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Classe social

O conceito de classe social está presente em boa parte dos trabalhos sociológicos e refere-se à divisão e desigualdade econômica entre povos nas sociedades capitalistas pós-industriais.

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Classe social é um conceito da Sociologia que se refere à divisão socioeconômica do mundo em um sistema capitalista. Há uma hierarquia de grupos sociais, as classes, que possuem diferentes importâncias e ocupam diferentes cargos dentro da divisão social do trabalho. Chamamos de estratificação social o fenômeno que permite essa divisão.

Veja também: Desigualdade social: problema observado pela análise das classes sociais

Tópicos deste artigo

Classe social para a Sociologia

O conceito de classe social passou a ganhar destaque na Sociologia ainda em seu período clássico (no século XIX, período em que a Sociologia foi criada). O filósofo, sociólogo e economista alemão Karl Marx dedicou-se a estudar o fenômeno das classes sociais e a interação entre elas.

Com o avanço dos estudos sociológicos, novas classificações passaram a denominar o conceito de classe social, e vários outros sociólogos, historiadores, geógrafos e economistas dedicaram-se a estudar esse fenômeno. Podemos citar como exemplos o sociólogo clássico, professor, jurista e escritor francês Émile Durkheim, o economista inglês John Maynard Keynes e o geógrafo britânico de inspiração marxista David Harvey, autor do livro Condição Pós-Moderna |1|.

Para os sociólogos em geral, a estratificação social (fenômeno social que gera a divisão de classes) é uma consequência do capitalismo e da intensa divisão social do trabalho produzida por esse sistema. Para Durkheim, o trabalho em sociedades capitalistas pós-industriais é diversificado e entoado por diversas pessoas em diferentes postos de trabalho.

Não é possível, nesse sistema dividido, haver autossuficiência de um indivíduo, pois como o trabalho é dividido, diversas pessoas exercem diversas atividades diferentes, gerando um sistema que cria as classes sociais ao estabelecer diferentes valorizações e diferente níveis de importância das atividades exercidas.

O sociólogo francês Émile Durkheim, autor do livro A divisão Social do Trabalho.
O sociólogo francês Émile Durkheim, autor do livro A divisão Social do Trabalho.

Temos, como exemplo, o faxineiro de uma indústria, o operário de uma indústria, o engenheiro de produção de uma indústria, o dono da indústria e o médico que pode cuidar da saúde de todas as pessoas descritas no exemplo. Essas pessoas têm diferentes níveis de instrução e diferentes tipos de trabalho, o que, na teoria das classes sociais, sob o viés capitalista de Durkheim, justifica o fato de cada um ter uma diferente posição hierárquica e uma diferente remuneração.

Obviamente, o faxineiro da indústria é o que ganharia menos no sistema por desenvolver um trabalho que requer pouca instrução. O operário ganharia um pouco mais, mas menos que o engenheiro e o médico, que têm formação superior e estão na categoria de prestadores de serviços. Já o dono da indústria seria o que possuiria maior remuneração, mesmo sem ter, muitas vezes, um nível de escolaridade compatível ou superior à escolaridade do engenheiro e do médico. Isso porque ele é o dono dos meios de produção e tem direito ao lucro obtido pela produção de sua indústria.

Para Weber, há um status relacionado às classes sociais que não é medido somente pela divisão do trabalho, mas pelo tipo de trabalho (ocupação), pelo consumo e pelo estilo de vida. Nesse sentido, nas sociedades capitalistas que surgiram, sobretudo a partir do século XX (sociedades em que o consumo é hipervalorizado), o que você tem, compra e exibe é um demonstrativo da classe a que você pertence e do prestígio social que você tem.

Leia também: Cultura brasileira: da diversidade à desigualdade

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Classe social para Karl Marx

O filósofo e sociólogo alemão Karl Marx foi um crítico da divisão de classes sociais. Para o pensador, a divisão social do trabalho nada mais é que a exploração do trabalhador por parte da classe burguesa. Só existem, segundo Marx, duas classes sociais: a burguesia (donos dos meios de produção) e o proletariado (trabalhadores explorados pela burguesia).

Na ótica marxista, a burguesia estaria usurpando a força de trabalho das pessoas por meio da exploração de sua miséria para conseguir fazer com que esses trabalhadores gerem lucros para o próprio burguês. Dessa maneira, não haveria (e realmente não há) mobilidade social quase nenhuma, pois as pessoas eram exploradas e não tinham condições de caminhar entre os estratos sociais e ascender socialmente, sendo exploradas pela burguesia por toda a sua vida. Toda essa dinâmica capitalista que deu origem à teoria marxista, também conhecida como materialismo histórico dialético ou socialismo científico, foi detalhadamente descrita no livro O Capital.

Karl Marx foi um dos pilares para os estudos sociológicos.
Karl Marx foi um dos pilares para os estudos sociológicos.

A exploração das classes era, para Marx, elemento suficiente para justificar uma revolta do proletariado contra a burguesia. Essa revolta, chamada de revolução do proletariado, foi defendida no livro Manifesto do Partido Comunista, escrito por Marx e seu parceiro intelectual, o também filósofo, jornalista e escritor Friedrich Engels. Para os pensadores, após a revolução, haveria a instauração de uma ditadura do proletariado, que tomaria os meios de produção (as fábricas e a propriedade privada) e tornaria esses meios propriedade do Estado.

O Estado implantaria um sistema de governo igualitário, com igual distribuição de renda. Com o tempo, a tendência, segundo Marx e Engels, era que a burguesia sumisse a partir da repressão, até chegar ao ponto em que a burguesia e a propriedade privada não mais existiriam, extinguindo as diferenças de classes sociais, ou seja, acabando com a diferenciação de classe e, consequentemente, com as classes sociais. A partir daí, não haveria mais a necessidade de um governo repressor ditatorial com um Estado forte e controlador, e o governo tenderia para um comunismo de perfeita igualdade.

Classe social e estratificação social

Uma sociedade estratificada é uma sociedade dividida em classes sociais. Uma das características da estratificação é a capacidade de mobilidade social, ou seja, de uma pessoa poder migrar de uma classe para outra.

Essa possibilidade é, no entanto, muito difícil nas sociedades capitalistas, que, apesar de presarem pela meritocracia (o ganho em cima do mérito pessoal adquirido pelo esforço e pelo trabalho), tendem a manter um meio fechado de pessoas com o poder econômico por meio da herança. Uma pessoa rica deixará a sua riqueza para os seus filhos, enquanto uma pessoa pobre não consegue ascender socialmente com facilidade por conta da dificuldade de estudar, trabalhar e investir o pouco dinheiro que ganha.

As pirâmides sociais representam a divisão de classes.
As pirâmides sociais representam a divisão de classes.

Thomas Bottmore, sociólogo marxista inglês e político (membro do Partido Trabalhista Britânico), e William Outhwaite, também sociólogo, marxista britânico e professor emérito das Universidades de Sussex e de Newcastle, escreveram uma importante coletânea de conceitos de Sociologia, intitulada Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Nessa obra, os sociólogos escrevem que a estratificação social ocorre em “todas as sociedades complexas” quando “o suprimento total de recursos valorizados é distribuído desigualmente, com os indivíduos ou famílias mais privilegiados desfrutando de um volume desproporcional de propriedade, poder ou prestígio”.|2|

Isso significa que a essência da estratificação social e o motivo pelo qual existem diferentes classes sociais é a desigualdade econômica. Em contraposição às sociedades estratificadas, temos as sociedades estamentais. A grande característica das sociedades estamentais que as diferencia totalmente das sociedades estratificadas é que, nos estamentos, não há a possibilidade de mudança de classe social.

Temos como exemplo de sociedades estamentais a Europa feudal, dividida entre a nobreza, o clero, os servos e o campesinato (camponeses). Os nobres nasciam nobres, era algo vindo de família, sendo vedado a um servo ou camponês tornar-se um nobre. Por volta do século XV, por causar da ascensão da burguesia, começou haver comércio de títulos de nobreza, o que afrouxou o sistema estamental.

Saiba mais: Estratificação e desigualdade social

Classe social para o IBGE

As classes sociais, para além da classificação marxista, também são classificadas em classe alta, classe baixa e classe média. Para criar uma classificação mais precisa, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) criou um sistema de medição que abrange cinco estratos sociais, que são as classes A, B, C, D e E, sendo A a classe com maior poder aquisitivo e concentração de renda e E a classe com menor poder aquisitivo e concentração de renda.

Além do rendimento monetário, são levantados pelos recenseadores (profissionais que trabalham para o IBGE fazendo a coleta de dados da população nos domicílios) dados como o número de pessoas que vivem no domicílio, as dimensões (tamanho) da moradia, o acesso à água encanada e coleta de esgoto, o número de equipamentos eletrodomésticos por domicílio, o número de veículos automóveis e a escolaridade das pessoas que ali vivem.

A maneira mais fácil e simples de definir os padrões de cada classe social pelo IBGE é por meio da renda familiar mensal. Porém, nem sempre esse indicador socioeconômico é satisfatório, sendo necessário, em alguns casos, analisar a condição socioeconômica de uma pessoa com base em outros indicadores, como aqueles que foram mencionados no parágrafo anterior.

Veja a listagem das classes sociais com base na faixa salarial das famílias brasileiras:

  • Classe A: mais de 15 salários mínimos;

  • Classe B: de 5 a 15 salários mínimos;

  • Classe C: de 3 a 5 salários mínimos;

  • Classe D: de 1 a 3 salários mínimos;

  • Classe E: até 1 salário mínimo.

Notas

|1| Não confundir com o livro A Condição Pós-Moderna, do filósofo francês contemporâneo Jean-François Lyotard. Harvey aborda em seu livro a relação entre as mudanças econômicas e as mudanças culturais na sociedade após o capitalismo industrial.

|2| BOTTOMORE, Tom; OUTHWAITE, William. Dicionário do pensamento social do século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1996, p. 270.

 

Por Francisco Porfírio
Professor de Sociologia

Escritor do artigo
Escrito por: Francisco Porfírio Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PORFíRIO, Francisco. "Classe social"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/classe-social.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

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