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Meio técnico-científico-informacional é um conceito elaborado pelo geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001) para designar o atual estágio de desenvolvimento do meio geográfico. O meio técnico-científico-informacional surgiu a partir da década de 1970, impulsionado pelas inovações tecnológicas e descobertas científicas da Terceira Revolução Industrial.
Esse estágio é caracterizado pela maior artificialização do meio geográfico, sendo marcado pela intensa transformação promovida pelas atividades humanas e pela maior difusão de técnicas, do conhecimento científico e da informação em escala mundial. Nesse contexto, instaurou-se uma nova lógica global orientada pelos agentes hegemônicos, com destaque para o mercado e as grandes empresas.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o meio técnico-científico-informacional
- 2 - O que é meio técnico-científico-informacional?
- 3 - Quais são as características do meio técnico-científico-informacional?
- 4 - Conceito de meio técnico-científico-informacional, segundo Milton Santos
- 5 - Como surgiu o meio técnico-científico-informacional?
- 6 - Globalização e meio técnico-científico-informacional
- 7 - Quais são os efeitos do avanço do meio técnico-científico-informacional?
- 8 - Diferenças entre os meios natural, técnico e técnico-científico-informacional
Resumo sobre o meio técnico-científico-informacional
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Meio técnico-científico-informacional é o estágio atual de desenvolvimento do meio geográfico.
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O conceito de meio técnico-científico-informacional foi desenvolvido pelo geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001).
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Caracteriza-se pela presença maciça dos objetos técnicos, pela aplicação da ciência e pelos intensos fluxos de informações. Todos esses elementos atuam em conjunto na transformação e reprodução do espaço geográfico.
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Trata-se de um meio bastante artificial, em que a natureza se apresenta como complementar às atividades humanas.
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O meio técnico-científico-informacional é resultante das transformações do meio técnico, proporcionadas pela união entre a ciência, a tecnologia e a informação.
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O meio técnico é o meio intermediário entre o meio natural, caracterizado pela harmonia entre as atividades humanas e a natureza, e o meio técnico-científico-informacional.
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O advento do meio técnico-científico-informacional aconteceu na fase recente da globalização, a partir da década de 1970. Isso foi possível em função das inovações tecnológicas e científicas da Terceira Revolução Industrial.
O que é meio técnico-científico-informacional?
Meio técnico-científico-informacional é um termo designado pelo geógrafo Milton Santos (1926-2001) para caracterizar o terceiro e atual estágio de desenvolvimento do espaço geográfico (espaço alterado pelas atividades humanas), marcado pela maior artificialização do meio, que é resultado da união entre a técnica e a ciência, aliada aos novos recursos da informação, e menor dependência do meio natural. Nesse contexto, o meio natural se torna complementar às atividades econômicas e humanas.
Alcançar esse estágio somente foi possível com o avanço da ciência e o aprimoramento das técnicas da informação e da comunicação que aconteceram a partir da segunda metade do século XX, mais precisamente após a década de 1970. Tinha início, então, a nova e atual fase do processo de globalização, inaugurada pelo advento do meio técnico-científico-informacional.
Quais são as características do meio técnico-científico-informacional?
O meio técnico-científico-informacional pode ser caracterizado pelo intenso emprego da tecnologia e da ciência na transformação e reprodução do espaço geográfico. Junto das novas descobertas científicas que auxiliaram, sobretudo, na ampliação da escala do processo de produção econômica e de reprodução do capital, está a maior circulação de informações sobre o meio, o que foi fundamental para a criação de uma rede global de trocas e para a intensificação dos fluxos de naturezas diversas em escala mundial. Criou-se, com isso, uma nova lógica global que se impõe sobre todos os territórios|1|.
Os meios de comunicação e de transporte foram aperfeiçoados graças aos avanços no campo da ciência, criando uma maior conexão entre os espaços e os lugares. Dessa forma, o meio técnico-científico-informacional é marcado pelo grande dinamismo espacial, resultado da maior circulação de capitais, de pessoas, de mercadorias e, principalmente, de informações entre diferentes territórios.
Os agentes econômicos, como o mercado financeiro e as empresas transnacionais, se beneficiaram desse novo momento, com o maior emprego e a difusão de técnicas modernas de produção e a possibilidade de criar cadeias globais de produção. Essas técnicas, é bom lembrarmos, são carregadas de informações, de conhecimento. Conforme reforça Milton Santos, o espaço geográfico, nesse novo período técnico-científico-informacional, passa a atender aos interesses dos agentes hegemônicos|2|.
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Conceito de meio técnico-científico-informacional, segundo Milton Santos
Milton Santos (1926-2001) é um dos intelectuais mais importantes do Brasil e um dos principais nomes da Geografia. Sua extensa obra é dedicada ao pensamento e construção da Geografia enquanto ciência e, também, à análise do espaço geográfico e das interações entre a sociedade e o meio. Milton Santos foi um grande analista do processo de globalização e dos impactos gerados sobre a humanidade e sobre o meio, tendo cunhado o termo “meio técnico-científico-informacional”.
A abordagem do meio técnico-científico-informacional acontece em diversos artigos e livros escritos por Milton Santos ao longo de sua carreira. O principal deles é o livro intitulado A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção, publicado pela primeira vez em 1996. Tudo o que apresentamos até aqui a respeito do meio técnico-científico-informacional tem como base a produção de Milton Santos.
De maneira resumida, em seu livro Técnica, Espaço, Tempo (1994), Milton definiu meio técnico-científico-informacional da seguinte forma|3|:
“O meio técnico-científico-informacional é um meio geográfico onde o território inclui, obrigatoriamente, ciência, tecnologia e informação.” (SANTOS, 2013, p. 41)
Como surgiu o meio técnico-científico-informacional?
O meio técnico-científico-informacional, enquanto meio geográfico, tem origem após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), na segunda metade do século XX, mais precisamente durante os anos 1970. Um dos processos de maior importância para o surgimento e consolidação do meio técnico-científico-informacional foi o advento da Terceira Revolução Industrial, que ficou conhecida pelo avanço tecnológico na indústria e pela maior aplicação dos métodos científicos no processo de produção e no campo da tecnologia.
Essa nova fase da Revolução Industrial contou com o surgimento de novas tecnologias da comunicação e com o aperfeiçoamento técnico dos meios já existentes. Tais mudanças foram cruciais para a difusão tecnológica em escala internacional, o que ocorreu junto à maior presença das empresas multinacionais em todo o mundo, consolidando uma nova fase do sistema capitalista: o capitalismo financeiro.
Globalização e meio técnico-científico-informacional
A nova lógica global de produção e de reprodução do espaço geográfico é pautada na ciência, na tecnologia e na informação, presente tanto nos instrumentos técnicos, no conhecimento científico, como nas redes e fluxos. Entretanto, embora o meio técnico-científico-informacional tenha adquirido escala global, as técnicas e a informação não se distribuem de maneira homogênica pelos países e territórios, deixando à margem desse processo as nações mais pobres e subdesenvolvidas.
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Quais são os efeitos do avanço do meio técnico-científico-informacional?
O avanço do meio técnico-científico-informacional provocou uma série de efeitos sobre a dinâmica do espaço geográfico, sobre a economia mundial e sobre a sociedade como um todo. Dentre esses efeitos, podemos destacar os seguintes:
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intensificação dos fluxos de capitais, mercadorias e pessoas sobre um espaço altamente conectado por meio das redes geográficas;
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surgimento de uma nova divisão internacional do trabalho;
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advento de cadeias de produção globais, com a maior presença das empresas transnacionais em todo o mundo;
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maior desenvolvimento tecnológico das comunicações, dos transportes e do setor produtivo;
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avanços no campo da ciência e maior aplicação do conhecimento científico na produção econômica;
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ampliação e padronização do consumo em escala mundial.
Diferenças entre os meios natural, técnico e técnico-científico-informacional
→ Meio natural
O meio natural é descrito por Milton Santos como o meio dado, isto é, existente antes mesmo da presença da humanidade sobre o planeta Terra. Esse meio não foi produzido pela ação humana, e, ao contrário, havia uma relação de harmonia entre as atividades desempenhadas pelos grupamentos populacionais e a natureza, haja vista que os seres humanos retiravam dela os recursos necessários para a sua sobrevivência.
As atividades praticadas eram a agricultura, a pecuária e o extrativismo, demonstrando a relação direta de dependência do ser humano com relação ao meio natural. As técnicas já existiam enquanto prática, mas eram voltadas a atividades como a domesticação de animais e de plantas, e não havia a inserção de objetos técnicos.
→ Meio técnico
O meio técnico pode ser descrito como um estágio intermediário entre o meio natural e o meio técnico-científico-informacional. O surgimento do meio técnico foi marcado pela transformação do espaço pela ação humana mediante a utilização de objetos técnicos, como maquinários, fábricas e cidades, que proporcionaram o aparecimento de novos modos de vida e meios de produção, alterando assim a relação entre os seres humanos e a natureza.
O período técnico pode ser caracterizado pelo processo de urbanização e pelo avanço da industrialização em diferentes partes do mundo, tendo se processado em tempos distintos. O comércio e o fluxo de mercadorias ganham força nesse período, e novas lógicas de ordenamento espacial locais, regionais e nacionais se impõem.
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Meio técnico-científico-informacional: é o estágio atual do meio geográfico. O meio técnico-científico-informacional é caracterizado pela intensificação da presença de objetos técnicos modernos e da ciência no processo de transformação do espaço, além de um intenso fluxo de informações. Instalou-se, com ele, uma nova lógica de ordenamento espacial que adquiriu escala global.
Notas
|1| SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. 4 ed. 2 reimp. (Coleção Milton Santos; 1).
|2| Idem.
|3| SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e Meio Técnico-Científico-Informacional. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013. 5 ed. 1 reimp. (Coleção Milton Santos; 11).
Créditos da imagem
[1] TV Brasil / Wikimedia Commons
Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia