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O filósofo antigo Platão foi o primeiro a reconhecer a diferença entre uma realidade imanente e uma transcendente em sua Filosofia, pois ele estabeleceu a distinção entre duas realidades: uma realidade material e sensível e outra realidade imaterial e suprassensível.
Tópicos deste artigo
Imanência e Transcendência
Em geral, a imanência refere-se a algo que tem em si próprio o seu princípio e seu fim. A transcendência, por sua vez, faz referência a algo que possui um fim externo e superior a si mesmo. A imanência está ligada à realidade material, apreendida imediatamente pelos sentidos do corpo, e a transcendência está ligada à realidade imaterial, de uma natureza metafísica e puramente teórica e racional.
Desde Platão, a Filosofia tenta lidar com a diferenciação dos dois conceitos, visto que são antagônicos e que suscitam a discussão acerca da validade de cada um ou da superioridade de um deles.
Durante a Idade Média, a discussão acerca da validade de cada um desses conceitos dividiu o pensamento entre os filósofos neoplatônicos, como Agostinho, notadamente defensores da superioridade inquestionável da transcendência, e os filósofos aristotélicos, como Tomás de Aquino, que defendiam a validade da realidade imanente.
Contexto religioso
Essa discussão sobre a diferença entre os dois termos permeia a religião e pode ser mais bem visualizada no contexto religioso. Podemos classificar as duas, em relação ao pensamento religioso, da seguinte maneira:
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Imanência: relaciona-se às religiões panteístas, como as religiões africanas e o hinduísmo. Aqui, a concepção da ideia de Deus não se separa da matéria, sendo parte integrante e indissociável dela. Deus está em tudo, permeia tudo e não é uma entidade criadora, mas, sim, organizadora. Na Filosofia, o pensador holandês Baruch de Spinoza propôs uma ideia de Deus imanente e panteísta, resumida na máxima: Deus sive natura (“Deus, ou seja, a natureza”). Deus seria uma substância presente em tudo e que participa de tudo;
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Transcendência: a tradição judaico-cristã e islâmica está baseada na noção de um Deus transcendente, ou seja, uma entidade primeira e separada da matéria que foi responsável por criar a matéria. Para o cristianismo, porém, a figura de Jesus Cristo é a personificação imanente do Deus transcendente.
Crítica de Kant
Immanuel Kant, filósofo alemão iluminista, apontou a necessidade de uma crítica revisionista à metafísica feita até então e fez uma distinção entre aquilo que podemos conhecer (o que está presente no tempo e no espaço, portanto, é imanente) e aquilo que podemos apenas entender (aquilo que não está no tempo e no espaço, portanto, é transcendente). Porém, esse pensador adiciona ainda a noção do transcendental, referindo-se a ideias que podem ser obtidas a partir de uma primeira experiência empírica.
Embora sejam termos antagônicos, os dois complementam-se, já que a explicação de um torna-se mais clara com a explanação do outro. Vistos do ponto de vista da Religião ou da Filosofia, são conceitos de suma importância para fazer a distinção entre um conhecimento de ordem teórica e um conhecimento de ordem prática.
Por Francisco Porfírio
Graduado em Filosofia