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No ano de 2006, a Venezuela havia entrado com um pedido de ingresso como membro permanente do Mercosul (Mercado Comum do Sul), buscando uma maior integração em termos comerciais, econômicos e políticos com os demais membros efetivos do bloco: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. No ano de 2012, o ingresso dos venezuelanos foi efetivado, o que gerou profundas discussões sobre as possibilidades envolvidas na entrada da Venezuela no Mercosul.
Um lado desse debate é referente à forma como ocorreu a integração da Venezuela ao Mercosul*. O governo paraguaio, mais especificamente o senado desse país, sempre se opôs à entrada dos venezuelanos no bloco, principalmente em função das divergências políticas para com o governo do então presidente Hugo Chávez, que foi sucedido pelo seu seguidor Nicolás Maduro.
À mesma época, o então presidente do Paraguai, Fernando Lugo, foi alvo de uma espécie de golpe de Estado, quando em apenas dois dias o congresso paraguaio destituiu-o de seu cargo através de um controverso e mal explicado processo de impeachment. Tal episódio gerou uma repercussão negativa por parte dos governos sul-americanos, que excluíram temporariamente o Paraguai do Mercosul até que um processo eleitoral verdadeiramente democrático ocorresse no país. Durante esse meio tempo, sem a oposição paraguaia podendo atuar, a Venezuela teve aprovado o seu ingresso como membro efetivo do Mercosul, gerando críticas por parte dos setores que enxergam de forma cética o crescimento da influência do chavismo na América do Sul.
Talvez o grande problema existente nos debates sobre as vantagens e desvantagens da permanência da Venezuela no Mercosul esteja na raiz ideológica dos debatedores. Pensadores mais conservadores acusam os governos de Chávez e Maduro de serem antidemocráticos, embora a maioria desses mesmos pensadores tenha apoiado o golpe no Paraguai, um verdadeiro exemplo de atitude antidemocrática, enquanto os respectivos presidentes venezuelanos foram eleitos pelo voto popular.
No entanto, em linhas gerais, há que se considerar que a entrada da Venezuela no Mercosul possui mais motivações políticas do que econômicas, pois aproxima os governos de centro-esquerda que atuam em todos os países desse bloco, exceto o próprio Paraguai.
Em termos econômicos, a entrada da Venezuela aumenta o potencial energético do Mercosul, haja vista que os venezuelanos estão entre os maiores produtores e exportadores de petróleo do mundo. Além disso, a Venezuela é uma grande importadora de alimentos e produtos industrializados, o que pode, de certa forma, propiciar uma oportunidade para o mercado exportador do cone sul.
Os pontos negativos apontados envolvem, sobretudo, a política externa acirrada da Venezuela e suas relações com os Estados Unidos, o que gera incertezas, haja vista que os norte-americanos possuem amplas relações de exportação e importação com o Mercosul. Vale lembrar, no entanto, que mesmo com as divergências políticas, os Estados Unidos são os maiores importadores do petróleo venezuelano e um dos que mais exportam para esse país.
Para uma avaliação mais concreta sobre a entrada da Venezuela no Mercosul, será preciso aguardar e analisar como serão os próximos anos, no sentido de observar como se estabelecerão as relações comerciais. Há indícios de que os venezuelanos possam não aceitar certos acordos em implementar a Tarifa Externa Comum (TEC) em relação a determinados produtos, incluindo o petróleo, o que poderá ser considerado um grave problema. De toda forma, para uma melhor conclusão sobre o tema, será preciso que cientistas políticos e economistas deixem de lado suas visões ideológicas e analisem o tema de forma mais imparcial.
* A Venezuela foi suspensa do Mercosul em dezembro de 2016.
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¹ Créditos da imagem: Valter Campanato (Agência Brasil) / Wikimedia Commons
Por Rodolfo Alves Pena
Graduado em Geografia