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Ataques com antraz nos EUA, em 2001
Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, deflagrados contra as torres gêmeas e contra o prédio do Pentágono, nos EUA, acarretaram, além de milhares de mortes, uma epidemia de pânico seguida de grandes transtornos nos setores de infraestrutura, como a rede de aeroportos. Um mês após esses ataques, uma nova forma de ação terrorista foi deflagrada nos Estados Unidos: o terrorismo com agentes biológicos ou, tecnicamente falando, o bioterrorismo. O agente biológico em questão foi o antraz.
Ao menos cinco cartas contaminadas com esporos do bacilo antraz, que possuía o aspecto de pó branco dentro dos envelopes, foram enviadas, a partir de 18 de setembro de 2001, da cidade de Treton, Nova Jersey, para alvos específicos. Entre esses alvos, estavam políticos, emissoras de TV e redações de jornais. Até 21 de outubro do mesmo ano, ao menos nove pessoas haviam morrido em decorrência da contaminação por antraz.
Até hoje, as autoridades americanas ainda não descobriram a autoria dos atentados com antraz, apesar de as cartas apresentarem mensagens que indicam que tais ataques, assim como os do dia 11 de setembro, tiveram o suporte das redes de terrorismo do fundamentalismo islâmico. O fato é que se descobriu que os esporos do bacilo utilizado nas cartas não tinha procedência do Oriente Médio, mas provavelmente teriam sido tratados em laboratório no terreno norte-americano.
Mas, afinal, o que exatamente é o antraz? E por que houve tanto pânico quando se constatou o seu uso para finalidades terroristas? É o que explicaremos abaixo!
O que é o Antraz?
O antraz, também chamado de carbúnculo, é uma doença infecciosa de grande letalidade causada por um bacilo gram-positivo chamado de Bacillus anthracis, que é capaz de formar esporos que vivem até 200 anos. Apesar de infectar com maior frequência animais como carneiros e bois (mamíferos herbívoros), a doença pode afetar humanos.
O nome antraz vem do grego antrakus, que significa carvão. A denominação foi dada em virtude da coloração negra das lesões na forma cutânea da infecção. Além dessa forma, a doença pode apresentar-se na forma inalatória e na forma gastrointestinal.
- Antraz cutâneo - A forma cutânea é a mais comum e atinge apenas a pele, sendo pouco agressiva. A contaminação inicia-se com a germinação de esporos em regiões da pele cortadas ou que sofreram abrasão. Esses esporos liberam toxinas que formam um edema local e desencadeiam coceira. Com o passar dos dias, a lesão vai se modificando até assumir uma coloração escura que caracteriza a doença. Além disso, o antraz cutâneo pode ser acompanhado de dores de cabeça e musculares, febre e vômito. Se não tratada adequadamente, a doença pode levar o paciente à morte.
- Antraz gastrointestinal - A forma gastrointestinal é desencadeada pela ingestão de carne contaminada pelo bacilo. Os sintomas iniciam-se de dois a cinco dias após ingestão e podem ocorrer de duas formas. Uma delas é a forma intestinal, que provoca dor abdominal, acúmulo de líquidos na cavidade abdominal (ascite), vômito com sangue, fezes sanguinolentas e diarreia. Na forma orofaringeana, ocorre úlcera oral e esofágica. O antraz gastrointestinal pode levar de 25 a 60% dos contaminados à morte.
- Antraz inalatório - A forma inalatória é a mais agressiva, levando o indivíduo à morte em poucos dias. A contaminação inicia-se pela inalação dos esporos, que seguem em direção aos alvéolos pulmonares, onde são fagocitados pelos macrófagos, que são destruídos. Os esporos sobreviventes caem na corrente linfática e são levados para o mediastino, onde germinam e causam hemorragia, edema e necrose. No início da infecção, observam-se sintomas como os de um resfriado comum. Após alguns dias, pode ocorrer dificuldade para respirar e choque. Em virtude da grande letalidade (nove a cada dez contaminados), os esporos de antraz estão sendo utilizados por bioterroristas.
Bioterrorismo
O bioterrorismo é definido por pesquisadores especializados em biotecnologia e biossegurança como um conjunto de “ameaças e ataques deliberadas utilizando armas biológicas, visando criar pânico, insegurança, medo e traumas coletivos, gerando na sociedade apreensões constantes e potencializando comportamentos considerados patológicos, manifestados socialmente. O maior impacto do bioterrorismo recai sobre os sistemas de saúde pública, sobretudo os mais precários.” [1]
Apesar de o bioterrorismo configurar-se como ações não oficiais, isto é, que não estão ligadas diretamente a estratégias de guerras definidas por Estados e Nações, a sua existência, no século XXI, deve-se em grande parte aos experimentos que foram feitos com armas biológicas por Estados, como a URSS, no século XX. É notório o caso da Biopreparat, uma instituição soviética especializada em armas biológicas que foi criada em 1973. Ela tinha o objetivo de desenvolver variações dos vírus de ebola e varíola, bem como do bacilo do antraz.
Esse centro de pesquisa estava situado nas imediações da cidade de Sverdlovsk, na Rússia. Em 1979, houve um vazamento dos esporos de antraz da Biopreparat, o que provocou a contaminação de pessoas e animais. Ao menos 68 mortes de humanos foram confirmadas. O desastre de Sverdlovsk serviu para definir novos rumos para o ramo de pesquisas em biotecnologia, entretanto, muitos Estados continuam com pesquisas em tecnologia de armas biológicas com agentes como o antraz. Nesse contexto, não é possível prever se tais armas serão realmente usadas em guerras convencionais ou se serão roubadas ou “imitadas” por grupos terroristas.
Vale ressaltar que, para confirmar o diagnóstico de contaminação por antraz, é necessário analisar amostras de sangue e secreções para verificar a presença do bacilo. Os resultados dos exames são liberados cerca de 48 horas depois da coleta do material. Após confirmado o diagnóstico, o tratamento inicia-se e é feito com antibióticos, que deverão ser prescritos por um médico.
A vacina contra o antraz existe, mas só é usada em pessoas que apresentam riscos de contaminação, como trabalhadores rurais e militares. A Organização Mundial de Saúde não recomenda a vacinação em massa.
Nota
[1] Dora Rambauske, Telma Abdalla de Oliveira Cardoso, Marli Brito Moreira de Albuquerque Navarro. Physis – Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 24 [4], 2014, p. 1186.
Por Me. Cláudio Fernandes e Ma. Vanessa dos Santos