Dia da Consciência Negra: como a resistência perpasssa presente, passado e futuro?
Dia da Consciência Negra: como a resistência perpasssa presente, passado e futuro?
Dando continuidade a nossa série de entrevistas sobre o Dia da Consciência Negra, conversamos com Fernanda Sousa sobre a data e sobre sua história.
Em 20/11/2023 12h08
, atualizado em 21/11/2023 07h26
Ouça o texto abaixo!
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Hoje é o Dia da Consciência Negra, data reservada para a sociedade recordar e repensar a história e a situação do povo negro brasileiro. Este dia foi escolhido, pois ele é atribuído a morte de Zumbi dos Palmares, figura icônica da resistência quilombola no Brasil.
Além de Zumbi, muitos negros e negras lutaram contra o sistema escravocrata que os oprimia, um dos nomes de grande relevância nesta resistência é Dandara. Mulher guerreira que ajudou a construir o Quilombo dos Palmares e comandou seu exército em algumas situações.
Essa resistência de Dandara ainda ecoa nos dias de hoje, através das mulheres negras brasileiras, para exemplificar esta realidade, demos continuidade na nossa série de entrevistas, que começou com Benedito Cerezzo professor da UnB, e fomos conversar com Fernanda Sousa, mulher de 29 anos, licenciada em educação física pela UEG, moradora da cidade de Goiânia, integrante de religiões de matriz-africana e torcedora do Cruzeiro.
A importância do Dia da Consciência Negra
Fernanda conta que, no seu ponto de vista, a importância do Dia da Consciência Negra é lembrar de Zumbi, de Dandara e de todos aqueles que, dentro de suas condições, resistiram contra a escravidão e contribuíram para a queda desse sistema.
A história dos quilombos no Brasil é pouco divulgada, mesmo que possua uma relevância marcante para a construção da nação. São séculos de história, o próprio Quilombo dos Palmares perdurou por cerca de cem anos em um território de aproximadamente 27.000 quilômetros quadrados. Ainda hoje, existem cerca de 6 mil quilombos no Brasil.
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A história e as demandas do povo negro no Brasil
Questionamos a Fernanda sobre como ela se sente quando olha a história do povo negro no Brasil. Ela responde que sente coletividade, luta, resistência e força, pois ainda que os negros sejam colocados na posição de minoria e marginalizados, Fernanda diz que o povo negro sempre foi muito sábio e desenvolto.
Ela diz que muitas vezes que os escravizadores pensavam que os negros estavam se rendendo ou aceitando a escravidão, era, na verdade, uma demonstração da ginga necessária para se manter vivo em um sistema genocida que durou séculos.
Após relembrar este momento histórico nefasto, Fernanda afirma que as principais demandas da população negra no Brasil são a humanização e a equidade de direitos e de acesso em relação à população branca. Mas, para que isso aconteça, diz Fernanda, é preciso modificar estruturalmente os espaços de poder da sociedade.
Ela afirma ser necessário ter pessoas negras na presidência, no STF, no congresso, em espaços que possuam poder de decisão de uma maneira geral. Pois, conforme o pensamento construído por ela, a lógica dos escravocratas ocupa estes lugares desde o surgimento do Brasil e isso precisa ser invertido.
Ela conclui:
Pensar na lógica do oprimido, não na lógica, na perspectiva do opressor como tem sido pensado desde sempre
Influências da negritude na vida profissional
Perguntamos a Fernanda como ser uma mulher negra influenciou a sua trajetória profissional e acadêmica. Ela respondeu:
Ser uma mulher preta, retinta, sapatão, no ambiente da Universidade Estadual de Goiás, estado este com histórico escravista e oligárquico, é um movimento de resistência. Mas, é também de representatividade para aqueles que virão depois de mim
Em seguida, ela continua a relação entre presente-passado-futuro quando diz que ocupar espaços acadêmicos é importante para que as mulheres negras sejam vistas como fonte de conhecimento, tenham acesso às universidades e não sejam consideradas apenas objetos de estudo, como foram tratadas por muitos anos. Em relação ao ambiente profissional, ela diz que mesmo que as pessoas negras possuam um currículo exemplar, elas serão questionadas, desrespeitadas e desconsideradas, mas mesmo assim a população negra persiste.
Ela conclui:
A gente segue produzindo com excelência, saberes, conhecimentos, resistindo dentro desse sistema que tenta nos oprimir, tenta, não só tenta, mas, infelizmente, consegue matar um de nós a cada 23 minutos
Conselhos para jovens negros e negras que precisam conciliar trabalho e estudo
Fernanda começa com a constatação que o fato de ter que trabalhar e estudar é mais um que comprova a deslealdade quando se compara a população jovem negra e branca. Ela diz que cada vez mais jovens negros precisam decidir entre trabalhar e estudar, Fernanda ressalta que essa escolha não é por questões de luxo, mas, sim, de sobrevivência, os jovens têm de trabalhar para ter o que comer e onde dormir.
Ela continua:
Não deixem de estudar e se aperfeiçoar, pois só com o conhecimento e a sabedoria a gente consegue, a cada passo, tomar de volta aquilo que nos foi tirado
Ela continua a explicação dizendo que o ponto de vista coletivo é essencial para esta forma de pensamento, ela explica:
Porque se hoje, eu estou há um mês de completar 30 anos e não entrei para as estatísticas nessa sociedade genocida que a gente vive, isso só é possível, pois, meus antepassados, meus ancestrais, lutaram e resistiram. É sempre no coletivo, eu sou, porque nós somos. Você só está aqui hoje, por causa de quem lutou antes e você vai precisar lutar para os que vem depois, não adianta pensar no individual, pois sozinhos não temos força
Por fim, ela ressalta a importância da resistência e da coletividade e conclui relembrando uma frase do Emicida: