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Amor platônico

O amor platônico é um processo de elevação espiritual que parte da admiração pela beleza física até alcançar a contemplação do Belo em sua essência.

Imagem explicando o que é amor platônico.
O amor platônico transcende a ideia do amor idealizado e inacessível.
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O amor platônico é um processo de elevação espiritual que parte da admiração pela beleza física até alcançar a contemplação do Belo em sua essência, transcendendo a ideia popular de amor idealizado e inacessível. Sua história reflete transformações significativas, desde as relações pedagógicas na Grécia Antiga, passando pelo neoplatonismo cristão, que o interpretou como busca espiritual, até o renascimento, que o exaltou como um ideal estético e moral, e o romantismo, que destacou seu caráter trágico e emocional.

Na filosofia, ele é representado por Eros, um desejo transformador que guia a alma rumo ao conhecimento e à transcendência, ao lado de outras formas de amor, como a Philia, que reflete amizade e reciprocidade, e o Ágape, que simboliza o altruísmo e o amor incondicional. Na literatura, foi reinterpretado de formas marcantes, como em Dante, que o associou à elevação espiritual, e nos românticos, que intensificaram sua dimensão emocional. Essas diversas perspectivas evidenciam a riqueza e a complexidade do conceito, que se mantém relevante ao longo da história.

Leia também: Platão — um dos principais pensadores do período antropológico da filosofia grega

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o amor platônico

  • O amor platônico é um processo de elevação da alma que começa na admiração pela beleza física e culmina na contemplação do Belo em sua essência, refletindo uma busca filosófica pela Verdade e transcendência, muito além da visão popular de um amor idealizado e inalcançável.
  • Originado na Grécia Antiga, o conceito de amor platônico evoluiu do contexto filosófico das relações pedagógicas descritas por Platão, foi reinterpretado pelo neoplatonismo cristão na Idade Média como busca espiritual, e redescoberto no renascimento como ideal humanista que exaltava a beleza e a elevação moral.
  • Na filosofia de Platão, o amor platônico é representado por Eros, um desejo transformador que impulsiona a alma em direção ao conhecimento e ao divino, percorrendo um caminho que começa na atração pela beleza sensível e culmina na busca pela essência do Belo e da Verdade.
  • O conceito de amor platônico passou por transformações históricas, saindo do contexto filosófico grego e se tornando uma expressão de elevação espiritual no neoplatonismo cristão, um ideal estético no renascimento, e um símbolo de amor trágico no romantismo, até assumir significados simplificados na contemporaneidade.
  • A literatura incorporou e reinterpretou o amor platônico em diferentes épocas, como na obra A divina comédia, de Dante, que o apresenta como uma força espiritual; na poesia renascentista de Petrarca, que explora a tensão entre amor carnal e ideal; e no romantismo, que intensificou sua dimensão emocional e trágica.
  • Na filosofia grega, Eros é o desejo de beleza e conhecimento, Philia é o amor de amizade e reciprocidade, e Ágape é o amor altruísta e incondicional, formando um panorama que reflete a complexidade das relações humanas e seu papel na ética, na busca espiritual e na construção social.

O que é o amor platônico?

Representação do conceito de amor platônico.
Platão apresenta o amor como um processo que começa com a admiração pela beleza física e progride até alcançar a contemplação da essência do Belo.

Amplamente difundido na cultura popular, o conceito de amor platônico é frequentemente associado a uma forma de amor idealizado, inatingível ou desvinculado de qualquer interação física. No entanto, essa interpretação superficial contrasta com as ideias mais complexas e profundas desenvolvidas por Platão, em que o amor é um motor filosófico que guia a alma na busca pelo conhecimento e pela Verdade.

No diálogo O banquete, Platão apresenta o amor como um processo que começa com a admiração pela beleza física e progride até alcançar a contemplação da essência do Belo. Essa ideia é articulada por meio da “escada do amor”, uma metáfora utilizada por Sócrates, influenciado pela sacerdotisa Diotima. Nesse processo, o amor transcende o apego a objetos físicos e materiais, elevando-se para um patamar filosófico e espiritual. Assim, o amor platônico não é uma rejeição do desejo, mas uma sublimação deste em prol de um objetivo maior: o acesso às ideias eternas e imutáveis.

Essa concepção diverge da compreensão moderna, que frequentemente limita o amor platônico a um sentimento romântico, desprovido de desejo físico. No entanto, para Platão, o amor é mais do que uma emoção; é um instrumento pedagógico que conecta o homem ao divino, um elo que reflete a estrutura do cosmos e o desejo humano por transcendência.

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História do amor platônico

A história do amor platônico começa na Grécia Antiga, dentro do contexto da filosofia clássica. Platão desenvolveu o conceito em uma sociedade marcada por uma visão complexa do amor, incluindo as relações pedagógicas e homoeróticas que eram comuns entre mestres e discípulos. Na obra O banquete, essas relações são usadas para ilustrar a busca pelo Belo. Sócrates, ao dialogar com jovens como Alcibíades, enfatiza o caráter educativo do amor, que guia o discípulo em direção ao aperfeiçoamento ético e intelectual.

Na Idade Média, o amor platônico foi reinterpretado pelo neoplatonismo cristão. Durante esse período, pensadores como Plotino adaptaram as ideias platônicas para harmonizá-las com o pensamento religioso, retratando o amor como uma ascensão espiritual em direção a Deus. Essa transposição filosófica consolidou a ideia de que o amor platônico transcende os limites do corpo, tornando-se uma expressão da busca pelo sagrado.

Com a renascença, o amor platônico ganhou nova vida no humanismo, que o utilizou para enfatizar a beleza e a perfeição humanas. Obras literárias e artísticas da época exploraram temas platônicos, muitas vezes associando o amor à inspiração criativa e à elevação moral. Nos séculos posteriores, o conceito continuou a evoluir, sendo reinterpretado por diferentes correntes filosóficas e culturais.

Amor platônico na filosofia

O amor platônico, na filosofia de Platão, é representado pelo conceito de Eros, que vai além do desejo carnal. Em O banquete, Eros é descrito como um intermediário entre os deuses e os homens, uma força que impulsiona a alma em direção ao divino. Esse desejo, longe de ser puramente físico, é uma busca por algo que falta: o conhecimento, a Verdade e, em última instância, a união com o Bem.

Platão divide o amor em estágios, descritos por Diotima na “escada do amor”. O primeiro estágio é a admiração pela beleza física, que leva à valorização de belas ações, depois à apreciação da beleza das leis e instituições, e finalmente culmina na contemplação da beleza em si mesma. Esse processo reflete a jornada filosófica, na qual o indivíduo supera as limitações do mundo sensível para alcançar o mundo inteligível.

Na filosofia platônica, o amor também é um instrumento pedagógico. As relações entre mestre e discípulo, como as descritas entre Sócrates e Alcibíades, exemplificam o papel do amor como um meio de transmissão de conhecimento e valores éticos. Nessas relações, o mestre assume o papel de amante (erastes), guiando o discípulo (erómenos) em sua busca pelo aperfeiçoamento moral e intelectual.

Amor platônico na literatura

A literatura desempenhou um papel crucial na disseminação e na popularização do amor platônico. Na Idade Média, a influência do neoplatonismo cristão pode ser vista em obras como A divina comédia, de Dante Alighieri, em que Beatriz representa um ideal de amor que guia o protagonista em sua jornada espiritual. Essa interpretação do amor como uma força transcendental reflete as adaptações medievais das ideias platônicas.

Na literatura renascentista, o amor platônico tornou-se um tema central em poesias e dramas. Poetas como Petrarca usaram o conceito para explorar o desejo humano por perfeição e a tensão entre amor carnal e espiritual. As obras de Shakespeare, por sua vez, frequentemente abordam a dualidade do amor platônico e terreno, como visto em Sonho de uma noite de verão e em Romeu e Julieta.

O romantismo intensificou essas temáticas, apresentando o amor platônico como uma força trágica e sublime. Escritores como Lord Byron e Percy Shelley exploraram o sofrimento e a beleza do amor não correspondido, ampliando sua dimensão emocional.

Evolução do conceito de amor platônico

Ao longo dos séculos, o conceito de amor platônico passou por diversas reinterpretações, refletindo as mudanças nas condições culturais e intelectuais. Na Antiguidade, o amor platônico era amplamente associado ao contexto educacional e à busca filosófica. Essa abordagem foi adaptada pelo neoplatonismo, que a integrou ao pensamento cristão, enfatizando o amor como um meio de conexão com Deus.

Durante a renascença, o amor platônico foi redescoberto pelos humanistas, que o usaram para celebrar a beleza e a dignidade humanas. Obras literárias e artísticas dessa época exploraram o amor como uma força inspiradora, que transcendia as barreiras físicas e apontava para ideais mais elevados.

Nos séculos XVIII e XIX, o romantismo reinterpretou o amor platônico, associando-o ao ideal de um amor inalcançável e à tragédia do desejo irrealizável. Poetas e escritores como Goethe exploraram esses temas, conferindo ao amor platônico uma dimensão emocional que, muitas vezes, contrastava com sua base filosófica original.

Na contemporaneidade, o conceito de amor platônico é frequentemente entendido de forma simplificada, como um amor idealizado e sem realização física. No entanto, estudos acadêmicos continuam a explorar suas raízes filosóficas e suas implicações na ética, na estética e na pedagogia.

Acesse também: O que foi o amor cortês medieval?

Tipos de amor segundo a filosofia

A filosofia grega distingue várias formas de amor, cada uma com suas características e funções. Platão, em O banquete, foca principalmente em Eros, mas também menciona a Philia e o Ágape. Essas formas de amor representam diferentes aspectos da experiência humana e sua relação com o divino.

Eros é descrito como um desejo que impulsiona o indivíduo em direção à beleza e ao conhecimento. Philia, por outro lado, é o amor baseado na amizade e na reciprocidade, sendo essencial para a construção de laços sociais e comunitários. Já Ágape, um conceito que ganha destaque no cristianismo, é o amor altruísta e incondicional, que transcende os interesses pessoais.

Esses tipos de amor refletem a complexidade das relações humanas e seu papel na ética e na filosofia. Em última análise, eles ilustram como o amor, em suas diversas manifestações, é fundamental para o desenvolvimento moral, intelectual e espiritual do indivíduo.

Fontes

CARRILLO SALGADO, Augusto Fernando. Amor platônico. Direito Global. Estudos sobre Direito e Justiça, v. VIII, n. 24, p. 413-423, 2023. Disponível em: https://DOI.org/10.32870/dgedj.v8i24.578.

FIERRO, María Angélica. Amor carnal, amor platónico en el Banquete. Estudios de Filosofía, n. 59, p. 183-212, 2019. Universidade de Antioquia. Disponível em: https://doi.org/10.17533/udea.ef.n59a09. Acesso em: 5 dez. 2024.

ROSSETTI, Gabriele. Il mistero dell’Amor platonico del Medioevo. Roma: Società Dante Alighieri, 2015.

SILVA, Felipe Gustavo Soares da. Uma resposta sobre o que é o amor platônico a partir da relação erótica entre Sócrates e Alcebíades no Simpósio de Platão. Cadernos Cajuína, v. 3, n. 1, p. 12-23, 2018.

Escritor do artigo
Escrito por: Tiago Soares Campos Bacharel, licenciado e doutorando em História pela USP. Bacharel em Direito e pós-graduado em Direito pela PUC. É professor de História e autor de materiais didáticos há mais de 15 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

CAMPOS, Tiago Soares. "Amor platônico"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/amor-platonico.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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