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Os melhores cronistas brasileiros do início do século XX

Os cariocas Machado de Assis, Lima Barreto e João do Rio estão entre os melhores cronistas brasileiros do início do século XX.

Machado de Assis, Lima Barreto e João do Rio, todos cariocas, estão entre os maiores cronistas do início do século XX
Machado de Assis, Lima Barreto e João do Rio, todos cariocas, estão entre os maiores cronistas do início do século XX
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A crônica está entre os gêneros textuais mais populares entre os leitores, e isso não acontece por acaso: além de ser um gênero marcado pela brevidade, tem sua circulação democratizada nas páginas dos jornais, seu principal meio de publicação. A crônica literária, diferentemente da crônica jornalística, abusa de recursos próprios da literatura sem nunca perder sua essência ligeira e prosaica que tanto agrada os leitores.

Muitos foram os escritores de nossa literatura que viram na crônica uma oportunidade de fazer literatura e ao mesmo tempo denunciar costumes e mazelas da sociedade brasileira. No início do século XX, nomes como Machado de Assis, Lima Barreto e João do Rio ficaram famosos por seus textos ácidos e pouco complacentes com a sociedade brasileira (sobretudo a sociedade carioca) da época, combinando o “texto-denúncia” com elementos próprios da literatura. Por isso, por tornarem o gênero crônica ainda mais rico e interessante, esses autores estão entre os melhores cronistas brasileiros do início do século XX.

Para que você conheça um pouco mais sobre os grandes cronistas do início do século XX, o Brasil Escola traz para você os principais aspectos literários de alguns de seus maiores representantes, bem como trechos de crônicas que têm como característica em comum o olhar aguçado sobre o panorama social e cultural daquele Brasil que, ironicamente, ainda apresenta similaridades com nosso Brasil contemporâneo. Bons estudos, boa leitura!

Machado de Assis

Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1839. Faleceu em sua cidade natal em 29 de setembro de 1908, aos 69 anos
Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1839. Faleceu em sua cidade natal em 29 de setembro de 1908, aos 69 anos

Machado de Assis dispensa apresentações. O “Bruxo do Cosme Velho”, alcunha criada pelo igualmente genial Carlos Drummond de Andrade, está entre os maiores cronistas de seu tempo. Não bastasse ser romancista e contista de invejável habilidade, Machado também compôs, por intermédio de suas crônicas, um interessante quadro da sociedade carioca do início do século XX. Por meio da fina ironia que lhe foi tão peculiar, abordou em suas crônicas as mazelas sociais e os desmandos políticos de sua época.

"Guerras africanas, rebeliões asiáticas, queda do gabinete francês, agitação política, a proposta de supressão do senado, a caixa do Egito, o socialismo, a anarquia, a crise europeia, que faz estremecer o solo, e só não explode porque a natureza, minha amiga, aborrece este verbo, mas há de estourar, com certeza, antes do fim do século, que me importa tudo isso? Que me importa que, na ilha de Creta, cristãos e muçulmanos se matem uns aos outros, segundo dizem telegramas de 25? E o acordo, que anteontem estava feito entre chilenos e argentinos, e já ontem deixou de estar feito, que tenho eu com esse sangue e com o que há de correr?" (A Semana, 26 de abril de 1896).

Lima Barreto

Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de maio de 1881. Faleceu no dia 1º de novembro de 1922, aos 41 anos
Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de maio de 1881. Faleceu no dia 1º de novembro de 1922, aos 41 anos

A denúncia das mazelas sociais é uma das principais características da obra de Lima Barreto. O escritor dava tamanha importância para o tema que chegou a ser acusado pela crítica literária de ser um autor panfletário e sem maiores dons literários, visto sua preocupação em fotografar com cores exatas as agruras de seu tempo. Lima Barreto, por meio de seu estilo coloquial e direto, criticou, sobretudo, as desigualdades sociais do século XIX e XX. Engana-se quem acredita que, fazendo uso comedido da linguagem, o escritor o faria também no conteúdo de suas crônicas.

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“Não há dúvida alguma que o Brasil é um país muito rico. Nós que nele vivemos; não nos apercebemos bem disso, e até, ao contrário, o supomos muito pobre, pois a toda hora e a todo instante, estamos vendo o governo lamentar-se que não faz isto ou não faz aquilo por falta de verba. Nas ruas da cidade, nas mais centrais até, andam pequenos vadios, a cursar a perigosa universidade da calariça das sarjetas, aos quais o governo não dá destino, e os mete num asilo, num colégio profissional qualquer, porque não tem verba, não tem dinheiro. É o Brasil rico...

Surgem epidemias pasmosas, a matar e a enfermar milhares de pessoas, que vêm mostrar a falta de hospitais na cidade, a má localização dos existentes. Pede-se à construção de outros bem situados; e o governo responde que não pode fazer porque não tem verba, não tem dinheiro. E o Brasil é um país rico (...)”. (País rico, Marginália, 8 de maio de 1920).

João do Rio

João do Rio nasceu no dia 5 de agosto de 1881, no Rio de Janeiro. Faleceu na mesma cidade, no dia 23 de junho de 1921
João do Rio nasceu no dia 5 de agosto de 1881, no Rio de Janeiro. Faleceu na mesma cidade, no dia 23 de junho de 1921

João do Rio é um dos pseudônimos de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, considerado pela historiografia como o maior jornalista de seu tempo. Além de jornalista, João do Rio foi escritor e precursor da crônica social moderna: sua obra foi produzida a partir da observação direta da vida e da linguagem de diferentes grupos sociais do Rio de Janeiro do início do século XX. Figura querida e popular, João transitava com facilidade entre as camadas populares e marginalizadas, produzindo crônicas que investigavam a vida da gente esquecida com grande realismo e sensibilidade.

“Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia — o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia. Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua (...)”. ( A rua, em “A alma encantadora das ruas”).


Por Luana Castro
Graduada em Letras

Escritor do artigo
Escrito por: Luana Castro Alves Perez Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PEREZ, Luana Castro Alves. "Os melhores cronistas brasileiros do início do século XX"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/os-melhores-cronistas-brasileiros-inicio-seculo-xx.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

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Lista de exercícios


Exercício 1

(Enem – 2000)

O texto abaixo foi extraído de uma crônica de Machado de Assis e refere-se ao trabalho de um escravo.

―Um dia começou a guerra do Paraguai e durou cinco anos, João repicava e dobrava, dobrava e repicava pelos mortos e pelas vitórias. Quando se decretou o ventre livre dos escravos, João é que repicou. Quando se fez a abolição completa, quem repicou foi João. Um dia proclamou-se a República. João repicou por ela, repicaria pelo Império, se o Império retornasse.

(MACHADO, Assis de. Crônica sobre a morte do escravo João, 1897)

A leitura do texto permite afirmar que o sineiro João:

a) por ser escravo tocava os sinos, às escondidas, quando ocorriam fatos ligados à Abolição.

b) não poderia tocar os sinos pelo retorno do Império, visto que era escravo.

c) tocou os sinos pela República, proclamada pelos abolicionistas que vieram libertá-lo.

d) tocava os sinos quando ocorriam fatos marcantes porque era costume fazê-lo.

e) tocou os sinos pelo retorno do Império, comemorando a volta da Princesa Isabel.

Exercício 2

“Não há dúvida alguma que o Brasil é um país muito rico. Nós que nele vivemos; não nos apercebemos bem disso, e até, ao contrário, o supomos muito pobre, pois a toda hora e a todo instante, estamos vendo o governo lamentar-se que não faz isto ou não faz aquilo por falta de verba. Nas ruas da cidade, nas mais centrais até, andam pequenos vadios, a cursar a perigosa universidade da calariça das sarjetas, aos quais o governo não dá destino, e os mete num asilo, num colégio profissional qualquer, porque não tem verba, não tem dinheiro. É o Brasil rico...”

(Lima Barreto: País rico, Marginália, 8 de maio de 1920).

Sobre o trecho da crônica de Lima Barreto e sobre o escritor, é correto afirmar apenas:

a) Lima Barreto foi um dos primeiros escritores brasileiros a utilizar a literatura como instrumento de denúncia social, contudo, não é possível afirmar que tal característica esteja presente no excerto acima.

b) Lima Barreto foi um ávido defensor da sociedade brasileira do final do século XIX e início do século XX. Tal posicionamento pode ser percebido no fragmento acima, visto que, assim como uma de suas principais personagens, o mítico Policarpo Quaresma, era também um ufanista visionário.

c) A crônica de Lima Barreto é um dos melhores painéis críticos do Brasil, em especial do Rio de Janeiro do início do século XX. Lima era crítico mordaz da sociedade burguesa e da leniência governamental com as mazelas sofridas pelas populações mais carentes.

d) No trecho acima há a nítida preocupação em criticar os “pequenos vadios” que circulavam pela cidade do Rio de Janeiro no início do século XX, os desocupados que viviam às custas do governo, contribuindo assim para um quadro social caótico.