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Revolução de Avis

A Revolução de Avis foi uma crise sucessória ocorrida em Portugal após a morte de Dom Fernando I. Marcou o fim da dinastia afonsina e a ascensão da dinastia de Avis ao poder.

Pintura de João I, Mestre de Avis, primeiro rei da dinastia de Avis, cuja ascensão ao trono está ligada à Revolução de Avis.
João I, Mestre de Avis, foi o primeiro rei da dinastia de Avis. Sua ascensão ao trono está ligada à Revolução de Avis.
Crédito da Imagem: Commons
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A Revolução de Avis ou Crise de 1383-1385 foi uma crise sucessória ocorrida após a morte do monarca português Dom Fernando I. Após seu falecimento dois grupos passaram a disputar o poder, o grupo que defendia o reinado de Leonor Teles, viúva do rei Fernando I, e as tropas que apoiaram João, Mestre de Avis, irmão bastardo de Fernando I.

Na época da Revolução de Avis a Europa enfrentava a Guerra dos Cem Anos, e as duas potências beligerantes, Inglaterra e França, tomaram partido na Revolução de Avis. Os ingleses apoiaram militarmente as tropas de João, Mestre de Avis. Já os franceses apoiaram as tropas de Leonor, que, de fato, eram lideradas pelo monarca castelhano.

A Revolução de Avis terminou com a vitória das tropas de João de Avis, garantindo a independência de Portugal em relação à Espanha e selando os laços políticos entre Portugal e Inglaterra.

Leia também: Portugal — detalhes sobre uma das mais antigas nações do continente europeu

Resumo sobre a Revolução de Avis

  • A Revolução de Avis ou Crise de 1383-1385 foi uma crise sucessória ocorrida após a morte do monarca português Dom Fernando I.
  • A Revolução de Avis marcou o fim da dinastia afonsina, também chamada de dinastia de Borgonha, e a ascensão da dinastia de Avis.
  • Com a morte de Fernando I, Leonor Teles passou a ser a regente de Portugal.
  • Leonor recebeu o apoio da nobreza portuguesa, dos castelhanos e da França.
  • Dom João I de Castela forneceu a maior parte das tropas que lutaram contra o Mestre de Avis.
  • A burguesia portuguesa, as camadas populares de Portugal e a Inglaterra defenderam o reinado de João, Mestre de Avis.
  • A Batalha de Aljubarrota marcou o fim da Revolução de Avis. Ela terminou com a derrota castelhana e com a coroação de João como João I de Portugal.
  • A Revolução de Avis aproximou o monarca da burguesia comercial portuguesa, criando as bases para a Expansão Marítima.
  • A revolução também consolidou a aliança entre portugueses e ingleses que perdura ainda hoje.

Tópicos deste artigo

Antecedentes históricos da Revolução de Avis

O processo de formação de Portugal ocorreu de forma concomitante com a Reconquista da Península Ibérica e também está atrelado aos acontecimentos da Espanha no período. Em 1096, Henrique de Borgonha recebeu terras do chamado “Condado Portucalense” do rei Afonso VI, de Leão e Castela.

Henrique recebeu o condado como prêmio por sua participação na Guerra De Reconquista e se casou com uma das filhas do rei Afonso VI. Sendo conde do Condado Portucalense, Henrique devia obediência ao rei espanhol.

Em 1112, Henrique de Borgonha faleceu, gerando uma disputa pelo trono entre sua esposa, a rainha Teresa de Leão, e seu filho, Dom Afonso Henriques. A rainha recebeu apoio de tropas de Leão e Afonso Henriques de tropas portuguesas.

Em 1127, tropas do rei de Leão invadiram Portugal, cercando Afonso Henriques e suas tropas no castelo de Guimarães. Afonso Henriques havia se recusado a prestar homenagem ao rei de Leão, Afonso VII. Após um longo cerco os espanhóis deixaram Portugal sem conseguir capturar Afonso Henriques.

Castelo de Guimarães na atualidade, um castelo que está ligado aos antecedentes históricos da Revolução de Avis.
Castelo de Guimarães na atualidade.

As tropas espanholas que apoiavam a rainha Teresa de Leão foram finalmente derrotadas na Batalha de Mamede, ocorrida em 1128.

Logo após a vitória, Afonso Henriques passou a negociar com a Igreja Católica, que arbitrava as disputas internacionais na época, a autonomia de Portugal em relação a Leão. Afonso Henriques e as tropas eram importantes para a Igreja Católica, pois eram fundamentais na luta contra os muçulmanos na Península Ibérica. Em 1139 os portugueses comandados por Afonso Henriques venceram os muçulmanos na Batalha de Ourique e, em seguida, Afonso se declarou Rex Portugallensis, ou rei dos portugueses.

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Em 5 de outubro de 1143 foi assinado o Tratado de Zamora, em que o rei Afonso VII de Leão reconheceu a independência de Portugal e a autoridade do seu primo, Afonso Henriques, como rei de Portugal. Para a maioria dos historiadores essa é a data oficial de fundação de Portugal. Em 1179, através de uma bula papal, o Vaticano reconheceu Portugal como um reino independente em relação a Leão. Afonso Henriques é considerado o primeiro rei de Portugal e deu origem à dinastia afonsina. Para saber mais detalhes sobre o processo de formação de Portugal, clique aqui.

Quais são as causas da Revolução de Avis?

A Revolução de Avis ocorreu em consequência de uma crise sucessória após a morte de Dom Fernando I, em 1383, que iniciou em Portugal um período chamado de “interregno”, ou seja, período no qual Portugal não teve um monarca reconhecido em todo território.

Acesse também: Afinal, quem foi Dom Fernando I?

Como aconteceu a Revolução de Avis?

Crise da Dinastia

Dom Fernando I se casou com Leonor Teles e com ela teve uma filha, chamada Beatriz, única herdeira do trono. Quando Dom Fernando I faleceu, em 1383, sua filha Beatriz tinha apenas 11 anos, e pela lei do período Beatriz só poderia assumir o trono aos 14 anos. Até lá, Leonor Teles, sua mãe, deveria governar como regente.

A rainha Leonor Teles era apoiada pelo Reino de Castela, do qual recebeu apoio militar para governar Portugal. Ela também tinha o apoio de grande parte da nobreza portuguesa. A proximidade da rainha regente com os espanhóis incomodou a burguesia lusitana e as camadas populares que viram a autonomia política de Portugal ameaçada. Assim, com a aproximação da rainha Leonor com o reino de Castela, parte da população portuguesa passou a apoiar a coroação de João, Mestre de Avis, como rei de Portugal. João era filho ilegítimo do rei Dom Pedro I de Portugal e de sua amante, Teresa Lourenço. Dessa forma ele era meio-irmão de Fernando I. A Inglaterra, adversária de Castela, apoiou esse grupo durante a Revolução de Avis.

Em 1384 a cidade de Lisboa foi cercada por terra e mar por tropas castelhanas. Lisboa era cercada por uma grande muralha que possuía dezenas de torres. Após quase seis meses de cerco as tropas castelhanas deixaram a região de Lisboa depois que uma doença matou parte dos seus soldados.

Em agosto de 1385 ocorreu uma batalha decisiva na Revolução de Avis, a Batalha de Aljubarrota, vencida pelos portugueses. Derrotados, os espanhóis deixaram as terras portuguesas. Em abril de 1385, João, Mestre de Avis, foi coroado como João I de Portugal. Sua ascensão marcou o início da dinastia de Avis, que perdurou até 1580, sendo a dinastia reinante em Portugal na época da chegada dos portugueses ao Brasil.

Batalha de Aljubarrota

Pintura representando a Batalha de Aljubarrota.
Pintura representando a Batalha de Aljubarrota. À esquerda, os exércitos espanhóis e franceses. À direita, as tropas portuguesas e inglesas.

A Batalha de Aljubarrota é considerada uma das batalhas mais importantes da história de Portugal, ocorrendo em 14 de agosto de 1385. Ela foi travada entre tropas de João, Mestre de Avis, que teve como comandante militar Dom Nuno Álvares Pereira e que recebeu apoio de tropas inglesas, e tropas de João I de Castela, que recebeu apoio da França e de Aragão.

Na batalha, os portugueses, em menor número, ocuparam uma posição defensiva no alto de uma colina. Fossos, paliçadas e zonas de estrepes foram construídos para a defesa lusitana. Os castelhanos chegaram ao local da batalha de manhã e iniciaram o ataque no final da tarde contra a cavalaria francesa. Parte da cavalaria francesa foi barrada pelo sistema defensivo criado pelos portugueses, e poucos cavaleiros entraram em combate com a linha de frente portuguesa, sendo todos eles mortos ou capturados pelos lusitanos.

Os castelhanos então passaram a atacar com sua força principal, subindo a colina em direção às tropas portuguesas e recebendo uma chuva de flechas dos arqueiros ingleses. As flechas desorganizaram as tropas castelhanas, e os portugueses partiram para o ataque, derrotando os castelhanos, que se retiraram do campo de batalha.

Veja também: Revolução Liberal do Porto — outra revolução que teve grande importância na história de Portugal

Qual a importância da Revolução de Avis?

A Revolução de Avis garantiu a independência de Portugal em relação à Espanha. Essa independência durou durante toda a dinastia de Avis, que se encerrou em 1580, com a União Ibérica.

A revolução também deu poderes para a burguesia comercial portuguesa, que passou a receber apoio do monarca. A chegada da dinastia de Avis ao poder também marcou uma mudança na política expansionista, voltando-se para o ultramar, iniciando oficialmente a Expansão Marítima portuguesa em 1415, com a Conquista de Ceuta.

João I de Portugal, o Mestre de Avis, governou por 48 anos, sendo ainda hoje o monarca que por mais tempo governou Portugal.

Quais foram as consequências da Revolução de Avis?

A primeira consequência da Revolução de Avis foi a aliança formada entre portugueses e ingleses, aliança que perdurou por todo o Período Moderno e Contemporâneo. Em 1386, portugueses e ingleses assinaram o Tratado de Windsor, que estabeleceu uma aliança política e militar entre os dois países, sendo considerado o tratado internacional em vigor mais antigo do mundo.

Outra consequência da Revolução de Avis foi a expansão marítima portuguesa. Desde o governo de João I a dinastia de Avis passou a financiar a expansão marítima, investindo na construção de portos, estaleiros e na conquista de novos territórios na África. Foi no governo de João I que Ceuta foi conquistada, além de Portugal ter descoberto as ilhas da Madeira, Açores e Canárias. Foi durante a dinastia de Avis que Vasco da Gama chegou à Índia, em 1498, e que a expedição de Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, em 1500.

Exercícios resolvidos sobre a Revolução de Avis

Questão 1

(PUC) A Revolução do Mestre de Avis (1383-1385) possibilitou a ascensão de uma nova dinastia em Portugal, com D. João I, estendendo-se até 1580, quando ocorreu a União Ibérica. A vitória de D. João I, o Mestre de Avis,

A) implicou uma reorientação da política expansionista portuguesa, ameaçando os interesses espanhóis na região de Flandres.

B) proporcionou o alargamento territorial com uma política agrária agressiva, visando à obtenção de recursos destinados à colonização ultramarina.

C) contou com o apoio da França contra a Inglaterra e a Espanha, países rivais de Portugal nas disputas ultramarinas.

D) deu uma nova orientação à política expansionista, voltando-se para o ultramar, sendo a Conquista de Ceuta seu marco inicial.

E) viabilizou a organização da expedição de Vasco da Gama, com o Erário Real destinando somas elevadas para o empreendimento.

Resolução:

Alternativa D.

A Revolução de Avis levou ao poder João, Mestre de Avis, que recebeu importante apoio da burguesia comercial portuguesa durante os anos de batalha. Durante seu reinado Portugal iniciou uma política expansionista, voltada para novas terras no continente africano. Ceuta é o marco inicial dessa expansão.

Questão 2

(Mackenzie) As razões do pioneirismo português na expansão marítima dos séculos XV e XVI foram:

A) a invasão da Península Ibérica pelos árabes e a conquista de Calicute pelos turcos.

B) a assinatura do Tratado de Tordesilhas por Portugal e pelos demais países europeus.

C) um Estado liberal centralizado, voltado para a acumulação de novos mercados consumidores.

D) as guerras religiosas, a descentralização política do Estado e o fortalecimento dos laços servis.

E) uma monarquia centralizada, interessada no comércio de especiarias.

Resolução:

Alternativa E.

O governo de João I, Mestre de Avis, foi marcado pelo expansionismo lusitano e pelo início da busca pelo comércio com o Oriente, via contorno do continente africano. O marco inicial dessa busca é 1415, quando Ceuta foi tomada pelos lusitanos; seu marco final é 1498, quando Vasco da Gama chega à Índia.

Fontes

FERNANDES, Fátima Regina. Portugal, 1385, quando um reino fez seu rei. Editora Paco, Jundiaí, 2018.

RAMOS, Rui. A história de Portugal. Editora Dom Quixote, São Geraldo, 2021.

Escritor do artigo
Escrito por: Jair Messias Ferreira Junior Pós-graduado em História pela Unicamp e professor da Educação Básica há mais de 20 anos. Também é formador de professores e produtor de materiais didáticos há mais de 10 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

JUNIOR, Jair Messias Ferreira. "Revolução de Avis"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/guerras/revolucao-de-avis.htm. Acesso em 15 de maio de 2024.

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