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Síndrome pós-aborto é uma expressão utilizada em referência a uma série de alterações psicológicas negativas que ocorrem após o abortamento. Ela não é reconhecida por toda a comunidade médica e alguns autores negam a sua existência. Entretanto, apesar de essa síndrome não constar no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o abortamento é uma situação extremamente delicada e pode causar impacto negativo na vida dos pais, sendo importante que essas pessoas recebam acompanhamento psicológico adequado nessas situações.
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O que é o abortamento?
Antes de entendermos o que é a síndrome pós-aborto, devemos entender o que é o abortamento. De acordo com a norma técnica Atenção Humanizada ao Abortamento, do Ministério da Saúde, o abortamento é definido como “a interrupção da gravidez até a 20ª-22ª semana e com produto da concepção pesando menos que 500 g”. O termo aborto é muitas vezes usado como sinônimo de abortamento, mas o aborto é definido como o produto da concepção que foi eliminado durante o abortamento.
O abortamento apresenta diferentes causas, como alterações hormonais, anormalidades cromossômicas, infecções, alterações anatômicas e trombofilias. Ele pode também ser provocado pela mãe, uma prática que é considerada ilegal no país.
A legislação brasileira permite o abortamento quando não há outro meio de salvar a vida da gestante e se a gravidez é resultante de estupro. O Supremo Tribunal Federal (STF) definiu também que o aborto não é crime em casos de anencefalia, ou seja, em situações em que o bebê apresenta uma malformação em que se observa a ausência de grande parte das estruturas encefálicas.
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O que é a síndrome pós-aborto?
Síndrome pós-aborto é um termo utilizado em referência a uma série de sintomas negativos semelhantes observados em pacientes que tiveram experiência de abortamento. Após essa ocorrência, a mulher pode experimentar vários sentimentos negativos em relação à perda do bebê, como culpa, ansiedade, raiva, frustração e angústia.
Muitas mulheres que sofreram com o abortamento apresentam pesadelos com o bebê, frustração do instinto maternal, alto interesse em bebês, baixa autoestima, desejo de terminar o relacionamento, perda do interesse sexual, sofrimento no aniversário da morte e flashbacks da experiência de abortamento. Esses sentimentos podem levar ao desenvolvimento de problemas psicológicos graves, como a depressão. Além disso, a mulher, após a perda, pode desenvolver comportamentos autopunitivos, os quais incluem o consumo excessivo de álcool e transtornos alimentares.
No caso dos abortamentos provocados, alguns estudos demonstram que os sintomas podem permanecer por um longo período, sendo estimado que a depressão e ansiedade possam durar até cinco anos. Em situações de abortamento desencadeado por causas naturais, a depressão e a ansiedade permanecem por menos tempo, estando presentes, geralmente, nos primeiros seis meses.
Vale salientar que a chamada síndrome pós-aborto não é uma síndrome aceita por toda a comunidade médica. De acordo com alguns autores, o abortamento não aumenta o risco de depressão, ansiedade ou de outros problemas psicológicos mais do que dar à luz ou uma gravidez indesejada. Além disso, vários autores defendem que o abortamento nem sempre provoca sentimentos negativos, sendo verificado que, em muitas mulheres, a sensação vivenciada é de alívio. Há ainda aqueles que argumentam que a expressão síndrome pós-aborto foi uma condição inventada com a intenção de fazer com que as pessoas desistissem de praticar abortos.
Apesar de não existir um diagnóstico oficial de síndrome pós-aborto no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, é importante salientar que o abortamento, provocado ou não, pode ser um evento traumático para algumas mulheres. Cada pessoa responderá de uma forma diferente em relação ao abortamento, estando essa resposta relacionada, por exemplo, com o fato de a gravidez ser ou não desejada e haver ou não o apoio do parceiro.
É importante que a mulher procure ajuda psicológica caso perceba que as emoções vividas após um abortamento estão muito difíceis de serem suportadas.
Por Vanessa Sardinha dos Santos
Professora de Biologia