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"Os acontecimentos humanos dependem de
circunstâncias furtuitas e indiferentes.
Chame a isto acaso ou providência; nem por
isso a coisa deixa de existir".
Machado de Assis
Falar sobre este importante escritor brasileiro é motivo de orgulho, pois o mesmo tornou-se um dos maiores ícones no campo da Literatura Brasileira.
No campo das artes destacou-se como crítico literário, contista, teatrólogo, cronista, poeta e romancista. Sua obra divide é dividida em duas fases: uma que ainda trazia alguns resquícios da era romântica, porém menos idealizada, mais racional e verdadeira. Dentre ela destacam-se as obras: Helena, Ressurreição, Iaiá Garcia e A Mão e a Luva.
E outra que inovou o “cenário artístico” de sua época, tendo como marco inicial a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, na qual Machado revelou-se como um “gênio” por tematizar a introspecção psicológica de seus personagens, que foi uma característica marcante.
Como forma de denunciar a situação vigente, representada pela sociedade carioca, onde o apadrinhamento e o famoso “jeitinho” solucionava os problemas advindos da classe dominante, o escritor usufrui de uma sutileza sem fim, baseada numa linguagem irônica e crítica da realidade.
Entre seu inúmeros contos destacam-se: O Alienista, Missa do Galo, A cartomante, Noite de Almirante, O espelho, Uns Braços, e outros.
Neles, Machado de Assis de uma forma engenhos dedica-se à análise do caráter humano através de seus personagens. Revelando com isso, o lado negativo, como a mentira, a traição conjugal, dentre outros, bem ao gosto das características da era Realista, que, diferente dos românticos, o casamento era visto como forma de ascensão social.
A seguir, destacam-se alguns fragmentos de um dos contos, intitulado:
UNS BRAÇOS
(...)
Não digo que ficou em paz com os meninos, porque o nosso Inácio não era propriamente menino. Tinha quinze anos feitos e bem feitos. Cabeça inculta, mas bela, olhos de rapaz que sonha, que adivinha, que indaga, que quer saber e não acaba de saber nada. Tudo isso posto sobre um corpo não destituído de graça, ainda que mal vestido. Também a culpa era antes de D. Severina em trazê-los assim nus, constantemente. Usava mangas curtas em todos os vestidos de casa, meio palmo abaixo do ombro; dali em diante ficavam-lhe os braços à mostra. Na verdade, eram belos e cheios, em harmonia com a dona, que era antes grossa que fina, e não perdiam a cor nem a maciez por viverem ao ar; mas é justo explicar que ela os não trazia assim por faceira, senão porque já gastara todos os vestidos de mangas compridas.
Não foi; sentiu-se agarrado e acorrentado pelos braços de D. Severina.
Nunca vira outros tão bonitos e tão frescos. A educação que tivera não lhe permitia encará-los logo abertamente, parece até que a princípio afastava os olhos, vexado. Encarou-os pouco a pouco, ao ver que eles não tinham outras mangas, e assim os foi descobrindo, mirando e amando. (...).
Podemos perceber um certo tom de erotismo por parte do personagem que demonstra uma atração física pela sua patroa D. Severina, quando a mesma deixa os braços sem cobrir, despertando com isso o interesse em admirá-los de uma forma intencional. A figura da mulher já não era mais idealizada, e sim vista no plano material e físico.
Assim como este, existe uma infinidade de outros contos, todos baseados na temática voltada para a realidade social e para a questão da personalidade humana.
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola