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John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973), mais conhecido pelas iniciais postas à frente do sobrenome, J.R.R. Tolkien, tornou-se mundialmente famoso por causa do universo literário que criou, a “Terra Média”, onde ambientou romances como O Hobbit e O Senhor dos Anéis. Tolkien, além de ter sido um dos maiores representantes do gênero literário da fantasia, também foi um grande pesquisador universitário. Seu campo de atuação era a filologia, o estudo histórico e etimológico de línguas.
Um dado de extrema importância sobre a vida de Tolkien é sua participação na Primeira Guerra Mundial. Assim como o seu amigo e também escritor, C. S. Lewis, e milhares de jovens intelectuais da mesma época, Tolkien teve de ir para o front de batalha quando a guerra já estava em processo avançado no ano de 1916. Nos anos anteriores, batalhas como a de Yprès, na Bélgica, onde foram usados gases tóxicos, já haviam mostrado a face catastrófica da guerra. Em 1916, outras duas batalhas produziriam uma carnificina nunca vista, a Batalha de Verdun e a Somme. Tolkien participou dessa última.
O agrupamento das forças armadas britânicas ao qual Tolkien estava vinculado era o Primeiro Batalhão dos “Lancashire Fusiliers”, que esteve presente na Batalha de Somme. Nessa batalha, só no primeiro dia de combate, houve 30.000 soldados britânicos feridos e quase 20.000 mortos. As impressões dessa batalha povoaram a imaginação de Tolkien por muitos anos. As visões de homens dilacerados, mutilados, de rosto deformado e corpos apodrecidos conduziram-no anos mais tarde à elaboração da imagem do lago dos mortos, em O Senhor do Anéis, e também à imagem dos orcs, com sua deformidade física acentuada.
Antes de ir para a guerra, Tolkien já havia se casado com Edith Bratt e enviava à esposa várias cartas. Em algumas delas, mencionava as situações pelas quais passava em meio à guerra, as meditações sobre o trabalho que queria voltar a desenvolver em Oxford, onde trabalhava como professor, as ideias para o desenvolvimento da língua élfica e outros elementos ficcionais que seriam incorporados em suas obras.
Em uma das ocasiões de combate, Tolkien contraiu febre das trincheiras e ficou hospitalizado. Nesse período, começou a escrever os contos “A Queda de Gondolin” e “O nascimento de Eärendil”, como ele próprio relata em carta à editora Houhgton Miffin Co, em julho de 1955:
“A Queda de Gondolin (e O nascimento de Eärendil) foi escrita no hospital e de licença depois de sobreviver à Batalha do Somme em 1916. A parte central da mitologia, a questão de Lúthien Tinúviel e Beren, surgiu de uma pequena clareira na floresta cheia de “cicutas” (ou de outras umbelíferas brancas) próxima a Roos na península de Holderness — para onde eu ocasionalmente ia quando ficava livre das obrigações regimentais na época em que estava na Guarnição de Humber em 1918.”
Ao contrário de autores como Erich Maria Remarque e Ernst Jünger, que escreveram seus romances “Nada de novo no front” e “Tempestades de aço”, respectivamente, retratando os acontecimentos da Primeira Guerra de forma realista, Tolkien preferiu incorporar esses acontecimentos de forma alegórica em suas obras de ficção fantástica.
Por Me. Cláudio Fernandes