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Não podemos dizer ao certo quando nasceu e morreu Parmênides, apenas localizá-lo entre o final do século IV e começo do século V a.C. Sabemos, no entanto, que ele foi o criador da Escola Eleática. O pensamento da escola eleática, dos quais também são representantes Melisso e Zenão, é marcado por não procurar uma explicação da realidade baseada na natureza.
As preocupações dos filósofos eleatas eram mais abstratas e podemos ver nelas o primeiro sopro de uma lógica e de uma metafísica. Defendiam a existência de uma realidade única, por isso ficaram conhecidos também como monistas, em oposição ao mobilismo. A realidade para eles é única, imóvel, eterna, imutável, sem princípio ou fim, contínua e indivisível.
Parmênides escreveu em forma de poema suas principais ideias filosóficas. Sobreviveram ao tempo 160 versos, que são considerados o maior texto dos pré-socráticos.
Dividido em três partes – Proêmio, Primeira Parte e Segunda Parte –, o poema Sobre a Natureza apresenta que há dois caminhos de compreensão da realidade. O primeiro, o da verdade, da razão e da essência, é o mais importante e aquele que ressoa na obra de filósofos posteriores. Se a pessoa é conduzida apenas pela razão, entenderá que “o que é, é – e não pode deixar de ser”.
O Ser para Parmênides:
Parmênides defendeu quatro argumentos que são um ponto de partida para as suas afirmações a respeito dos atributos do Ser. Os argumentos são:
1) O ser é e não pode não ser;
2) O nada (não ser) não é e não pode ser;
3) Pensar e ser são o mesmo;
4) O não ser não pode ser pensado nem enunciado;
Vejamos como esses quatro argumentos levam aos atributos do Ser:
1) O ser é idêntico a si mesmo: se o Ser fosse diferente de si mesmo, ele não seria o que “é”. Em outras palavras: se não fosse idêntico a si mesmo, o Ser não seria ele mesmo, o que é impossível, pois, o ser “não pode não ser”.
2) O ser é um: Não podemos conceber que exista outro Ser, pois, se houvesse um “segundo ser”, ele seria diferente do “primeiro ser” — o que é impossível, pois, assim, “o primeiro ser” teria que não ser o “segundo ser” e teria que ser compreendido como não sendo. Além disso, é absurdo pensar que o Ser não é. Por isso, só pode existir um Ser.
3) O Ser não pode ser gerado: Nada pode ser gerado do nada (“o nada não é e não pode ser”), então ele não pode dar origem ao Ser. Se fosse gerado de outro Ser, como vimos no ponto 2, isso seria admitir que existem dois seres e um deles seria o “não ser” de outro, e isso é impossível.
4) O ser é imperecível: Parmênides diz que, se não é gerado, o Ser também é imperecível, pois, do contrário, tornar-se-ia o não ser. Se o Ser não é gerado, existiu desde todo sempre, então ele já teria experimentado todas as condições que poderiam fazê-lo deixar de ser. Se isso não aconteceu, é porque o Ser é “sem começo e sem fim”, ou seja, em relação ao tempo, o ser é eterno.
5) O ser é indivisível: Se o Ser pudesse ser dividido, da divisão resultariam seres múltiplos – o que é impossível, como vimos no ponto 2. Do mesmo modo, cada um desses múltiplos seres seria o não ser do outro, o que também é impossível. Também presumiríamos, a partir da divisão, a existência de um Ser que dividiria o outro ser. Logo, como disse Parmênides no fragmento B8:
[O Ser] Nem é divisível, visto ser todo homogêneo (...), mas é todo cheio do que é.*
6) O ser é imutável. A mudança faria com o que o Ser deixasse de ser aquilo que é e se tornasse algo que ainda não é. Desse modo, admitir a possibilidade de mudança seria admitir o contrário daquilo que já estudamos: o que não é ser nada é, ou seja, passaríamos a concordar com a existência do não ser. Se até mesmo a passagem de tempo não é admitida no pensamento parmenidiano, pois o Ser seria eterno, não é difícil entender que as outras mudanças devem ser excluídas, pois só é possível pensar em mudança em relação à temporalidade. Só percebemos a mudança de um objeto A porque no passado ele era A e, no momento presente, ele é B. É por isso que Parmênides diz que o Ser "jamais foi nem será, pois é, no instante presente”.
7) O ser é imóvel: Da mesma forma que a temporalidade está associada à mudança, está associada ao espaço: para mover de um lugar ao outro é preciso, também, deslocar-se no tempo. Para entender melhor, não conseguimos estar na escola e no shopping ao mesmo tempo. No entanto, para sair da escola e chegar ao shopping, é preciso que exista uma passagem de tempo. Como, para Parmênides, o Ser está fora da categoria de “tempo”, pois é eterno, também não podemos colocá-lo na categoria de “espaço”. Por isso, Parmênides diz que o ser “descansa em si próprio, sempre (…) no mesmo lugar”.
*A citação do poema “Sobre a Natureza” é conforme a tradução do Professor Dr. José Gabriel Trindade Santos. Modificada pelo tradutor. Primeira edição, Loyola, São Paulo, Brasil, 2002. Disponível em: http://charlezine.com.br/wp-content/uploads/Da-Natureza-Parm%C3%AAnides.pdf.
Por Wigvan Pereira
Graduado em Filosofia