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Game of Thrones é uma série produzida pela HBO (canal de televisão por assinatura americano) e que foi adaptada do romance criado por George R. R. Martin chamado “Crônicas de Gelo e Fogo”. Ao longo de oito temporadas, a série nos apresentou um mundo medieval marcado por guerras, relações de vassalagem, intrigas políticas, traições, disputas pelo poder etc. Como uma boa história ficcional, Game of Thrones possui também seu pé na fantasia, apresentando dragões, gigantes e zumbis.
O enredo da série também possui suas relações com a história humana e com eventos da mitologia nórdica. Nosso objetivo é trazer um pequeno panorama das referências históricas que Game of Thrones possui. É importante lembrar que podemos dar alguns spoilers.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Stark X Lannister: Guerra das Rosas
- 2 - Personagens da Guerra das Rosas x Personagens de Game of Thrones
- 3 - Mitologia nórdica: “the winter is coming”
- 4 - Outras referências históricas
Stark X Lannister: Guerra das Rosas
A rivalidade entre as casas Stark e Lannister é um dos pontos altos que movimentam a trama de Game of Thrones.
(Crédito: Reprodução HBO)
A Guerra das Rosas foi uma guerra civil que abalou a Inglaterra ao longo do século XV. Nessa guerra, duas famílias – Lancaster e York – travaram conflitos pelo trono inglês entre 1455 e 1485. Ao longo dos anos da Guerra das Rosas, a Inglaterra teve os seguintes reis: Henrique VI, Eduardo IV, Eduardo V e Ricardo III.
A primeira associação que podemos fazer entre história e ficção está no nome das famílias que estão por trás da disputa pelo poder. Em Westeros, a disputa pelo poder é realizada entre Stark e Lannister e, na Inglaterra, essa disputa ocorreu entre York e Lancaster. Sendo assim:
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Os Stark são uma referência aos York;
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Os Lannister são uma referência aos Lancaster.
Símbolo das duas famílias que disputavam o trono da Inglaterra na Guerra das Rosas. Os Tudor assumiram o poder depois do fim do conflito, em 1485.
A origem das brigas que deflagaram a Guerra das Rosas remonta ao final do século XIV, quando o rei Eduardo III morreu. A morte de Eduardo III aconteceu em 1377, e a sucessão foi transmitida para o seu neto, Ricardo II, filho do seu filho mais velho, Eduardo, o Príncipe Negro.
Ricardo II (1377-1399) foi rei da Inglaterra durante 22 anos, período no qual os herdeiros de seus tios, isto é, seus primos, contestavam o seu poder. Essa contestação do poder era realizada principalmente pelos Lancaster, herdeiros de João de Gante, e pelos York, herdeiros de Edmundo de Langley, ambos irmãos de Eduardo, o Príncipe Negro.
A sucessão do trono inglês e o reinado de Ricardo II foram interrompidos em 1399 quando um golpe foi organizado por Henrique IV (Lancaster). Esse golpe abriu o caminho para novas disputas pelo poder décadas depois. A confusão e a disputa pelo poder somente retornaram quando Henrique VI assumiu o trono em 1422 após seu pai, Henrique V, morrer em campanha militar.
Henrique VI ficou conhecido como um rei fraco e inapto para a administração do reino. Ao longo de seu reinado, ele foi convencido a casar-se com Margarida de Anjou como forma de colocar fim à Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Ao longo de sua vida, Margarida de Anjou teve uma série de atritos com um dos conselheiros do rei, Ricardo de York.
Henrique VI foi um rei inglês e um dos principais nomes da Guerra das Rosas.**
Ricardo de York desejava o trono inglês, e sua ambição tinha a seu lado o fato de que o rei Henrique VI, de tempos em tempos, ficava incapacitado por causa de suas doenças mentais. Existem historiadores que sugerem que ele sofria de esquizofrenia, enquanto outros sugerem depressão. Em um desses surtos, Henrique VI nomeou Ricardo de York como regente e, depois que Henrique VI restabeleceu-se, Ricardo de York perdeu seu posto.
A Guerra das Rosas teve como ponto de partida a disputa pelo poder entre Henrique VI e Ricardo de York, o que ocasionou a Batalha de Saint Albans, em 1455, a qual marcou oficialmente o início da Guerra das Rosas. A disputa entre Henrique VI e Ricardo prosseguiu até a morte de Ricardo de York, em 1460.
A morte de Ricardo não colocou fim à guerra, e a disputa entre Lancaster e York prosseguiu. O filho mais velho de Ricardo, chamado Eduardo, deu sequência à luta e conseguiu derrotar Henrique VI, fazendo dele seu prisioneiro.
Eduardo foi coroado rei da Inglaterra, em 1461, e tornou-se Eduardo IV, mas seu reinado foi abalado por uma decisão sua. Em 1464, casou-se secretamente com Isabel Woodville, filha de uma família da pequena nobreza inglesa. Essa decisão contrariou seu principal aliado, o Conde de Warwick (Ricardo Neville), que havia sugerido um casamento com uma família real importante.
Eduardo IV foi rei da Inglaterra e responsável por retirar Henrique VI do poder.**
Com isso, progressivamente o Conde de Warwick foi afastando-se de Eduardo IV e, em 1469, aliou-se com os Lancaster. A aliança de Warwick com os Lancaster foi responsável por levar Jorge Plantageneta, irmão de Eduardo IV, para o lado dos Lancaster. Em 1470, Eduardo IV foi deposto por uma força liderada por Warwick e, com isso, Henrique VI foi restaurado no trono inglês.
Eduardo IV fugiu para a Borgonha e lá restaurou suas forças para recuperar o trono. Assim, em 1471, foi travada a decisiva Batalha de Tewkesbury, que resultou na derrota das forças dos Lancaster. O filho de Henrique VI, chamado Eduardo de Westminster, foi morto, e Margarida de Anjou, presa. Henrique VI foi novamente feito prisioneiro e acabou sendo executado em maio de 1471. Warwick foi morto em outra batalha, a Batalha de Barnet.
Com a derrota dos Lancaster e a restauração de Eduardo IV ao trono, a situação política na Inglaterra ficou pacífica, mas os conflitos retornaram quando Eduardo IV morreu em 1483. O filho mais velho de Eduardo IV, chamado Eduardo V, foi coroado rei, mas foi deposto pelo seu tio Ricardo, o qual alegou que Eduardo V era filho de um casamento ilegítimo.
Ricardo foi coroado como Ricardo III ainda em 1483, mas seu reinado foi curto. A coroação de Ricardo III dividiu os York e motivou os Lancaster a apoiar Henrique Tudor, descendente dos Lancaster. O apoio a Henrique Tudor fez com que ele angariasse condições para tomar o trono – o que aconteceu em 1485. Tempos depois, casou-se com uma filha de Eduardo IV, chamada Elizabete de York. Com isso, o rei era um Lancaster, e a rainha, uma York. A Guerra das Rosas chegava ao fim, e uma nova dinastia surgia na Inglaterra: a dinastia Tudor.
Personagens da Guerra das Rosas x Personagens de Game of Thrones
Como já mencionado, as duas famílias que disputavam o poder na Inglaterra são associadas com as de Westeros. Vejamos alguns personagens históricos específicos:
Cersei Lannister, interpretada por Lena Headey na série, pode ser associada à Margarida de Anjou, esposa do rei Henrique VI.
(Crédito: Divulgação HBO)
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Margarida de Anjou: associada com Cersei Lannister. Ela, assim como Cersei, era conhecida por possuir um filho cruel e violento, e rumores falavam de suas traições e de que seu filho não era filho do marido.
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Ricardo de York: associado com Ned Stark. Ele, assim como Ned, era o conselheiro do rei e teve um destino trágico: teve a cabeça decepada.
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Eduardo de Westminster: associado com Joffrey Baratheon. Era também filho da rainha e conhecido por ser um jovem cruel.
- Eduardo IV: associado com Robb Stark. Filho do conselheiro do rei, liderou sua família na guerra contra os inimigos e casou-se com uma jovem de uma família desconhecida em vez de casar-se em um casamento arranjado. Todavia, Eduardo IV, diferentemente de Robb Stark, tornou-se rei.
Robb Stark (Richard Madden) pode ser uma referência ao rei Eduardo IV, da Inglaterra. (Crédito: Reprodução HBO)
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Ricardo III: associado com Stannis Baratheon, era o irmão do rei que conspirou contra seu sobrinho pelo trono. Ricardo, diferentemente de Stannis, conquistou o trono (mesmo que por pouco tempo).
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Henrique Tudor: associado com Daenerys Targaryen. Ele, assim como ela, era um nobre que morava em uma terra distante separada por um mar. Na disputa pelo trono, cruzou esse mar para se tornar rei (rainha no caso de Daenerys).
Outros personagens históricos (não necessariamente da Guerra das Rosas) que possuem algum tipo de associação com personagens de Game of Thrones são:
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Warwick: associado com Walder Frey.
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Elizabeth de York: associada com Sansa Stark.
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Ramsay Bolton: algumas teorias associam-no com Vlad, o Empalador.
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Theon Greyjoy: associado com Jorge Plantageneta.
Mitologia nórdica: “the winter is coming”
O apavorante temor dos Stark pelo inverno rigoroso do norte de Westeros pode ter relação com crenças da mitologia nórdica.
(Crédito: Reprodução HBO)
Em Game of Thrones, a casa dos Stark tem como grande lema a frase “the winter is coming” (o inverno aproxima-se, em uma tradução livre). A chegada de um inverno – o mais rigoroso de todos – é, em Game of Thrones, o prelúdio da chegada de um grande mal: o Rei da Noite e os Caminhantes Brancos.
Essa associação de um grande mal e de uma grande guerra precedida por um grande inverno é extraída da mitologia nórdica, conjunto de crenças que fazia parte da religião dos povos vikings. Na crença dos nórdicos, o fimbulvetr, um longo ciclo de três invernos rigorosíssimos, seria o prelúdio de uma grande guerra: o Ragnarök. Caso tenha interesse em saber mais sobre o assunto, sugerimos que leia este texto: Ragnarök, o fim do Universo nórdico.
Outra associação com a mitologia nórdica pode ser realizada a partir do personagem Brandon Stark. O herdeiro mais novo dos Stark ao longo da série adquire uma habilidade que o permite ver os acontecimentos do passado e informar-se do que se passa no presente por meio de corvos (ou qualquer outro animal) que voam por Westeros e permitem a ele ver e ouvir tudo ao seu redor.
Na mitologia nórdica, os corvos possuem uma função parecida. Odin, o principal e mais poderoso deus do panteão nórdico, possui dois corvos: Huginn (memória) e Muninn (pensamento). Ambos os corvos voam por Asgard (terra dos homens na mitologia nórdica) observando e ouvindo tudo para contar a Odin os principais acontecimentos.
Na mitologia nórdica, os corvos tinham a função de informar Odin sobre o que se passava na terra dos homens. (Crédito: Reprodução HBO)
Outras referências históricas
Não somente a Guerra das Rosas e a mitologia nórdica podem ser relacionadas com Game of Thrones. Veja outros personagens históricos que têm alguma relação com elementos presentes na série.
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Muralha de Adriano
A Muralha de Adriano foi construída no século II d.C. para impedir que pictos e escotos atacassem as terras romanas.
A Muralha de Adriano foi construída pelos romanos no século II d.C. e separava as terras romanas das ameças de “povos bárbaros” (pictos e escotos) que habitavam o norte da Britânia. No caso da série, essa associação pode ser feita com a muralha protegida pela Patrulha da Noite.
Em Game of Thrones, a muralha separa Westeros de “povos bárbaros” que habitam o Norte, o Povo Livre. Na série, a muralha também possui uma conotação mágica, pois também protege Westeros do Rei da Noite e dos Caminhantes Brancos.
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Mongóis
Os mongóis eram um povo nômade que surgiu na Mongólia e habitava as estepes da Ásia Central, portanto o oriente da Europa. Os mongóis eram conhecidos por serem guerreiros temíveis e com grande destreza em guerrear em um cavalo. Fazendo um paralelo com a série, os mongóis associam-se com os dothrakis, guerreiros nômades que habitavam Essos, ou seja, a oriente de Westeros. Até mesmo o nome do líder é parecido: khan, para os mongóis, e khal, para os dothrakis.
Khal Drogo, interpretado por Jason Momoa, era o principal líder dos dothrakis, a famosa tribo nômade de Game of Thrones. Esses guerreiros remetem aos lendários mongóis da Ásia Central. (Crédito: Reprodução HBO)
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Vikings
Os vikings, ou nórdicos, eram um povo que habitava o norte da Europa, entre os séculos VIII e XI, e ficaram conhecidos por serem exímios navegantes e por dedicarem-se à guerra e ao saque. Os vikings são diretamente associados com os Greyjoy, casa de Westeros conhecida por ter um estilo de vida parecido: serem ótimos no mar e realizarem frequentemente saques.
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Incesto
O incesto em famílias reais não é uma exclusividade de Westeros. Em Game of Thrones, algumas famílias são conhecidas pelos rumores de incesto entre seus membros (como o caso de Jaime e Cersei). Na vida real, isso também aconteceu em famílias reais, como os Habsburgo, Stuart, Hanôver e Bourbon, que ficaram conhecidos pelos casamentos entre parentes próximos.
*Créditos da imagem: Kathy Hutchins e Shutterstock
**Créditos da imagem: Sergey Goryachev e Shutterstock
Por Daniel Neves
Graduado em História