PUBLICIDADE
A síntese da ureia representou um marco na história da Química Orgânica, pois antes se acreditava que os compostos orgânicos só poderiam ser produzidos por seres vivos, animais e vegetais. Essa ideia era conhecida como “Teoria da Força Vital” ou “Teoria do Vitalismo”.
No entanto, havia um químico e médico alemão, chamado Friedrich Wöhler (1800-1882), que no ano de 1828 realizou um experimento com o objetivo inicial de preparar cianato de amônio (NH4OCN(s)). Ele fez isso a partir de dois compostos inorgânicos, o cianeto de prata (AgCN(s)) e o cloreto de amônio (NH4Cl(s)).
Primeiro Wöhler aqueceu o cianeto de prata na presença de oxigênio do ar, formando o cianato de prata. Esse composto foi então tratado com uma solução de cloreto de amônia, resultando em dois produtos: um precipitado de cloreto de prata e uma solução de cianato de amônio.
Depois de filtrar e evaporar a solução de cianato de amônio, ele obteve essa substância no estado sólido, que foi aquecido, gerando cristais brancos, ou seja, a ureia. A seguir temos as equações químicas que representam as reações ocorridas:
*Aquecimento do cianato de prata na presença de oxigênio: AgCN(s) + ½ O2(g) → AgOCN(s)
* Tratamento do cianeto de prata com cloreto de amônio: 2 AgOCN(s) + NH4Cl(aq) → AgCl(ppt) + NH4OCN(aq)
* Aquecimento do cianato de amônio sólido: NH4OCN(s) → CO(NH2)2(s)
Essa reação ficou conhecida como síntese de Wöhler.
A ureia antes só era obtida a partir da urina, sendo um composto orgânico. Dessa forma, a teoria do vitalismo caiu por terra, conforme o próprio Wöhler disse em uma carta que enviou ao seu amigo e companheiro de pesquisas Jöns Jacob Berzelius, que foi o criador dessa teoria:
“Devo informá-lo que consegui preparar ureia sem a necessidade de um rim de animal, seja homem ou cachorro. A ureia foi obtida a partir de uma substância inanimada em um grande balão de vidro, que nada tinha de vital.” (WÖHLER apud USBERCO; SALVADOR, 2001, p. 15)
Com isso, o significado de um composto orgânico mudou: não era mais aquele que se originava dos organismos vivos, mas sim aquele composto do elemento carbono com propriedades características.
Além disso, houve outro fato que chamou bastante a atenção de Wöhler e de Berzelius: o cianato de amônio e a ureia possuíam todos os elementos na mesma quantidade, sendo dois nitrogênios, quatro hidrogênios, um carbono e um oxigênio. Eles concluíram, então, que a diferença entre essas duas substâncias estava no fato de que os átomos desses elementos estavam dispostos de maneiras diferentes em cada um.
Berzelius chamou esses compostos de isômeros (do grego iso significa “igual” e meros significa “partes”, ou seja, “partes iguais”), que são compostos que possuem a mesma fórmula molecular e fórmula estrutural diferente.
USBERCO; J.; SALVADOR, E. Química 3: Química Orgânica. Volume 3. p. 15.
Por Jennifer Fogaça
Graduada em Química