Especialistas comentam sobre os impactos ambientais da tragédia no Rio Grande do Sul
Especialistas comentam sobre os impactos ambientais da tragédia no Rio Grande do Sul
Segundo especialistas, mudanças climáticas intensificaram o fenômeno que ocorreu no Rio Grande do Sul
Em 05/06/2024 06h30
, atualizado em 05/06/2024 06h30
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A tragédia no Rio Grande do Sul, marcada pelas fortes chuvas e inundações em quase todos os municípios gaúchos, é considerada uma das piores crises socioambientais enfrentadas pelo estado.
Segundo balanço da Defesa Civil do RS, até às 9h da terça-feira (4), foram 476 cidades afetadas, 172 óbitos, 44 desaparecidos, 575.171 desalojados e 2.392.686 pessoas afetadas de alguma forma.
Hoje, 5 de junho, é o Dia Mundial do Meio Ambiente, uma data que reforça o compromisso social de preservação da natureza. O Brasil Escola conversou com especialistas sobre questões ambientais a respeito da situação do estado gaúcho. Eles comentam sobre os impactos ambientais causados pelo fenômeno, a ação do poder público e a influência das mudanças climáticas.
Impactos ambientais causados pela tragédia no Rio Grande do Sul
O que aconteceu no Rio Grande do Sul é resultado de um longo período de negação dos fatos científicos quanto à emergência climática somada ao afrouxamento de leis ambientais nos últimos anos, afirma Márcia Marques, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e professora de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Entre os impactos causados nos sistemas naturais, Márcia lista os seguintes:
1) Remoção de cobertura vegetal nas margens dos rios
As fortes chuvas e enxurradas provocaram a remoção de árvores e ervas das margens dos rios. Esse fato causa a morte de plantas e a perda da diversidade vegetal. Além disso, ocorre uma maior exposição dessas regiões a novas enxurradas. Nesse sentido, animais que vivem nesses ecossistemas ribeirinhos foram afetados de alguma forma, como por exemplo aves, anfíbios e pequenos mamíferos.
2) Assoreamento dos cursos d'água
As águas dos rios que sofreram enchentes carregaram sedimentos das cabeceiras para a foz, afetando assim grandes lagos como o Guaíba ea Lagoa dos Patos até a região de encontro com o mar. A professora Márcia explica que a turbidez da água atinge as cadeias tróficas aquáticas diante da dificuldade da entrada de luz. Consequentemente, a fotossíntese das algas é prejudicada, afetando a alimentação dos peixes.
Esse processo também influencia nos ciclos dos elementos da água diante da intensa mistura de nutrientes, bem como o desenvolvimento de novas conformações que podem ou não ser adequadas para a biota do ambiente.
3) Mudanças nos ecossistemas
As águas das enxurradas afetam a vida dos ecossistemas lacustres e das restingas, região de desembocadura no mar. Assim, os pequenos invertebrados, peixes e aves são atingidos já que seus habitats naturais sofreram mudanças. Os animais devem assim buscar a sobrevivência diante da nova realidade.
4) Poluição por resíduos sólidos
Quando a água começa a baixar nas regiões urbanas, o cenário que se tem é o acúmulo de lixo em diversos pontos das cidades. Esses resíduos também se locomovem com a água, intensificando o problema de poluição por plástico e microplástico.
5) Contaminação de água e transmissão de doenças
A água que entrou em diversos tipos de ambientes das cidades carregou uma variedade de substâncias tóxicas, como também ficou contaminada por agentes biológicos. Com isso, um dos agravantes são as doenças transmitidas por esta contaminação, como, por exemplo, a leptospirose. A maior umidade e o acúmulo de poças de água parada favorecem a reprodução de mosquitos vetores de doenças, como é o caso do Aedes Aegypti, que transmite a dengue.
Resolva exercícios sobre meio ambiente nesta página.
Mudanças climáticas e a tragédia no Rio Grande do Sul
Eventos climáticos como o que aconteceu no Rio Grande do Sul tem sido previstos por cientistas. Márcia Marques reforça que o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) apresenta relatórios, anualmente, sobre as mudanças climáticas.
Conforme as previsões, a região Sul brasileira deve ser atingida por eventos extremos que acontecerão de forma mais frequente, tais como chuvas fortes, ciclones, bem como ondas de calor.
As transformações no clima estão associadas ao aquecimento dos oceanos. "Com o oceano e a terra mais aquecidos, amplifica em muita a potência e a força de grandes tempestades e furacões em algumas regiões do planeta", afirma André Ferretti, gerente sênior de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).
Márcia enfatiza a importância da mudança radical nas atividades humanas em prol de zerar as emissões de gases do efeito estufa (oriundos principalmente das queimadas, desmatamento, atividade agrícola e queima de combustíveis fósseis).