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O que foi a Guerra dos Farrapos?
A Guerra dos Farrapos aconteceu no Rio Grande do Sul durante o Período Regencial, de 1835 a 1845, portanto, estendeu-se até parte do Segundo Reinado. Apesar da longa duração dessa revolta (dez anos), os combates foram de baixa intensidade e concentrados em confrontos de cavalaria que resultaram em 3 mil mortes.
Esse número de mortos é visto pelos historiadores como baixo, se comparado com outros movimentos similares ocorridos no Brasil nesse mesmo período. A Cabanagem, por exemplo, que aconteceu na província do Grão-Pará de 1835 a 1840, resultou em 30 mil mortes, e a Balaiada, que ocorreu no Maranhão de 1838 a 1841, causou 12 mil mortes.
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Quais foram as causas que levaram ao início dessa revolta?
A Guerra dos Farrapos foi um movimento de elite, e suas causas imediatas foram a insatisfação dos estancieiros com os altos impostos sobre o charque local e a escolha arbitrária de nomes não aprovados pelos estancieiros para o cargo de presidente da província (correspondente ao atual cargo de governador).
A província do Rio Grande do Sul tinha como principal produto econômico o charque (carne-seca). O charque gaúcho era produzido pelos charqueadores a partir da carne bovina vendida pelos estancieiros. Esses grupos faziam parte da elite econômica dessa província e estavam descontentes com a política de altos impostos cobrados sobre esse produto pelo governo brasileiro.
O charque abastecia os mercados do Sudeste e Nordeste, principalmente porque era o alimento básico dado aos escravos. Assim, a economia gaúcha era voltada para o mercado interno e tinha como grandes concorrentes os produtores de charque da Argentina e do Uruguai. Esse produto estrangeiro, no entanto, era pouco taxado, o que tornava essa mercadoria mais competitiva que a nacional.
A grande exigência dos estancieiros gaúchos era que o produto estrangeiro recebesse uma taxação como forma de proteger os produtores nacionais e, assim, tornar os preços do produto gaúcho competitivo. A negligência do governo em relação à insatisfação dos estancieiros com a política fiscal sobre o charque é, portanto, a principal razão que deu início à revolta gaúcha.
Outros fatores de destaque que contribuíram para acirrar os ânimos foram a insatisfação dos estancieiros com a taxação sobre o gado que transitava na fronteira do Brasil com o Uruguai, o descontentamento com a criação da Guarda Nacional, a insatisfação com a negativa do governo de arcar com os prejuízos dos estancieiros após uma praga de carrapatos ter atingido o gado em 1834 e, por fim, a livre circulação de ideais republicanistas e federalistas na região que impactavam, sobretudo, na defesa, por parte dos farrapos, de autonomia para a província.
Mapa Mental: Guerra dos Farrapos
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Principais acontecimentos da Guerra dos Farrapos
A Guerra dos Farrapos foi, então, uma soma dos motivos mencionados e iniciou-se de maneira oficial em 20 de setembro de 1835. Nesse momento, o movimento era apenas uma revolta local que foi uma resposta à nomeação de um presidente de província não apoiado pelos estancieiros.
Esse movimento ganhou dimensão quando foi proclamada pelos estancieiros a República Rio-grandense, também conhecida como República de Piratini, em setembro de 1836. Esse evento tem motivado debates entre os historiadores sobre se a Guerra dos Farrapos era um movimento de caráter separatista que se uniria com Uruguai e/ou Argentina ou se apenas buscava forçar o governo a conceder maior autonomia para a província.
Um dos grandes nomes que lideraram a luta dos farrapos foi Bento Gonçalves, um rico estancieiro que, inclusive, presidiu a República Rio-grandense. Outros nomes importantes foram do revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi – que também atuou na Unificação Italiana – e do militar David Canabarro.
A Guerra dos Farrapos espalhou-se ainda para a região de Santa Catarina quando Giuseppe Garibaldi e David Canabarro lideraram as tropas gaúchas e conquistaram-na, inaugurando lá a República Juliana em julho de 1839. Essa república, entretanto, teve duração curta, pois a região foi retomada pelas tropas imperiais em novembro do mesmo ano.
A partir de 1842, conforme classifica o historiador gaúcho Juremir Machado da Silva, a guerra travada entre os farrapos e o governo imperial transformou-se em uma guerra de guerrilha, uma vez que as forças dos farrapos já estavam consideravelmente prejudicadas|1|. Isso aconteceu principalmente com a nomeação de Luís Alves de Lima e Silva para conter a revolta no Sul.
Luís Alves de Lima e Silva, na época Barão de Caxias, foi nomeado pelo governo em 1842 para derrotar os farrapos e foi enviado para o Sul com mais 12 mil homens. Caxias conseguiu, por meio de estratégia militar eficiente e da diplomacia, derrotar gradativamente os farrapos e forçá-los à negociação.
Essa negociação entre os farrapos e o governo levou à assinatura do Tratado de Ponche Verde, no qual foi acertada a rendição dos revoltosos. Os farrapos foram, portanto, derrotados e, em troca, o governo aceitou os seguintes termos:
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Os envolvidos foram anistiados.
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Charque estrangeiro foi taxado em 25%.
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Os militares farrapos foram integrados ao exército imperial, mantendo a mesma patente.
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Provincianos receberam o direito de escolher seu governador de província (não cumprido pelo governo).
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Os escravos que participaram da revolta seriam alforriados (não foi cumprido pelo governo).
Nota
|1| Juremir: “muitos comemoram Revolução sem conhecer a história”. Para acessar clique aqui.