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Zenão

Zenão foi considerado o primeiro a utilizar a dialética e a aporia como instrumentos argumentativos, além de ter formulado uma série de paradoxos contra a ideia de movimento.

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Zenão iniciou o método dialético como modo de argumentação sistemática, apesar de ser Heráclito o primeiro a formular uma filosofia com estilo dialético. Grosso modo, a dialética é um movimento argumentativo que consiste na retirada de um novo pensamento ou argumento com base em dois argumentos ou teses contrários entre si. Discípulo de Parmênides, Zenão formou, junto ao seu mestre e a Melisso de Samos, a escola eleata ou escola eleática. Sua filosofia teve como característica principal a formulação de argumentos armados como aporias, ou seja, demonstração de paradoxos que não apresentam outra saída senão a concordância com eles.

Acesse também: Venha aprender sobre as Figuras de Pensamento, como a ironia e o paradoxo

Tópicos deste artigo

Vida

Zenão de Eleia, o mais importante discípulo de Parmênides.

Algumas fontes indicam que Zenão tenha nascido por volta de 490 a.C. No entanto, a seção sobre a vida do filósofo apresentada no volume Os pré-socráticos, da coleção Os Pensadores, cuja curadoria foi feita pelos maiores especialistas em filosofia antiga do Brasil na década de 1970, diz que Zenão nasceu entre 504 a.C. e 501 a.C. O filósofo morreu por volta de 430 a.C. ou 425 a.C., e foi o mais destacado discípulo de Parmênides, tendo desenvolvido aporias ou paradoxos para defender as ideias da escola eleática e de seu mestre.

Especula-se que a maturidade intelectual de Zenão tenha se dado por volta de 460 a.C., quando ele era aluno de Parmênides. Zenão era 40 anos mais jovem que o seu mestre e dedicou-se a aprofundar e defender as teorias desse. Ao contrário da maioria dos pré-socráticos, existe mais de uma obra completa encontrada de autoria do filósofo. As principais são: Contra os físicos, Explicação crítica de Empédocles, e Sobre a natureza.

Zenão participou ativamente da vida pública e política de sua cidade, Eleia. Legislou e ocupou cargos de destaque no funcionalismo público. A participação do filósofo na política foi tão intensa, que a sua morte deu-se por uma conspiração elaborada por Zenão contra o tirano Nearco. Zenão foi descoberto, preso e torturado para entregar os comparsas de sua conspiração.

Durante a sessão de tortura, o filósofo afirmou que queria ser tão dono de seu corpo como era de sua língua, não revelando nome algum. A intensidade da tortura aumentou, e o filósofo afirmou ao algoz que contaria os nomes, mas, em segredo, pedindo que o torturador aproximasse o ouvido de sua boca. Ao obter a aproximação, Zenão teria mordido a orelha do algoz. Após essa cena, Nearco ordenou a execução imediata de Zenão, que foi logo cumprida.

Veja também: Sócrates, um filósofo também condenado à morte por suas ideias

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Principais ideias

Zenão, como representante das ideias de Parmênides e da escola eleata, não desenvolve uma cosmologia do mesmo modo que os jônicos e pitagóricos fizeram-no, ou seja, pensando em uma origem assentada em uma espécie de monismo corporalista.

A palavra monismo (originada com base no vocábulo mono — único) remete a algo singular, único. Quando falamos em corporalismo, estamos indicando a existência de algo material, físico. As ideias que os primeiros pré-socráticos apresentaram sobre a origem de tudo podem ser chamadas de ideias monistas corporalistas porque associam a origem de tudo a um único elemento físico (a água para Parmênides, o ar para Anaxímenes, o fogo para Heráclito etc.). Para os eleáticos, a origem do Universo não é monista e nem corporalista, pois, do mesmo modo que Parmênides pensava não haver uma origem sustentada por um elemento, não haveria também, para Zenão, um elemento que teria dado origem a tudo.

Como foi descrito já na filosofia de Parmênides, a natureza era caracterizada justamente por sua imobilidade e suas essências eternas. Se não havia mudança, também não haveria surgimento, pois as coisas sempre foram e sempre seriam da mesma maneira, na concepção parmenidiana. A mudança e o movimento eram frutos das ilusões provocadas pelos sentidos.

As obras de Zenão não estão somente vinculadas às teorias da escola eleata, mas consistem em verdadeiras defesas das ideias de Parmênides. Zenão é considerado o primeiro dialético, por tratar a dialética, já iniciada antes por Heráclito, como um meio heurístico de defesa de ideias dentro de um sistema argumentativo. Ao defender que a natureza possui um fluxo perpétuo e inesgotável que faz com que tudo mude o tempo todo, Heráclito está dando o primeiro passo para a formulação de um modo dialético de fazer filosofia.

As ideias de dialética mais claras que temos na filosofia vêm das obras de Platão e Hegel. Platão aponta (e Hegel reforça no século XIX) que a dialética é um conjunto argumentativo, em que é apresentada uma ideia qualquer (tese). A essa ideia, deve ser apresentada uma ideia oposta (antítese). Com base em duas ideias contrárias, surge uma nova ideia, um novo conceito ou uma nova forma de pensar (síntese). Portanto, a dialética é um conjunto formado por tese, antítese e síntese dentro da argumentação filosófica.

Zenão é o primeiro a utilizar esse método de maneira mais regular, pois ele formula uma filosofia expressa por paradoxos. A palavra paradoxo, de origem grega, significa literalmente “contra opinião” ou opinião oposta. Em seus paradoxos, o filósofo eleático lança uma ideia de senso comum que aparentemente atesta a existência de movimento. Em seguida, ele faz um movimento argumentativo tentando provar que o movimento não existe. Assim, o que resulta é uma síntese das duas ideias anteriores, geralmente concordando com a antítese (de que o movimento é absurdo, sem sentido) apresentada por Zenão.

Saiba mais: O Ser para Parmênides

Paradoxos de Zenão

Para defender as ideias de Parmênides, Zenão teria escrito uma série de 40 aporias, das quais somente nove foram encontradas pelos historiadores modernos. As nove aporias (ou paradoxos) de Zenão, apesar de falar de assuntos diversos e apresentar meios distintos para concluir a ideia central, têm em comum o fato de serem teses contra o movimento. Todas elas concluem que não existe movimento e mudança no mundo, sendo isso uma confusão resultante da errônea percepção dos sentidos.

  • Paradoxo da dicotomia: um corpo quer mover-se entre o ponto A e B. Apesar de esforçar-se para tal, ele não conseguirá o feito, pois, entre os pontos A e B, há uma distância determinada que pode ser dividida ao meio infinitas vezes, resultando em uma infinita sequência de espaços que o objeto terá de percorrer.
  • Aquiles e a tartaruga: o paradoxo expõe a figura de Aquiles, o mais ágil corredor entre os heróis da mitologia grega, que, se colocado em uma corrida com uma tartaruga na qual fosse dada uma pequena vantagem à tartaruga, não teria chance de alcançar o animal. Isso se daria porque o movimento é uma ilusão, pois a cada instante há um espaço ocupado por um corpo separadamente e, na teoria de Zenão, não seria possível levar em consideração os instantes em sequência. Entre Aquiles e a tartaruga, haveria um espaço que jamais seria preenchido.
  • O arqueiro: nesse paradoxo, Zenão afirma que uma flecha atirada por um arqueiro jamais alcançaria o alvo. Isso se daria por dois motivos: entre o arqueiro e o alvo, existe um espaço que, na teoria matemática de Zenão, poderia ser dividido infinitas vezes, tendo infinitos espaços a serem percorridos. Também, pensar no movimento da flecha seria pensar, na verdade, que a cada instante ela ocupa um espaço, o que na visão de Zenão não configura movimento, mas sucessivos estados de repouso.

Os paradoxos de Zenão parecem tolos aos nossos olhos e facilmente refutáveis. No entanto, essa espécie de física rudimentar sobre o movimento dos corpos foi dificilmente refutada por Aristóteles, que parece não tratá-la como uma teoria tola. As teses sobre o movimento de Zenão somente foram de fato enterradas pela física newtoniana, que assume a ideia de movimento a partir de um referencial. Caso tenha maior interesse pelo tema, leia nosso texto: Paradoxos de Zenão.

Frases

“O que se move sempre está no mesmo lugar agora.”

“Se múltiplas são (as coisas), necessariamente são pequenas e grandes; pequenas a tal ponto que não têm grandeza, grandes a tal ponto que são infinitas.”

“Uma coisa que não tem grandeza e espessura, nem massa, não poderia existir. Pois, se fosse acrescentada a uma outra coisa, em nada a aumentaria; pois, se uma grandeza que nada é a uma outra acrescenta-se, nada pode ganhar em grandeza essa última. E assim o acrescentado nada seria.”       

Saiba mais: Conheça mais escolas filosóficas pré-socráticas como a escola eleata


Por Francisco Porfírio
Professor de Filosofia

Escritor do artigo
Escrito por: Francisco Porfírio Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PORFíRIO, Francisco. "Zenão"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/zenao.htm. Acesso em 20 de abril de 2024.

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