo críticas e equívocos nas interpretações de seu trabalho e esclarecendo que a performance não é algo isolado.
→ Desfazendo gênero, de Judith Butler
Publicado em 2004, a obra Desfazendo gênero é essencial para a compreensão do que significa gênero e o papel que ele exerce na vida social, abordando-o como uma construção social. Fala também da performance de gênero e das implicações políticas dele, bem como sobre feminismo, teoria queer e pós-estruturalismo. De fácil leitura, o livro aponta exemplos reais e didáticos da teoria no dia a dia.
→ Vida precária, de Judith Butler
Publicado em 2004 e saindo um pouco dos estudos sobre gênero, a obra Vida precária: o poder do luto e da violência, escrita depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, reflete sobre o que nos vincula eticamente à alteridade.
→ A força da não violência, de Judith Butler
Publicado em 2020, A força da não violência: um vínculo ético-político reflete sobre a forma como a não violência pode ser usada como meio para resistir ao sistema opressor, o que pode ser feito objetivando-se uma transformação política real. Pode ser ainda um meio de abordar outras questões sociais, como o racismo e o sexismo.
Acesse também: Virgínia Woolf — uma autora inglesa cujas obras apresentam caráter feminista
Teorias de Judith Butler
As visões políticas de Judith Butler são feministas, antissionistas, antirracistas anti-lgbtfóbicas e libertárias. Por esse motivo, em sua vasta produção acadêmica, Butler já escreveu sobre variados temas. Os principais são: teoria da performatividade; feminismo; e teoria queer.
→ Teoria da performatividade
De maneira geral, performatividade é pensada como uma linguagem e uma forma de ação social, ou seja, que traz efeito de mudança. Enquanto conceito isolado, pode ser visto em várias áreas, como economia, direito, linguística, história, filosofia e antropologia. Neste último caso, também nos estudos de gênero.
Quem primeiro conceituou performatividade foi o filósofo da linguagem John L. Austin, ao enfatizar a possibilidade da fala se transformar em ação. Há, para ele, a linguagem constatativa e a performativa. Uma é meramente descritiva, enquanto a outra pode ser expressa em promessas, juramentos, apostas, vereditos etc. Assim, as palavras tornam-se ações.
Influenciada, também, por Michel Foucault, foi com base na teoria de John L. Austin sobre perfomatividade que Butler formulou que o gênero é socialmente construído por meio de ações de discursos corriqueiros e também por meio de comunicação não verbal, que fazem parte de performances, visto que definem e sustentam identidades. Assim, a identidade de um indivíduo não é a raiz de suas ações, mas o contrário: suas falas, seus gestos, sua forma de ser no mundo existem porque lhe foram atribuídos e construídos socialmente.
Veja também: Byung-Chul Han — um filósofo sul-coreano que também foi influenciado por Michel Foucault
→ Feminismo
Judith Butler é feminista, mas, para ela, o feminismo é colocado como uma provocação. A mudança radical proposta por ela no início da década de 1990 nos estudos de gênero afetou todo o feminismo de maneira geral. Ela mesma é uma crítica de certos aspectos dele, principalmente daquele que ainda opera na lógica binária.
O feminismo, para Butler, só pode ser pensado em seu sentido expandido, e não meramente como uma defesa do “feminino” ou das “mulheres”, já que, para ela, a identidade de gênero é o tempo todo questionada.
Nesse contexto, a autora indaga, provocativamente, quem é sujeito do feminismo. Ao passo que a resposta rápida seria: a mulher, ela continua questionando: o que é uma mulher? O que a faz ser mulher? A partir disso, critica o feminismo que, para ela, é excludente quando não possui um sujeito determinado. Indica ainda, historicamente, a politização dos corpos, que, naturalmente não são “homens” ou “mulheres”, logo, também os gêneros “masculino” e “feminino” são artificiais, bem como os sexos identificados pelos genitais. Exemplifica com as mulheres transexuais para fechar sua crítica a certos feminismos.
Em artigo para a revista Cult, a também filósofa Márcia Tiburi aponta que:
[...] o feminismo de Butler é a defesa de uma desmontagem de todo tipo de identidade de gênero que oprime as singularidades humanas que não se encaixam, que não são “adequadas” ou “corretas” no cenário da bipolaridade no qual acostumamo-nos a entender as relações entre pessoas concretas.|1|
→ Teoria queer
A teoria queer é uma das linhas dos estudos de gênero. O livro de Butler Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade é um grande marco para essa teoria.
Queer, que pode ser traduzido como “esquisito”, não encontra correspondência exata na língua portuguesa, mas foi sempre tido como um termo pejorativo para tratar a população LGBTQIA+. Atualmente, queer é compreendido como quem não se identifica e não se rotula em nenhum gênero.
Butler problematiza gênero afirmando que a divisão binária entre masculino e feminino não é natural. Para isso, aporta-se em Michel Foucault e investiga as origens do gênero, rebatendo essencialistas, ou seja, aqueles que relacionam gênero a genital. Ela se baseia também na filosofia da linguagem.
Considerando sua crítica a quem é o sujeito do feminismo, na qual evidencia a problematização da divisão binária entre masculino e feminino, ela observa que o gênero não delibera a identidade, e, para tal, a filósofa baseia-se também em Simone de Beauvoir (“não se nasce mulher, torna-se”). Para Butler, o gênero é, assim, performativo.
Butler discute também com a psicanálise, especialmente com Freud, Lacan e Julia Kristeva, buscando a compreensão de como é engendrada a identidade masculina/feminina. Butler então propõe uma subversão da noção enrijecida de gênero amparada no binário feminino/masculino.
Ao falar sobre drag-queens, lésbicas “masculinizadas”, gays “afeminados” e sua relevância para o feminismo, Butler infere que existe uma imposição e construção social dos gêneros. Sendo assim, todos os que saem da noção tradicional de gênero são tidos como “desviantes”, logo, são queer.
Dessa forma, se o gênero é construído, quando uma drag-queen performa, por exemplo, não se trata de imitação, pois não se imita o que já é artificial. Por isso, Butler propõe a subversão pelo pastiche, apropriando-se de teoria literária que diz que pastichar é a imitar deliberadamente outros escritores e/ou artistas.
A ideia de gênero performativo parte da noção de gênero como somatório de repetições de comportamentos socialmente praticados ao longo da história e que são reencenados.
Frases de Judith Butler
-
“A possibilidade não é um luxo. Ela é tão crucial quanto o pão.”
-
“Sempre fui feminista. Isso significa que eu me oponho à discriminação das mulheres, a todas as formas de desigualdade baseadas no gênero, mas também significa que exijo uma política que leve em conta as restrições impostas pelo gênero ao desenvolvimento humano.”
-
“É crucial que resistamos às forças da censura que prejudicam a possibilidade de viver em uma democracia igualmente comprometida com a liberdade e a igualdade.”
-
“Eu também não acredito que a literatura possa nos ensinar a viver, mas as pessoas que têm dúvidas sobre como viver tendem a recorrer à literatura.”
-
“Seja qual for a liberdade pela qual lutamos, deve ser uma liberdade baseada na igualdade.”
-
“Nós nos perdemos no que lemos, apenas para retornar a nós mesmos transformados e parte de um mundo mais expansivo.”
-
“O jornalismo é um lugar de luta política... inevitavelmente.”
Nota
|1| TIBURI, Marcia. Judith Butler: Feminismo como provocação. Cult. Disponível aqui.
Créditos de imagem
[1] Wirestock Creators / Shutterstock
[2] NixZ / Shutterstock
Por Mariana de Oliveira Lopes Barbosa
Professora de História