PUBLICIDADE
O samurai era um guerreiro do Japão e pertencia a uma verdadeira casta guerreira. Os samurais serviam a um senhor, geralmente um daimiô, espécie de senhor feudal do Japão. Do século XII até o XIX, os daimiôs tiveram grande poder e foram as principais lideranças nos xogunatos, sistema de governo em que um xogum, nomeado pelo imperador, governava o Japão.
No século XIX, o xogunato entrou em crise, e, na Guerra Boshin, tropas imperiais lutaram contra tropas do xogunato. Com a vitória, o imperador Meiji acabou com o feudalismo no Japão e a classe dos samurais foi extinta. Por mais uma década, os últimos samurais lutaram contra as tropas do imperador, sendo extintos.
Leia também: Significado das saudações japonesas
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o samurai
- 2 - Quem eram os samurais?
- 3 - Qual a função de um samurai?
- 4 - Tipos de samurai
- 5 - Código de honra dos samurais
- 6 - Samurai na sociedade
- 7 - Artes marciais dos samurais
- 8 - Literatura samurai
- 9 - Samurais mais famosos da história
- 10 - Curiosidades sobre os samurais
Resumo sobre o samurai
- Originalmente o samurai era um funcionário de um daimiô responsável por manter a ordem e cobrar impostos.
- Existiam três classes de samurais, os gonekin, goshis e hatamotos. Elas tinham importância social distintas.
- Miyamoto Musashi é considerado o maior samurai da história. Ele venceu dezenas de duelos.
- Durante a invasão mongol, os samurais foram de fundamental importância para repelir o ataque.
- No auge, os samurais chegaram a representar quase 10% da população do Japão.
- Os samurais deixaram de existir no final do século XIX, quando o imperador Meiji centralizou o poder.
Quem eram os samurais?
A palavra samurai significa “aquele que serve ao senhor”. Até o início do século XII, os samurais eram funcionários civis responsáveis pela cobrança de impostos nas zonas rurais e urbanas do Japão. Para exercer suas funções, os samurais utilizavam armaduras, além de armas, como espadas e arcos.
Os samurais geralmente trabalhavam para um daimiô, um grande latifundiário que possuía poder local, muito parecido com os senhores feudais na Europa medieval. Esses daimiôs contavam com força militar, poder político e governavam suas respectivas regiões, cobrando impostos da população e obedecendo apenas ao imperador.
Os conflitos entre daimiôs eram comuns no Japão medieval e cresceram no século XII, quando houve uma grande militarização do país e o consequente fortalecimento dos samurais.
Os daimiôs se uniram em torno de dois clãs principais, o dos Taira e o dos Minamoto. Esses clãs entraram em conflito nas chamadas Guerras Genpei. Os combates ocorreram entre 1180 e 1185 e terminaram com a vitória do clã Minamoto.
Nas Guerras Genpei, o samurai Minamoto no Yorimasa foi o líder militar do clã Minamoto e se tornou o primeiro xogum do país após o fim do conflito. Com a vitória dos Minamoto, iniciou-se no Japão o período do xogunato Kamakura.
No xogunato, o imperador do Japão nomeava um xogum (também grafado como shogum). Esse era uma espécie de ditador militar e era a pessoa que governava, de fato, o Japão. Os daimiôs e os líderes samurais tinham grande influência na escolha dos xoguns, e os conflitos entre diferentes clãs eram comuns em momentos de escolha de um novo líder. Esse primeiro xogunato durou até 1333 e recebeu o nome Kamakura por ser sediado nessa cidade.
Durante o xogunato de Kamakura, os samurais passaram a ter grande poder político e importância social. Muitos samurais se tornaram nobres e membros da família real por casamentos ou por nomeação imperial. A educação e formação de novos samurais recebeu grandes investimentos estatais durante esse xogunato.
As principais armas utilizadas pelos samurais foram o arco e flecha e uma grande lança curvada. A partir dos séculos XVIII e XIX, muitos samurais passaram a utilizar armas de fogo, ao contrário da crença popular de que eles só utilizavam armas brancas.
Por lei, somente samurais e membros da nobreza podiam utilizar duas espadas em público. Os samurais utilizavam geralmente a katana, a espada longa; e a wakizashi, a espada curta. A wakizashi acompanhava o samurai em todos os lugares, inclusive na hora de dormir, ficando sempre próxima do dono.
Os xogunatos duraram até 1868, quando a Restauração Meiji aboliu a servidão no Japão e os camponeses passaram a pagar impostos ao Estado, não mais aos daimiôs. A classe dos samurais também foi extinta em 1868, e aqueles que insistiram em atuar como tais foram perseguidos, presos ou mortos pelo exército japonês em poucos anos.
Qual a função de um samurai?
Os samurais existiram por séculos e, por isso, suas funções se modificaram com o passar do tempo. Inicialmente eles tinham importância regional, sendo fundamentais para os daimiôs manterem o poder e o controle da população. Os samurais eram uma espécie de exército particular do daimiô e, muitas vezes, utilizavam violência contra os camponeses e outros grupos sociais submetidos ao senhor.
Os samurais também eram fundamentais nos conflitos que ocorriam contra outros daimiôs, que também contavam com seus exércitos de samurais. Muitas vezes, os daimiôs estabeleciam alianças, unindo suas tropas.
No final do século XIII, os samurais passaram a compor a maior parte das tropas do xogunato, formando uma espécie de exército do Japão do período. Em 1274, os mongóis tentaram invadir o Japão enviando mais de 20 mil soldados para o arquipélago, com tropas das atuais Mongólia, China e Coreias.
Os japoneses formaram um exército de samurais que, apesar de algumas derrotas iniciais, conseguiu expulsar os mongóis do Japão. No ano seguinte, houve uma nova tentativa de invasão mongol ao Japão, e novamente os mongóis foram derrotados e abandonaram a ideia de invadir o país.
A partir do século XVII, muitos samurais passaram a ser professores de membros da elite, ensinando artes marciais, táticas militares, filosofia, educação moral, entre diversos outros temas. Alguns também se tornaram conselheiros do imperador e de outros membros da nobreza.
Leia também: Gêngis Khan — o líder de um dos mais sanguinários exércitos existentes
Tipos de samurai
- Gokenins: possuíam sua própria terra e o direito de cobrar impostos da população. Deviam obediência a um senhor e eram obrigados a servi-lo em caso de conflitos.
- Goshis: eram os samurais rurais, pequenos proprietários de terras que exerciam eventualmente o papel de samurais. Muitos camponeses, comerciantes e artesãos foram nomeados samurais, sendo classificados como goshis.
- Hatamotos: eram os samurais mais poderosos, pois estavam ligados diretamente ao xogum e tinham o direito de solicitar audiências com ele. Muito hatamotos ocuparam cargos importantes nos xogunatos ou se tornaram xoguns.
- Ronins: eram samurais que não tinham senhores, que não deviam obediência a nenhum daimiô. Isso podia acontecer pela morte do daimiô e pela não realização do seppuku (ritual suicida dos guerreiros) pelo samurai; pela rejeição do daimiô em relação ao samurai; ou mesmo pelo desejo deste último.
Código de honra dos samurais
O Bushido, ou “o caminho do guerreiro”, era um código de conduta adotado por parte dos samurais. Coragem, compaixão, obediência, honra, benevolência e retidão eram alguns dos valores presentes no Bushido.
O Bushido foi fortemente influenciado pelo budismo, xintoísmo e confucionismo. O código regia a relação entre samurai e daimiô, mas também as relações entre pais e filhos, entre professores e alunos, entre imperadores e súditos, e a todas as instâncias sociais do Japão.
Samurai na sociedade
No topo da pirâmide social do Japão, estava o imperador, seguido de perto pelo xogum. Abaixo deles estavam os nobres de nascimento. Eles eram seguidos pelos daimiôs e pelos grandes líderes militares.
Na sequência estavam os samurais, que correspondiam entre 3% e 8% de toda a população do Japão. Eles ocupavam a parte média alta da pirâmide social japonesa, tendo diversos privilégios, como a isenção de impostos.
Os samurais tinham grande importância social e podiam condenar à morte qualquer pessoa que fosse de uma classe social inferior, desde que fossem desonrados por essa pessoa. Abaixo dos samurais, estavam os comerciantes, artesãos e camponeses.
Artes marciais dos samurais
Os samurais eram treinados em artes marciais desde a primeira infância. A primeira arte marcial era o kenjutsu, a técnica de espada. O aprendiz utilizava espadas de bambu e de madeira em seus treinos, geralmente mais pesadas do que as espadas de metal. Existiam diversas técnicas de uso de espada, algumas delas são ensinadas ainda hoje. Nos treinos de espada, os aprendizes desenvolviam o iaijutsu, técnica de sacar a espada de forma rápida, seguido de um ataque em estocada ou corte.
Os samurais também dominavam técnicas de luta sem armas, chamadas de ju-jutsu. Também existiam diferentes técnicas de ju-jutsu, muitas delas evoluíram e deram origem ao judô e ao jiu-jitsu por exemplo.
Outra arte aprendida pelos samurais era o kyujutsu, o uso de arco e flecha. O arco mais comum utilizado pelos samurais era um arco longo, semelhante aos arcos ingleses medievais. Também treinavam o sojutso, luta com lanças, e o bajutsu, técnica de combate montado em cavalo.
Leia também: Origem da continência militar
Literatura samurai
O imaginário popular tem o samurai como um guerreiro honrado, altruísta e cheio de virtudes, embora isso não seja historicamente correto. Essa visão se popularizou no mundo a partir da publicação do livro Bushido – alma de samurai, do escritor Inazõ Nitobe. O livro foi publicado em 1900, em inglês, e se tornou muito popular no Japão, na Europa e nos Estados Unidos.
Nitobe descreveu um samurai romantizado, dono de grande coragem, senso de justiça, honra, entre outros valores. O autor ainda destacou que os princípios do Bushido passaram a fazer parte de toda a sociedade japonesa.
Nitobe conseguiu modificar a visão que o Ocidente tinha dos japoneses, tidos como um povo guerreiro e violento. Ele mostrou um Japão com valores próximos aos cristãos, em que benevolência, coragem, sinceridade, lealdade e autocontrole eram valorizados.
O livro colocou os japoneses em igualdade com os europeus, o que dava ao país o direito de possuir colônias no Pacífico. Um dos leitores e entusiastas do livro, e do Bushido descrito nele, foi o presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt.
Durante a década de 1930, o Bushido estava fortemente presente nas forças armadas do Japão, sobretudo na valorização da hierarquia, obediência e lealdade. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Bushido passou a ser desestimulado pelas forças de ocupação, pois acreditavam que o código moral estimularia o militarismo e a revolta contra os norte-americanos.
O código moral dos samurais foi retirado da grade curricular na reforma educacional feita pelos Estados Unidos no Japão. Nas últimas décadas, o Bushido foi retomado e passou a ser ensinado em muitas escolas do país.
Samurais mais famosos da história
- Musashi Miyamoto: é considerado o mais famoso dos samurais e diversas lendas rondam sua pessoa. Ele teria participado do seu primeiro duelo aos 13 anos, e, durante toda a sua vida, nunca teria perdido um desses embates. Seu duelo contra Sasaki Kojiro é considerado o maior da história do Japão. Viveu entre 1584 e 1645.
- Tokugawa Ieyasu: nasceu em 1543, em uma importante família de daimiôs samurais. Foi fundador do último xogunato do Japão, iniciado em 1600, após a vitória na Batalha de Sekigahara. O xogunato se encerrou em 1868, na Era Meiji.
- Oda Nobunaga: nascido em 1534 e morto em 1582, foi um samurai daimiô que conseguiu unificar quase todo o Japão com suas tropas no início do século XVI. Foi considerado um dos samurais mais violentos e o primeiro a utilizar armas de fogo nas batalhas das quais participou.
- Data Masamune: viveu entre 1567 e 1636. Quando criança, perdeu a visão de um olho, por isso ficou conhecido como “o dragão de um olho”. Foi um poderoso daimiô do norte do Japão, um incentivador das artes, e permitiu que padres católicos catequizassem japoneses nas regiões sob seu controle. Ele patrocinou a primeira expedição japonesa que navegou pelo mundo, passando por Filipinas, Itália, México, entre outros países.
Curiosidades sobre os samurais
- Muitos samurais decapitavam seus adversários, exibindo suas namakubi, cabeças decapitadas. Atualmente as namakubis samurais estão entre as tatuagens mais realizadas no Japão.
- Justo Takayama Ukon foi um daimiô samurai que se tornou cristão. Ele viajou para diversos países, convertendo pessoas de diversas crenças ao catolicismo. Em 2016, o papa Francisco I beatificou Takayama, tornando-se, assim, um beato samurai.
- Relações homossexuais eram comuns entre os samurais. A prática ocorria geralmente entre mestre e aprendiz e era conhecida como wakashudo, “o caminho do jovem”.
- O junshi, “seguir o senhor na morte”, era o suicídio cometido pelo samurai logo após a morte do seu senhor. O junshi é um tipo de seppuku.
- Durante as tentativas de invasão dos mongóis, diversos tufões atingiram os exércitos do Khan, fazendo com que perdessem muitas embarcações, soldados e levando-os a desistir do ataque. Os japoneses chamaram esses tufões de kamikazes (daí a origem do nome kamikaze), ou “vento divino”.
- Durante a Segunda Guerra Mundial, mais de dois mil jovens japoneses cometeram seppuku jogando seus aviões contra alvos aliados. Esses homens passaram a ser conhecidos como kamikazes.
Fontes
HENSALL, Kenneth. História do Japão. Edições 70, São Paulo, 2008.
NITOBE, Inazo. O caminho do samurai. Editora Pé de Letra, Cotia, São Paulo.
WILSON, William Scott. O samurai: a vida de Miyamoto Musashi. Estação Liberdade, São Paulo, 2019.