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Consciência de classe é um complexo conceito desenvolvido no âmbito da sociologia e da teoria política marxista que ressoou na vasta produção filosófica, sociológica e política de inspiração marxista do século XX. Pensadores como Louis Althusser e Georg Lukács retomaram a consciência de classe como um modo necessário de se enxergar dentro de um sistema como o capitalismo. Apesar de nos referirmos à consciência de classe como um conceito, ela é para o filósofo e sociólogo alemão Karl Marx uma condição da existência do sujeito no capitalismo.
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Tópicos deste artigo
Classe em si
Classe aqui diz respeito à classe social, ou seja, as delimitações que ocorrem dentro do sistema capitalista para separar pessoas de diferentes níveis sociais. Apesar de haver possibilidade de mobilidade social no sistema capitalista, há uma evidente dificuldade nessa mobilidade, imposta em grande parte pela exploração e opressão de uma classe dominante sobre uma classe dominada.
Na teoria marxista, a classe dominante é a burguesia, detentora dos meios de produção. A classe dominada é o proletariado, que não tem os meios de produção, mas participa com a principal engrenagem para manter o sistema produtivo: a sua força de trabalho. Para saber mais sobre esse importante conceito sociológico, leia: classe social.
O que é consciência de classe?
A consciência de classe é, para Marx, uma situação a que o ser humano está naturalmente sujeito. É ela que permite a união, a coesão entre iguais e a luta por melhorias para a classe. O conceito de consciência de classe está no livro A Sagrada Família, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels, como algo que o trabalhador proletariado está destinado a tomar dentro do sistema capitalista, não sendo, portanto, uma meta, mas algo que necessária e naturalmente deve acontecer.
O proletariado é uma classe explorada dentro do sistema capitalista. A exploração é a marca que une os proletários em um único objetivo: acabar com o sistema de exploração vigente e implantar um novo sistema que destrua as divisões de classe social por meio de uma revolução. A consciência de classe é o modo de se fazer perceber que o proletariado tem a força, por serem eles, justamente, a principal engrenagem da máquina produtiva. Sem a consciência de classe, não há possibilidade de mudança da sociedade.
Para o filósofo alemão contemporâneo (considerado um dos principais marxistas do século XX) Georg Lukács, a consciência de classe é um fenômeno possível apenas no capitalismo. O sistema econômico feudal tinha um modo de produção completamente diferente do sistema capitalista. Além da quase inexistente mobilidade social, esse sistema operava uma confusão jurídica e religiosa com a produção e com os estamentos (as divisões) sociais.
Assim, não fazia sentido uma união das classes trabalhadoras contra os senhores feudais, até porque eram estes que tinham o poder militar e ofereciam proteção às outras classes. Somente o capitalismo evidenciou o modo como o proletariado é importante para o processo produtivo e colocou, justamente por essa importância, nas mãos do proletariado o poder de parar e se levantar contra o sistema.
Para exemplificarmos a consciência de classe, podemos recorrer a movimentos grevistas. Quando um setor de trabalhadores decide interromper suas atividades, se há união massiva dos trabalhadores, o sistema produtivo para. A consciência de classe é o que garante a união. Reconhecer-se enquanto trabalhador explorado e querer uma mudança é o fundamento da consciência de classe.
Tanto para Marx quanto para os marxistas posteriores, somente a classe proletária é revolucionária, assim, devemos esperar dela a consciência de classe. A grande burguesia também mantém a sua consciência (e o poder), pois isso é o melhor para eles.
A chamada pequena burguesia, no entanto, está no meio-termo entre as duas e é fraca e estéril. Ela ainda se encontra muito vinculada aos sistemas pré-capitalistas e tenta, na maioria das vezes, atuar como uma apaziguadora dos conflitos entre as duas outras classes. Nesse sentido, a mudança somente pode ser esperada do proletariado que toma a consciência da força e do poder de sua classe. A consciência de classe é, portanto, a consciência proletária.
Veja também: Status social – posição que cada grupo ocupa na dinâmica social
Luta de classes
A luta de classes fica bem evidenciada no momento seguinte à tomada de consciência de classe por parte dos trabalhadores. No entanto, para Karl Marx, ela não é exclusiva do capitalismo. Essa luta reflete o modo como a humanidade construiu a sua história por meio da produção, sempre evidenciando os conflitos de classes sociais distintas. Todavia, é no momento em que surge na grande massa proletária a consciência de classe que é possível se estabelecer uma luta de classes que assegure a revolução vitoriosa do proletariado.
Para Marx, assim que o proletariado percebe a sua força e começa a lutar contra o sistema de exploração e opressão, ele se une em torno de uma revolução que visa a derrubar o capitalismo e implantar um novo sistema econômico e político. Toda a propriedade privada é estatizada, e a velha mídia e o governo são afastados para dar lugar a novos sistemas. A Igreja, como parte fundamental para a manutenção da exploração no sistema capitalista, também deve ser afastada.
Há a necessidade de um governo forte em prol do proletariado que elimine gradativamente a propriedade e, portanto, a burguesia. O governo forte deve agir de maneira ditatorial no início (ditadura do proletariado) e, no momento em que não existir mais propriedade privada e nem classe social, deve ceder lugar a um governo comunista.
Crédito da imagem
[1] NG-Spacetime / Shutterstock
Por Francisco Porfírio
Professor de Sociologia