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É bastante recorrente, no âmbito do senso comum e dos meios de comunicação, o ato de entender a região Nordeste como o sinônimo da seca, da miséria e da pobreza. Isso cria um estereótipo sobre a população nordestina, estimulando preconceitos e discriminações de toda ordem e reduzindo toda pluralidade étnica dessa população a uma única representação.
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A região Nordeste é só seca?
Na verdade, essa construção é uma visão muito simplista da realidade. O que realmente existe, podemos dizer, é a existência de vários “nordestes” dentro de um mesmo Nordeste. Isso é representativo não somente das questões climáticas e naturais, mas também das relações culturais, econômicas, sociais e étnicas, representando uma elevada gama de riquezas naturais e humanas. Por isso, podemos dizer: Nordeste não é só seca, é diversidade.
Além disso, sempre houve um exagero sobre a dimensão do problema da seca no Nordeste. Sabemos que esse problema existe e que ele é uma das questões mais sérias a serem enfrentadas no Brasil. No entanto, em função da chamada “indústria das secas”, muitas vezes, há um dimensionamento exagerado tanto geograficamente quanto semanticamente do problema, a fim de se angariar mais recursos para a realização de investimentos em meios privados.
Assim, conforme podemos observar no mapa abaixo, o Nordeste não se resume apenas à região da seca, sendo essa apenas uma de suas inúmeras espacialidades. A região do Polígono das Secas, inúmeras vezes ampliada cartograficamente, transformou-se em uma verdadeira fantasia, uma vez que as regiões com reais problemas de deficit hídrico (quando os índices de evaporação são maiores que os índices de chuvas) não totalizam toda a área apontada.
Além do mais, conforme apontam alguns críticos da imagem que se construiu no Nordeste nos últimos anos, o problema da seca na região do semiárido nordestino não se resume apenas à falta de água, mas sim à ausência de interesse político. As acusações giram em torno de outra questão que se junta à indústria das secas: a indústria dos votos, uma vez que muitos políticos, em tese, beneficiam-se das condições de miséria de parte da população para lhe conceder bens materiais de breve duração – como cestas básicas – em troca de apoio eleitoral.
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Afinal, qual é a realidade da região Nordeste?
Para além dessa problemática, a região nordestina apresenta inúmeras belezas relacionadas aos seus recursos naturais e humanos. Não por acaso, essa região é um dos principais vetores turísticos do país, tanto pelas suas praias e suas paisagens quanto pelo seu patrimônio cultural, marcado pela riqueza de cidades históricas.
Economicamente falando, o Nordeste vem passando por uma linha de industrialização e ampliação de desenvolvimento. Por esse motivo, as taxas de emigração vêm diminuindo, muito em função do processo de desmetropolização no Brasil e da diminuição da concentração populacional atualmente em curso na região Sudeste do país.
Além disso, o Nordeste ainda conta com inúmeras paisagens naturais de rara beleza, como Fernando de Noronha, os Lençóis Maranhenses, vários pontos de cultura de Salvador, Jericoacoara, entre outros, o que revela a potencialidade econômica do turismo para a dinamização das perspectivas locais.
Por Rodolfo F. Alves Pena
Professor de Geografia