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Anaxímenes de Mileto foi um filósofo pré-socrático que viveu na região da Jônia (atualmente território turco) entre os anos de 585 a.C. e 528 a.C. Devido à grande distância histórica, não se sabe muito sobre a vida de Anaxímenes. O pouco que se reconhece foi resgatado, na Modernidade, das obras fragmentadas deixadas por Aristóteles e Diógenes Laércio (antigo historiador da filosofia). Especula-se que o pensador escreveu uma obra em que falava da organização e da origem do Universo.
Por situar-se historicamente antes de Sócrates na filosofia grega antiga, Anaxímenes é considerado um pré-socrático. Assim como os outros filósofos do período, ele buscava compreender qual era a origem de todo o Universo por meio da observação da natureza.
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Pensamento de Anaxímenes
Anaxímenes foi discípulo do segundo filósofo da tradição ocidental, Anaximandro de Mileto. Entre os pré-socráticos, ficou conhecida a maneira de tentar entender racionalmente a origem e a organização do Universo pelo exercício de observação. Em busca do elemento que daria origem a tudo (arché), os filósofos antigos passaram a observar a constituição natural (physis) para compreendê-la de maneira racional e sem fabulações, como faziam as narrativas mitológicas.
Anaximandro, continuando o exercício filosófico e cosmológico deixado por seu mestre Tales, concluiu que não havia uma origem definida e perceptível para o Universo. Para o pensador, a origem estaria no que ele chamou de ápeiron, que seria algo infinito e indefinível. Seu discípulo, Anaxímenes, concordou com o mestre ao dizer que o elemento originário era infinito, mas discordou ao enunciar que havia uma definição para tal elemento. Segunda Anaxímenes, o elemento originário era o ar, que estava presente em tudo, transpassava tudo, soprava o movimento de todos os seres e era infinito.
Tudo o que existe, inanimado ou animado, era composto por ar para Anaxímenes, assim como Tales entendeu que a água estava na origem de tudo. “Anaxímenes de Mileto [...] declarou que o ar é o princípio das coisas que existem; pois é dele que provêm todas as coisas e é nele que de novo se dissolvem. Tal como a nossa alma, [...] que é ar, nos mantém unidos e nos governa, assim também o vento (ou sopro) e o ar cercam o mundo inteiro”|1|.
O ar, portanto, era o sopro que animava os seres vivos, que era indispensável para a vida e que fazia com que tudo se mantivesse no seu devido lugar.
Anaxímenes e Anaximandro
Anaximandro aprendeu a filosofia com seu mestre Tales. Este, após viagens e estudos de astronomia e matemática, concluiu que era necessário entender o Universo de forma racional, diferente do modo como as narrativas mitológicas tratavam-no. Anaximandro foi discípulo de Tales e, por sua vez, introduziu Anaxímenes no pensamento filosófico.
As ideias de Anaximandro e Anaxímenes assemelham-se em um certo ponto, ao conceberem o elemento original como algo infinito. Essa tradição filosófica que se dispersava entre os pensadores, buscando entre eles elementos que pudessem estar ligados à origem, foi passada adiante. Assim como em toda a história da filosofia, na Grécia pré-socrática também havia discordância entre os pensadores, sendo que, em partes, Anaxímenes divergiu a sua teoria da proposta por seu mestre. Apesar de conceber o elemento originário como algo infinito, ele pensou em algo que fosse muito bem definido: o ar.
Veja também: Leucipo e Demócrito – fundadores da teoria atomista
Escola jônica
Assim como Tales, Anaximandro e Heráclito, Anaxímenes está enquadrado na escola jônica — o agrupamento dos primeiros filósofos da tradição ocidental. O trabalho dos jônicos estava centrado na busca por um único elemento natural que fosse a causa de tudo, diferente dos pluralistas, que concebiam a origem do Universo como um misto de vários elementos.
A divisão das escolas de pensamento deu-se vários séculos após o surgimento da filosofia para que o estudo do período fosse facilitado. Há uma semelhança entre os jônicos em seu modo de conceber a filosofia no tocante à escolha dos elementos originários, mas Heráclito destoa-se do pensamento dessa escola por acrescentar à ordem natural cosmológica a ideia de que o movimento e a mudança constante seriam a base de todo o caos que daria origem ao Universo.
Leia também: Zenão, filósofo antigo que não acreditava em um elemento criador do Universo
Notas
|1| KIRK, G. S.; RAVEN, J. E.; SCHOEFIELD, M. Os filósofos pré-socráticos. 4. Ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1994, p. 161.
Por Francisco Porfírio
Professor de Filosofia