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Peronismo

O peronismo corresponde ao governo de Juan Domingo Perón, na Argentina, entre os períodos de 1946 e 1955 e entre 1973 e 1974. Ficou marcado pelo populismo e autoritarismo.

Juan Domingo Perón foi presidente da Argentina (em seu primeiro governo) entre 1946 e 1955. Ficou conhecido por ser populista e autoritário.*
Juan Domingo Perón foi presidente da Argentina (em seu primeiro governo) entre 1946 e 1955. Ficou conhecido por ser populista e autoritário.*
Crédito da Imagem: shutterstock
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O peronismo é como conhecemos o período da história argentina em que Juan Domingo Perón foi o presidente desse país. O fenômeno do peronismo aconteceu especificamente entre 1946 e 1955 e entre 1973 e 1974. O enfoque deste texto é o primeiro período do peronismo, que aconteceu entre 1946-55.

O líder do peronismo, Juan Domingo Perón, é considerado como um dos grandes símbolos do populismo na América Latina. Neste texto, o enfoque será da ascensão de Perón e dos principais acontecimentos de seu primeiro governo.

 

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Tópicos deste artigo

Contexto histórico

A ascensão de Perón na política da Argentina ocorreu na primeira metade da década de 1940, em particular, a partir do golpe de 4 de junho de 1943. Esse golpe foi responsável por colocar o Grupo de Oficiais Unidos (GOU) no poder da Argentina. Esse era um grupo de militares ultraconservadores, extremamente católicos e dos quais muitos simpatizavam com o nazifascismo.

Durante esse governo do GOU, ficou acertada a necessidade do combate a todo tipo de agitação política, sobretudo a realizada por grupos comunistas e sindicatos. O historiador Luis Alberto Romero define esse governo do GOU como “autoritário, antiliberal e messiânico, obcecado pela fundação de uma nova ordem social e por evitar o caos do comunismo”|1|.

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Durante esse período, um membro do governo começou a destacar enormemente na nação: Juan Domingo Perón. O militar argentino assumiu a Secretaria do Trabalho e Provisão, em dezembro de 1943, e nela estreitou seus laços com a classe de trabalhadores e com os sindicalistas da Argentina.

Além de ampliar o contato do governo com as centrais sindicais, Perón promoveu, durante sua gestão, uma série de benefícios aos trabalhadores argentinos. Segundo Luis Alberto Romero, “ampliou-se o regime de aposentadorias, férias remuneradas, acidentes de trabalho; foram ajustadas as categorias profissionais e, em geral, se equilibraram as relações entre patrões e trabalhadores”|2|.

O crescimento da influência de Perón possibilitou o alcance ao posto de vice-presidente da Argentina (o presidente era Edelmiro Farrell) e ao passo que construía o seu projeto político baseado na aproximação com os operários, no anticapitalismo, na defesa de questões de justiça social e na promoção de ataques à oligarquia, os empresários e a elite econômica da Argentina optaram por romper com Perón.

O resultado disso foi uma conspiração contra Perón, que levou à sua prisão em 8 de outubro de 1945. Perón renunciou seus cargos e foi aprisionado na Ilha Martín García. A reação à prisão de Perón foi imediata com a mobilização dos sindicatos, principalmente da Confederação Geral do Trabalho (CGT).

As centrais sindicais da Argentina optaram por fazer manifestações públicas e essas acabaram acuando o presidente Farrell. Assim, no dia 17 de outubro, Perón foi libertado da prisão e saiu fortalecido, o que fortaleceu seu caminho em direção à presidência do país. Na campanha presidencial, Perón contou com o apoio do Exército e da Igreja e na eleição de 1946 ganhou a disputa com cerca de 300 mil votos a mais que seu rival, José Tamborini.

Governo peronista

Juan Domingo Perón governou a Argentina em dois mandatos, entre 1946 e 1955, e teve seu segundo mandato interrompido por um golpe militar que forçou seu exílio do país. O governo de Perón ficou marcado pela corrosão das estruturas democráticas da Argentina (que naquele período já eram bastante frágeis), por implantar um governo populista e autoritário. Para saber mais sobre esse modelo de governo, sugerimos a leitura deste texto: O que é populismo?

Na questão da economia, o governo de Perón foi beneficiado pela condição favorável a qual encontrou a Argentina, principalmente, porque as reservas cambiais do país estavam altas por conta da Segunda Guerra Mundial. Perón continuou com a política praticada nos tempos do GOU, de incentivar a indústria argentina, uma vez que a agropecuária do país estava em crise.

Perón também promoveu uma política de distribuição de renda, que foi responsável por aumentar o consumo da população, mas esse aumento no consumo resultou em um aumento na inflação. A política econômica de Perón também ficou marcada pela postura nacionalista com a nacionalização de ferrovias e do Banco Central, por exemplo.

No campo da política externa, Perón procurou implantar uma terceira via e, assim, não se sujeitou aos Estados Unidos, tampouco à União Soviética e procurou ter relações neutras com ambos (apesar das relações com os Estados Unidos serem ruins).

Na questão do trabalho, Perón procurou manter o diálogo aberto com os sindicatos, como uma forma de controlá-los e de reduzir a atuação combativa dos trabalhadores a seu governo. A partir de 1947, essa mediação entre governo e sindicato passou a ser realizado por Evita Perón, esposa do presidente. Eva Perón foi uma figura essencial para o peronismo e representou a imagem do “Estado benfeitor”. Luis Alberto Romero fala que a fundação de Eva Perón

Financiada com fundos públicos e contribuições particulares mais ou menos voluntárias, a fundação realizou obras de grande magnitude: criou escolas, lares para idosos e órfãos, e centros médicos; distribuiu alimentos e presentes de natal; estimulou o turismo e os esportes, por meio de campeonatos infantis ou juvenis de dimensão nacional, batizados com os nomes do casal governante|3|.

No campo político, Perón neutralizou os seus opositores, mas ainda de uma forma muito tímida. O presidente argentino considerava refazer as instituições políticas do país e reduzir a importância da democracia no país por meio da sujeição dos poderes da Constituição aos interesses do Executivo.

Evita Perón, primeira esposa de Perón, foi uma figura importante do seu primeiro mandato. Acabou falecendo em 1952, vítima de câncer.**
Evita Perón, primeira esposa de Perón, foi uma figura importante do seu primeiro mandato. Acabou falecendo em 1952, vítima de câncer.**

O governo interveio na Suprema Corte do país, o único governado antiperonista do país foi deposto, a autonomia universitária teve fim, os opositores do regime no Legislativo foram perseguidos e os jornais de oposição começaram a sofrer represálias e os deputados tinham de dar garantias de sua disciplina ao governo|4|.

Como parte de seu projeto, Perón criou o Partido Peronista, que tinha toda a sua estrutura subordinada ao presidente. Perón, ainda moldou sua negociação como forma de conciliar os diversos interesses, reforçou seu papel de líder do país e procurou modificar as instituições do país para que elas reproduzissem a ideologia do governo.

O governo peronista também organizava grandes manifestações públicas, principalmente, em datas específicas e de importância, como forma de mostrar a força do regime. Muitas dessas manifestações forçavam o comparecimento de pessoas. Durante todo o seu governo, Perón realizou ataques à “oligarquia” que prejudicavam o país, mas não retirou nenhum dos privilégios que a elite argentina gozava, demonstrando que seus ataques contra a “oligarquia” eram apenas ação retórica.

O segundo mandato de Perón foi garantido quando venceu a eleição presidencial de 1951, com cerca de 64% dos votos, derrotando Ricardo Balbín. Nesse mesmo ano, Perón havia sobrevivido a uma tentativa de golpe contra o seu governo realizada por membros das Forças Armadas. O segundo governo de Perón ficou marcado pelo reforço do autoritarismo e pela radicalização da oposição.

Um símbolo da radicalização da oposição foi um atentado à bomba realizado contra Perón, em abril de 1953. A represália do governo foi o de enviar grupos de apoio para incendiar locais frequentados pelos opositores do regime peronista. A queda do regime de Perón ocorreu quando ele perdeu o apoio de um grupo importante: a Igreja Católica.

A briga entre Igreja Católica e o governo mobilizou a Marinha contra Perón. Um atentado contra a Casa Rosada foi organizado em 16 de junho de 1955, mas fracassou e resultou na morte de 300 pessoas que estavam na Plaza de Mayo.

Depois disso, a vida de Perón no governo foi curta, uma vez que, em 16 de setembro de 1955, um levante militar em Córdoba forçou Perón a ficar refugiado na embaixada do Paraguai. No dia 23 de setembro, o general Lombardi proclamou-se presidente da Argentina, marcando o fim do primeiro governo de Perón.

Peronismo e fascismo

O peronismo é um fenômeno político de difícil entendimento e isso acabou gerando uma série de dúvidas a respeito das raízes ideológicas desse regime. Uma delas diz respeito às possíveis semelhanças entre peronismo e fascismo. Existem, sim, algumas características em comum entre os dois regimes, mas o consenso entre os historiadores é de que o peronismo não foi um fenômeno político fascista.

De toda forma, as semelhanças entre peronismo e fascismo que podem ser destacadas são o temor dos dois regimes políticos ao comunismo, as ações em ampliar o aparato de propaganda do governo, o autoritarismo, as tentativas de aproximação do governo com os sindicatos e de ser o mediador das relações entre patrão e empregado etc. Perón, inclusive, mantinha certa admiração pelo regime fascista.

Acesse também: Conheça um dos episódios responsáveis pelo suicídio de Vargas em 1954

Peronismo e getulismo

O regime de Perón também é muito comparado com o governo de Getúlio Vargas, presidente do Brasil entre 1930 e 1945 e entre 1951 e 1954. Existem muitas semelhanças entre os dois regimes, mas é importante frisar que são fenômenos políticos que surgiram como resultado do contexto político de cada um dos países envolvidos. Os dois governos, porém, são encarados como governos populistas.

Uma aproximação entre os dois projetos políticos é fornecido pelo historiador Boris Fausto que fala que “ambos pretendiam promover no plano político reduzir as rivalidades entre as classes, chamando as massas populares e a burguesia nacional a uma colaboração promovida pelo Estado”|5|. Apesar disso, é importante frisar que existem também muitas diferenças entre peronismo e getulismo.

O peronismo, porém, foi bastante explorado aqui no Brasil como objeto de ataque para Getúlio Vargas, durante seu segundo governo. Vargas foi frequentemente atacado, entre os anos de 1951 e 1954, por querer, tal qual Perón, implantar uma “República sindicalista” no Brasil. Nos olhos da oposição de Vargas, o governo de Perón era um regime comunista, mas o historiador argentino Luis Alberto Romero defende que a plataforma ideológica de Perón era conservadora|6|.

|1| ROMERO, Luis Alberto. História Contemporânea da Argentina. Rio de Janeiro: Zahar, 2006, p. 92.
|2| Idem, p. 93.
|3| Idem, p. 104.
|4| Idem, pp. 106-107.
|5| FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013, p. 330.
|6| ROMERO, Luis Alberto. História Contemporânea da Argentina. Rio de Janeiro: Zahar, 2006, p. 121.

*Créditos da imagem: FGV/CPDOC
**Créditos da imagem: Neftali e Shutterstock


Por Daniel Neves
Graduado em História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Peronismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/peronismo.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

De estudante para estudante


Lista de exercícios


Exercício 1

(PUC-RJ/2014) Na Argentina contemporânea, é possível perceber a permanência e a força do peronismo na eleição de diversos e sucessivos governantes que se dizem seus herdeiros. As alternativas abaixo expressam características da experiência política do governo Perón de 1946-1955.

I – Antes de sua eleição em 1946, Juan Domingo Perón ocupou o cargo de secretário do Trabalho e Previdência Social, no governo instaurado em 1943 pelos militares do GOU, no exercício do qual iniciou uma política trabalhista que, em pouco tempo, o transformou em importante líder dos trabalhadores.

II – Em 1955, Perón concorre à reeleição e perde para o candidato da União Democrática, deixando o poder depois de dez anos, apesar do apoio das Forças Armadas, da Igreja e dos trabalhadores.

III – Muitas medidas de caráter nacionalista foram levadas avante pelo governo peronista, desde a nacionalização das estradas de ferro e de outras empresas de transporte, de empresas elétricas, dos serviços telefônicos, até a criação de uma frota aérea do Estado (Aerolíneas Argentinas) e da empresa Gás do Estado.

IV – O peronismo caracterizou-se pela introdução de uma política de massas que resultou na configuração de um Estado intervencionista, tendo à frente um líder carismático que conduziu uma política baseada na ideia de “Justicialismo”.

São afirmativas corretas:

a) II e IV.

b) I, II e III.

c) I e IV.

d) I, III e IV.

e) Todas.

Exercício 2

Uma das principais características do peronismo, na Argentina, foi a aproximação desse governo com os trabalhadores. Uma figura crucial na aproximação de Perón com os trabalhadores durante seu governo foi

a) Isabel Perón.

b) Evita Perón.

c) José Tamborini.

d) Ricardo Balbín.

e) José Félix Uriburu.