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Sincretismo é a fusão ou combinação de diferentes doutrinas, crenças, práticas ou elementos culturais, resultando em uma nova forma de expressão que mantém características das suas origens. Esse processo pode ocorrer em diversos contextos, incluindo o religioso, cultural, filosófico e linguístico. Plutarco é creditado como um dos primeiros a usar a palavra sincretismo para descrever a união dos povos cretenses.
O sincretismo pode ser do tipo social, cultural ou religioso. No Brasil, as religiões de matriz africana e algumas festividades populares são exemplos clássicos de sincretismo. Na Ásia, o hinduísmo e o budismo frequentemente se misturam, resultando em práticas religiosas que combinam elementos de ambas as tradições. Na América Central, especialmente as ilhas do Caribe, religiões como o vodu haitiano e a santeria cubana são exemplos de sincretismo entre religiões africanas e o catolicismo.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre sincretismo
- 2 - O que é sincretismo?
- 3 - Tipos de sincretismo
- 4 - Exemplos de sincretismo
- 5 - Sincretismo no Brasil
- 6 - Sincretismo no mundo
- 7 - Sincretismo ou multiculturalismo?
- 8 - Críticas ao sincretismo
Resumo sobre sincretismo
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O sincretismo é a síntese de vários elementos culturais, que dialogam e interagem entre si, mas buscam conservar suas identidades distintas.
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É um conceito sobretudo utilizado em antropologia ou em sociologia da religião.
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Pode ser do tipo cultural, religioso ou social e pode variar de acordo com as reações de dois ou mais grupos que entram em contato.
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No Brasil, teve início como uma forma de resistência, conservação, adaptação e assimilação cultural.
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A umbanda e o candomblé são religiões de matriz africana e exemplos clássicos de sincretismo.
O que é sincretismo?
O sincretismo designa a síntese de vários elementos culturais que dialogam e interagem entre si, mas buscam conservar suas identidades distintas. O termo deriva do grego, synkritismós (συγκρητισμός), e foi empregado por Plutarco (46-120) para designar uma reunião das ilhas de Creta contra um adversário comum. Essa origem etimológica já sugere a ideia de união e combinação de elementos distintos para formar um todo coeso.
Por extensão, sincretismo pode significar uma aliança circunstancial de duas partes opostas contra um inimigo em comum. Foi nesse sentido que Erasmo (1466-1536) aplicou essa palavra à frente formada por humanistas e luteranos. A partir do século XVII, o termo passou para o vocabulário religioso e filosófico, indicando a combinação, mais ou menos coerente e harmoniosa, de doutrinas religiosas ou de correntes filosóficas.
Atualmente, sincretismo é um conceito sobretudo utilizado em antropologia ou em sociologia da religião, principalmente para representar o contexto latino-americano, no qual o sincretismo encontrou um terreno propício para ser debatido.
Tipos de sincretismo
O sincretismo pode ser de tipo cultural, religioso ou social:
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O sincretismo religioso acontece com a fusão de elementos de diferentes religiões, resultando em novas práticas e crenças.
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O sincretismo cultural é condicionado pela integração de elementos culturais, como costumes, tradições e linguagens, de diferentes sociedades.
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O sincretismo social ocorre por meio da combinação de estruturas sociais e organizacionais de diferentes culturas, como a adaptação de sistemas de parentesco ou de governança.
Os tipos de sincretismo podem variar de acordo com as reações culturais de dois ou mais grupos quando entram em contato. Entre a recusa da cultura imposta e a sua assimilação completa, existem muitas possibilidades: aceitação e apropriação da outra cultura, mas igualmente reinterpretação, recusa parcial, triagem seletiva e contra-aculturação.
Veja também: Cultura afro-brasileira — heranças africanas na identidade nacional
Exemplos de sincretismo
Exemplos clássicos de sincretismo religioso incluem a umbanda no Brasil, que combina elementos do catolicismo, espiritismo e religiões africanas. Esse tipo de sincretismo pode ocorrer de forma espontânea ou ser resultado de imposições culturais e religiosas, como durante a colonização. No candomblé, os orixás africanos são sincretizados com santos católicos. Por exemplo, Iansã é associada a Santa Bárbara, e Oxalá a Jesus Cristo.
O Dia dos Mortos, celebrado no México, é um exemplo de sincretismo cultural, combinando tradições indígenas com o catolicismo trazido pelos colonizadores espanhóis. A festa honra os mortos com altares, oferendas e desfiles. O halloween é uma festa que combina elementos das tradições celtas, como o samhain, com influências cristãs e práticas modernas americanas.
Sincretismo no Brasil
O sincretismo das religiões de matriz africana no Brasil foi inicialmente uma estratégia de sobrevivência cultural das pessoas que desembarcaram aqui para trabalhar de graça para os fazendeiros e colonos. Os colonizadores proibiam e puniam a veneração dos deuses africanos, então o sincretismo permitia cultuá-los sob a aparência de um culto aos santos católicos.
Essa origem conflituosa e opressora não impediu que, posteriormente, os membros de cultos afro-brasileiros também se tornassem praticantes sinceros do catolicismo e bem integrados à sociedade. O caso brasileiro, segundo Roger Bastide, representa que pode ocorrer uma coexistência das crenças sem contradição nem conflito. A colonização e a escravidão, mesmo sendo forçadas e violentas, podem, no fim, resultar em uma reformulação cultural original, inventiva e positiva.
Na antropologia, o sincretismo é estudado como um fenômeno de interpenetração de civilizações, em que elementos culturais de diferentes origens se combinam e se transformam. Roger Bastide, um dos principais teóricos do sincretismo, destacou a importância de entender esse processo como uma forma de resistência, conservação, adaptação e assimilação cultural.
→ Sincretismo na umbanda
A umbanda é um exemplo claro de sincretismo religioso no Brasil. Essa religião surgiu no início do século XX e combina elementos do catolicismo, espiritismo kardecista, religiões africanas (como o candomblé) e tradições indígenas. Roger Bastide estudou a umbanda como um fenômeno de sincretismo que reflete a complexidade cultural brasileira, em que diferentes tradições religiosas coexistem e se influenciam mutuamente.
Na umbanda, santos católicos são frequentemente associados a orixás africanos, e práticas espirituais kardecistas são integradas a rituais de origem africana e indígena. Esse sincretismo permite uma grande flexibilidade e adaptabilidade, tornando a umbanda uma religião dinâmica e inclusiva.
→ Sincretismo no catolicismo
O catolicismo, ao longo de sua história, também incorporou elementos de outras religiões e culturas. No Brasil, o sincretismo católico é evidente na forma como santos católicos foram associados a divindades africanas e indígenas. Por exemplo, Nossa Senhora Aparecida é frequentemente sincretizada com Oxum, um orixá africano.
Roger Bastide observou que o sincretismo no catolicismo brasileiro não é apenas uma fusão superficial, mas uma integração profunda que permite a coexistência de diferentes sistemas de crenças.
No Rio de Janeiro, o Dia de São Jorge, celebrado em 23 de abril, é um feriado estadual e uma data de grande importância, tanto para católicos quanto para praticantes de candomblé e umbanda.
A celebração começa cedo, com a Alvorada de São Jorge, às 5 h, marcada por uma intensa queima de fogos, especialmente em torno da Igreja Matriz de São Jorge em Quintino, na Zona Norte da cidade. Essa igreja é conhecida por realizar a maior festa dedicada ao santo na América Latina, atraindo cerca de 1,5 milhão de fiéis.
As festividades incluem missas, cavalgadas, rodas de samba, e as tradicionais feijoadas. As escolas de samba também participam oferecendo feijoadas que celebram tanto São Jorge quanto Ogum. Essas feijoadas são momentos de confraternização e de anúncio de temas e equipes para o próximo Carnaval.
Sincretismo no mundo
O sincretismo não é um fenômeno exclusivo do Brasil. Ele ocorre em diversas partes do mundo. Na Ásia, o hinduísmo e o budismo frequentemente se misturam, resultando em práticas religiosas que combinam elementos de ambas as tradições. Na América Central, especialmente as ilhas do Caribe, religiões como o vodu haitiano e a santeria cubana são exemplos de sincretismo entre religiões africanas e o catolicismo.
O movimento rastafári, que surgiu na Jamaica, combina elementos do cristianismo, do judaísmo e das tradições africanas, promovendo a crença na divindade do imperador etíope Haile Selassie e a valorização da cultura africana.
Outro exemplo de sincretismo social é a cultura hip-hop. Surgida nos Estados Unidos, essa cultura é um exemplo de sincretismo social, combinando elementos de várias culturas urbanas, incluindo música, dança, arte de rua e moda, originando-se nas comunidades afro-americanas e latinas de Nova York.
A Índia é um país parecido com o Brasil em aspectos sincréticos. O sikhismo é um exemplo de sincretismo religioso, combinando elementos do hinduísmo e do islamismo. Outro exemplo é o movimento bhakti, que promove a devoção a Deus sem distinção de casta ou religião, influenciando tanto o hinduísmo quanto o islamismo.
Saiba mais: Qual é a origem da diversidade cultural do Brasil?
Sincretismo ou multiculturalismo?
Nos debates contemporâneos, o sincretismo é frequentemente comparado ao multiculturalismo. Ambos os conceitos envolvem a coexistência e interação de diferentes culturas, mas enquanto o sincretismo enfatiza a fusão e a criação de novas formas culturais, o multiculturalismo foca na gestão e governança da diversidade cultural.
Críticas ao sincretismo
O sincretismo não está isento de críticas. Alguns estudiosos argumentam que ele pode levar à diluição das tradições originais, resultando em expressões culturais superficiais. Outros veem o sincretismo como uma forma de apropriação cultural, em que elementos de uma cultura são adotados por outra sem o devido respeito e compreensão. Além disso, há debates sobre a autenticidade das tradições sincréticas e a tensão entre pureza e mistura cultural.
O argumento é que falar de mistura de culturas e de sincretismo pressuporia que tais culturas fossem “puras”, claramente separadas uma das outras e presas às suas respectivas tradições. Muitos antropólogos argumentam que, na realidade, não existem culturas puras, isso foi uma invenção da antropologia moderna, porque as culturas são essencialmente construções etnológicas e históricas.
Créditos das imagens
[1]Fred S. Pinheiro/ Shutterstock
[5]Pierre Laborde/ Shutterstock
Fontes
BASTIDE, R. As religiões africanas no Brasil: contribuição a uma sociologia das interpenetrações de civilizações. São Paulo: Pioneira, 1971.
BASTIDE, R. O candomblé da Bahia: rito nagô. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
BENJAMIN, R. A África está em nós: história e cultura afrobrasileira. 2.v. João Pessoa, PB: Editora Grafset, 2005.
RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2.ed. São Paulo: Compainha das Letras, 2007.
SOUZA, M. de M. e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2008.