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Olga Benário Prestes foi uma revolucionária alemã enviada ao Brasil durante a década de 1930 para garantir a segurança de Luís Carlos Prestes em missão designada pela Internacional Comunista. Comunista convicta, Olga foi presa no Brasil e deportada para a Alemanha, onde ficou presa durante seis anos e, por ser judia e por sua posição política, foi executada na câmara de gás em 1942.
Tempos de juventude de Olga Benário
Olga Benário nasceu em 12 de fevereiro de 1908, na cidade de Munique, na Alemanha. Era filha de Leo Benario, um rico e famoso advogado na Baviera que gastava parte do seu tempo ajudando quem pudesse. Sua mãe chamava-se Eugenie Guttman Benario e era de uma rica família judia.
Aos 15 anos, Olga passou a fazer parte de uma organização clandestina chamada Grupo Schwabing, em que se destacou. Aos 16 anos, ela mudou-se para Berlim com o namorado, Otto Braun. Nessa cidade, ela tornou-se secretária de Agitação e Propaganda da base operária do bairro de Neukölln e, pouco tempo depois, foi promovida à secretária de Agitação e Propaganda de Berlim.
A atuação de Olga nesse período na Alemanha era, principalmente, contra o crescimento das milícias de extrema-direita – em especial, as nazistas. Ela tornou-se procurada pela justiça alemã após resgatar seu namorado, Otto Braun, da prisão de Moabit em abril de 1928. Por causa disso, Olga foi considerada uma traidora da pátria pelo governo alemão, que chegou a oferecer 5 mil marcos por informações que levassem à sua prisão. Ela, então, fugiu para a União Soviética em julho de 1928 |1|.
Em Moscou, Olga aperfeiçoou seus conhecimentos sobre marxismo e recebeu treinamento militar (algo que defendia ser importante para um comunista desde que havia entrado no Grupo Schwabing). Em 1934, ela recebeu da Internacional Comunista a missão de ser responsável pela segurança de Luís Carlos Prestes no retorno ao Brasil. A Internacional Comunista era uma seção do Partido Comunista que determinava as bases de difusão do comunismo internacionalmente.
Luís Carlos Prestes era conhecido no Brasil por causa da sua luta armada contra as tropas do governo de Artur Bernardes na famosa Coluna Prestes da década de 1920. Prestes liderou um grupo de cerca de 1.500 homens, que marchou 25 mil quilômetros pelo Brasil ajudando os pobres e denunciando o governo de Bernardes, conhecido pelo autoritarismo. Em 1927, quando o grupo de Prestes desarmou-se na Bolívia, não havia sofrido uma derrota sequer.
A historiadora Anita Leocádia Prestes (que também é filha de Prestes) afirma que Olga já havia escutado histórias em Moscou acerca dos feitos de Prestes|2|. Na missão recebida, Olga e Prestes deveriam passar-se por casados e viriam clandestinamente ao Brasil. Isso porque ele era procurado por ter desertado do exército durante a Coluna Prestes. Na viagem, Olga e Prestes apaixonaram-se e casaram-se de fato.
Intentona Comunista
Atribui-se a Luís Carlos Prestes e sua vinda ao Brasil a missão de organizar um movimento revolucionário contra o governo de Getúlio Vargas. Essa informação é contestada pela historiadora Anita Leocádia Prestes. No país, ele foi considerado presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Esse grupo político pregava a luta contra o fascismo e a tomada do poder no Brasil por um movimento revolucionário.
Além disso, Prestes fazia parte dos quadros do Partido Comunista do Brasil (PCB). A vinda dele ao país levou a uma tentativa de golpe militar à esquerda contra Vargas na Intentona Comunista. A Intentona Comunista aconteceu em novembro de 1935 com levantes militares em três cidades brasileiras (Natal, Recife e Rio de Janeiro). O movimento, no entanto, fracassou, e Prestes passou a ser perseguido pela polícia.
Olga e Luís Carlos Prestes foram presos em março de 1936. Vários outros colegas de Prestes também foram presos, e muitos foram torturados pela polícia. Nos inquéritos, Olga recusou-se a cooperar e ceder informações ao governo, que decidiu deportá-la. Durante sua prisão, ela anunciou sua gravidez, porém, mesmo assim, foi deportada para seu país de origem, a Alemanha. O pai da filha que Olga carregava era Luís Carlos Prestes.
A deportação de Olga era considerada ilegal pela lei brasileira da época, pois ela estava grávida de uma filha brasileira. A ordem de deportação de Olga Benário veio do Superior Tribunal Federal e, em 23 de setembro de 1936, ela embarcou no navio La Coruña rumo a Hamburgo, na Alemanha. A deportação de Olga era vista com temor por muitos, pois ela era judia e, na época, já se sabia da perseguição clara contra judeus que havia na Alemanha nazista.
Campos de concentração
Olga foi recebida pela Gestapo (polícia secreta nazista) em Hamburgo, no dia 18 de outubro de 1936. Ela foi transferida para a prisão de Barminstrasse em Berlim. Sua filha, Anita Leocádia Prestes, nasceu nessa cidade em 27 de novembro de 1936. A criança seria originalmente encaminhada para algum orfanato, porém, após pressão internacional organizada pela mãe de Prestes, o governo alemão cedeu e devolveu a filha de Olga para a família.
Olga, no entanto, continuou presa e foi transferida de local por diversas vezes. Ela passou pelo campo de Lichtenburg, depois Ravensbrück e, por fim, Bernburg. Nesses locais, Olga foi sujeita a frio, fome, interrogatórios constantes, trabalho escravo e torturas físicas. O destino dela foi selado em abril de 1942, quando, no campo de concentração de Bernburg, foi executada na câmara de gás. O destino de Olga só foi descoberto pela família ao final da Segunda Guerra Mundial em 1945.
|1| MORAIS, Fernando. Olga. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 21.
|2| Homenagem a Olga Benário Prestes, minha mãe. Por Anita Leocádia Prestes.
*Créditos da imagem: 360b e Shutterstock
Por Daniel Neves
Graduado em História