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Mikhail Alexandrovich Bakunin (1814-1876) foi um pensador político russo e ativista revolucionário, líder do movimento político conhecido como anarquismo. Bakunin nasceu em 1814, em uma família nobre russa, e desde cedo foi exposto a ideais liberais e revolucionários. Abandonou uma carreira no exército para se envolver com círculos intelectuais e revolucionários na Europa, onde foi influenciado por figuras como Hegel e Proudhon. Sua jornada incluiu participações ativas em várias revoluções europeias, como as de 1848 na França e a insurreição de Dresden em 1849, após a qual foi preso e exilado.
As ideias de Bakunin centravam-se na liberdade e na crítica ao Estado e ao capitalismo, propondo uma sociedade baseada na autogestão, federalismo e socialismo libertário. Ele acreditava que a liberdade verdadeira só poderia ser alcançada através da abolição de todas as formas de autoridade e opressão, uma visão que o colocou em oposição direta a Marx, especialmente no contexto da Primeira Internacional. Bakunin enfatizava a ação direta e a revolução imediata, sem a intermediação de um Estado ou vanguarda, e suas ideias tiveram um impacto duradouro em movimentos anarquistas e libertários ao redor do mundo.
Leia também: Afinal, o que é o anarquismo?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Mikhail Bakunin
- 2 - Biografia de Mikhail Bakunin
- 3 - Principais ideias de Mikhail Bakunin
- 4 - Obras de Mikhail Bakunin
- 5 - Legado de Mikhail Bakunin
- 6 - Críticas a Mikhail Bakunin
- 7 - Frases de Mikhail Bakunin
Resumo sobre Mikhail Bakunin
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Mikhail Bakunin foi um pensador político russo e ativista revolucionário, líder do movimento anarquista.
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Foi influenciado por Pierre-Joseph Proudhon e adotou o anarquismo após participar de várias revoluções e insurreições na Europa.
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Foi preso em 1849, e após escapar da prisão na Sibéria em 1861, viajou para Londres e depois para a Itália.
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Suas principais ideias giravam em torno da liberdade, dialética e crítica ao capitalismo e ao Estado.
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Bakunin criticava a abordagem autoritária de Marx e a ideia de um Estado socialista como mediador da transição para o comunismo, defendendo a ação direta dos trabalhadores, a organização federalista da sociedade e o internacionalismo.
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Suas obras incluem Deus e o Estado, A ilusão do sufrágio universal e O princípio do Estado e outros ensaios.
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O legado de Bakunin influenciou movimentos anarquistas e sociais ao longo do século XX, incluindo a Revolução Russa de 1917 e a Guerra Civil Espanhola.
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No Brasil, suas ideias impactaram o movimento operário e anarquista, especialmente nas primeiras décadas do século XX.
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Bakunin é frequentemente criticado por sua rejeição total ao Estado e por subestimar a complexidade das relações sociais e a necessidade de instituições para mediar conflitos.
Biografia de Mikhail Bakunin
Mikhail Alexandrovich Bakunin nasceu em 30 de maio de 1814, em Premukhino, Império Russo, em uma família de nobres proprietários de terra. É educado em casa e, desde cedo, recebe influência de ideais liberais e revolucionários, aprendendo outras línguas, história e canto, em um ambiente de constante contato com a natureza. Bakunin segue, aos 14 anos, para a carreira no exército, abandonando-a em 1835.
Vai a Moscou, onde participa do círculo de Stankevich, aproximando-se do romantismo e do idealismo do filósofo Hegel. Em 1840, vai a Berlim e integra-se à esquerda hegeliana. Publica alguns artigos, converte-se ao comunismo e toma contato com a causa dos eslavos, defendendo a libertação nacional dos povos eslavos e envolvendo-se diretamente na luta contra o imperialismo e as sociedades capitalistas.
Bakunin tem contato com Karl Marx, mas a sua maior influência comunista vem da relação com Pierre-Joseph Proudhon, que terá um impacto significativo na sua futura adesão ao pensamento anarquista. Bakunin participa, em 1848, das revoluções na França e da insurreição de Praga. No ano seguinte, prepara a insurreição da Boêmia e destaca-se como um comandante militar do levante de Dresden.
Mikhail Bakunin é preso em 1849 e permanece na prisão e no exílio com trabalhos forçados até 1861, quando foge de uma prisão na Sibéria. A fuga é um feito notável. Ela foi interpretada como prova de suas habilidades e coragem para resistir às autoridades imperialistas. Após sua fuga, Bakunin viajou para Londres e, posteriormente, para a Itália, onde viveu entre 1864 e 1867.
Durante o período em que ficou na Itália, Bakunin escreve alguns dos seus textos mais célebres. Ele também desenvolve intenso trabalho de propaganda e organização, que resulta na fundação da Fraternidade Internacional, uma organização política secreta. Participa dos Congressos da Liga da Paz e da Liberdade em 1867 e 1868, e, quando a maioria dos membros da Liga rejeita o programa socialista, federalista e antiteísta que propunha, Bakunin rompe com a entidade e funda a Aliança da Democracia Socialista.
Em meados de 1860, Bakunin entra na Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), a “Primeira Internacional”, e adere completamente ao anarquismo. Ele exerce grande influência na AIT, especialmente nos países latinos, e acaba expulso em 1872 por ameaçar a hegemonia de Karl Marx. É quando funda a Internacional “Antiautoritária” com o setor majoritário da AIT. Participa da insurreição da Bolonha em 1874 e, ao final da vida, retira-se da política e falece na Suíça, em 1876.
Principais ideias de Mikhail Bakunin
As principais ideias de Mikhail Bakunin, e que servem como o ponto de partida para o seu pensamento, são norteadas por concepções filosóficas de liberdade, dialética e ideologia. Toda a teoria de Bakunin está baseada no conceito de liberdade, que está presente em toda a sua obra. Argumentando contra os filósofos do liberalismo, Bakunin nega que o indivíduo venha à sociedade livre desde o momento de seu nascimento, e só depois tornando-se oprimido pela sociedade com o passar do tempo.
Bakunin pensa que desde sua existência mais primitiva, o ser humano é escravo da natureza, de sua animalidade, e só vai alcançar a humanidade superando essas algemas. A superação pode ser alcançada pelo uso de sua razão, a capacidade de pensar e refletir no mundo abstrato da lógica. Sendo assim, é uma das suas principais ideias a tese de que a liberdade não é o ponto de partida dos indivíduos humanos, mas o seu destino. E esse destino de emancipação só poderá ser alcançado por meio da revolta contra as condições que escravizam os seres humanos.
É por isso que, segundo Bakunin, a liberdade individual só pode existir dentro da liberdade coletiva. Só é possível considerar-se livre na presença ou em relação a outras pessoas livres que se reconhecem mutuamente como livres. Desse modo, a liberdade implica necessariamente igualdade, o que torna evidente o vínculo entre a liberdade e o socialismo. Na visão de Bakunin, nunca existiria a liberdade plena sob o capitalismo, a tutela do Estado ou qualquer outro tipo de dominação. E a igualdade econômica, desenvolvida por meio do socialismo, seria uma condição prévia para o desenvolvimento da liberdade.
Outra visão filosófica que serve de fundamento para as ideias de Bakunin é a sua concepção de dialética. É na dialética que Bakunin situa as bases de uma transformação revolucionária. Diferente da dialética tradicional, que é representada pelos elementos tese, antítese e síntese, Bakunin propôs uma dialética com somente dois elementos, um positivo e outro negativo. O resultado do conflito seria sempre a criação de um novo positivo, sem relação com o antigo. Para Bakunin não haveria síntese ou conciliação possível. Somente pela negação radical que se formaria uma afirmação.
A dialética de Bakunin reforça a ideia de que a destruição não é meramente negativa, mas pode ser um impulso para a criação. Bakunin, diferentemente de Hegel e Marx, enfatizou a espontaneidade e a imediatez da ação revolucionária. Sua dialética é radical no sentido de que busca a abolição imediata de todas as formas de autoridade e opressão, sem a necessidade de um período de transição ou de um Estado proletário. Bakunin criticava Marx por sua abordagem considerada autoritária e por sua confiança em um Estado socialista para mediar a transição para o comunismo. Essa crítica segue a concepção de liberdade adotada por Bakunin, a liberdade que não pode ser adiada ou mediada, mas que deve ser realizada imediatamente através da destruição direta das instituições opressoras.
Tendo essas concepções filosóficas de liberdade e dialética, Bakunin passa para a leitura da realidade nas sociedades capitalistas. Segundo ele, todo um sistema político e ideológico sustenta esse sistema de exploração econômica. A função dos sistemas político e ideológico seria a de consagrar e proteger as práticas da exploração capitalista. O Estado, na leitura de Bakunin, é o instrumento político mais poderoso do capitalismo e de sua classe social privilegiada, a burguesia, que estabelece sobre o povo uma dominação econômica que, além de sustentar o capitalismo, aliena o povo da política.
Negando qualquer forma de etapismo, Bakunin rejeitava a ideia de um desenvolvimento histórico linear ou previsível, um determinismo histórico que inevitavelmente levaria ao comunismo. Para ele, a história era feita pelas ações e vontades dos indivíduos e coletivos, e não por leis históricas imutáveis. Bakunin não acreditava, portanto, como outros socialistas, na obrigatoriedade de desenvolvimento das forças produtivas para se alcançar o socialismo. Ele pensava que, tanto nas sociedades mais quanto nas menos desenvolvidas, os despossuídos deveriam imediatamente começar uma luta pela liberdade.
Para o seu projeto de transformação, Bakunin desenvolveu uma teoria da revolução, que se construiria a partir de uma relação dialética com o povo, e também uma estratégia de luta para superar a sociedade capitalista, estatista e religiosa e ingressar na sociedade socialista, federalista e antiteísta.
A fim de alcançar a revolução social que leva ao socialismo, Bakunin enfatizava a necessidade de envolver a ação direta dos trabalhadores, que deveriam formar associações livres e autogestionárias. Ele acreditava que a revolução deveria ser espontânea e emanar diretamente do povo, sem a intermediação de um partido ou vanguarda. Bakunin propunha um modelo federalista de organização, em que as comunidades locais e associações operárias organizariam a sociedade de baixo para cima, através de uma rede de federações livres e autônomas, sem uma autoridade centralizada.
Ele também era um forte proponente do internacionalismo, acreditando que a revolução deveria ser uma luta global dos trabalhadores contra a opressão, não limitada por fronteiras nacionais. Essas ideias formam a base da teoria anarquista de Bakunin, que se concentra na abolição de todas as formas de autoridade e na promoção da liberdade individual e coletiva através da revolução social e da reorganização da sociedade em bases federativas e autogestionárias.
Acesse também: Socialismo — detalhes sobre a ideologia política e econômica que também estabelece críticas ao capitalismo
Obras de Mikhail Bakunin
As principais obras de Mikhail Bakunin publicadas em português são:
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Deus e o Estado;
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A ilusão do sufrágio universal;
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O princípio do Estado e outros ensaios.
Legado de Mikhail Bakunin
O legado de Mikhail Bakunin teve um impacto internacional profundo. Na Espanha, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), os anarquistas, inspirados em parte pelas ideias de Bakunin, desempenharam um papel crucial na resistência contra as forças fascistas lideradas por Francisco Franco. Durante esse período, várias coletividades anarquistas foram estabelecidas, praticando os princípios de autogestão, igualdade e apoio mútuo que Bakunin defendia.
Além disso, a influência de Bakunin foi sentida em outros movimentos revolucionários e sociais ao longo do século XX, como na Revolução Russa de 1917, antes da ascensão do bolchevismo. Embora os anarquistas, que seguiam as ideias de Bakunin, eventualmente fossem suprimidos pelos bolcheviques, eles inicialmente desempenharam um papel ativo nos eventos revolucionários.
No Brasil, as ideias de Bakunin influenciaram o movimento operário e anarquista, especialmente nas primeiras décadas do século XX. Um dos exemplos mais notáveis foi a revolta anarquista de 1918 no Rio de Janeiro, liderada por Domingos Passos, que ficou conhecido como o "Bakunin brasileiro". Esse movimento foi marcado por greves e protestos contra as condições de trabalho opressivas e a exploração dos trabalhadores, refletindo as ideias anarquistas de resistência ao autoritarismo e promoção da autogestão.
Além disso, o anarquismo teve um papel importante nas greves e movimentos sociais que ocorreram em São Paulo no início do século, onde os imigrantes europeus, muitos dos quais eram influenciados pelas ideias anarquistas, desempenharam um papel central na organização desses movimentos.
O legado de Mikhail Bakunin é frequentemente lembrado como símbolo de um socialismo libertário e antiautoritário, defendendo uma sociedade baseada na liberdade sem restrições, na igualdade social e na solidariedade, por meio da qual os trabalhadores administrariam diretamente os processos de produção através de suas próprias associações produtivas, oferecendo uma alternativa ao modelo centralizado e burocrático proposto pelo marxismo.
Além disso, sua crítica ao marxismo e à ideia de ditadura do proletariado destacou a importância de evitar novas formas de opressão que poderiam surgir de um Estado burocrático e centralizado. Falando nisso, Bakunin foi um crítico ferrenho do marxismo, argumentando que levaria a uma nova forma de opressão governada por um Estado burocrático.
Em contrapartida, defendeu o internacionalismo, acreditando na união global dos trabalhadores como fundamental para a vitória da revolução social. Essa visão enfatiza a importância da solidariedade além das fronteiras nacionais, um princípio que permanece relevante em muitos movimentos sociais e políticos atuais.
Além de seu impacto político e filosófico, Bakunin se tornou uma figura lendária, inspirando personagens literários ficcionais e lutadores sociais por mais de um século. Sua vida e obra continuam a ser uma fonte de inspiração para aqueles que lutam contra a opressão e buscam uma sociedade mais justa e igualitária.
O legado de Bakunin é vasto e complexo, abrangendo desde suas contribuições teóricas ao anarquismo e ao socialismo libertário até seu impacto inspirador em movimentos sociais e culturais. Suas ideias sobre liberdade, igualdade, solidariedade e crítica ao autoritarismo e ao centralismo continuam a ser debatidas e aplicadas em diversos contextos, demonstrando a relevância duradoura de seu pensamento.
Críticas a Mikhail Bakunin
Mikhail Bakunin é frequentemente criticado por sua rejeição total do Estado e de qualquer forma de autoridade centralizada. Seus críticos argumentam que, na ausência de um Estado, surgiriam formas alternativas de poder e opressão, potencialmente mais caóticas e menos previsíveis. Além disso, a crítica de Bakunin ao Estado como instrumento de opressão é vista por alguns como uma simplificação excessiva, ignorando as potenciais funções positivas do Estado, como a provisão de serviços públicos e a proteção dos direitos dos cidadãos.
No que diz respeito à economia, Bakunin é criticado por sua visão de uma sociedade baseada na autogestão e na abolição da propriedade privada sem um plano claro de como essa transição seria realizada ou sustentada. Críticos argumentam que a falta de uma estrutura econômica definida poderia levar ao caos econômico, à ineficiência e à incapacidade de atender às necessidades básicas da população.
Socialmente, Bakunin é criticado por subestimar a complexidade das relações sociais e a necessidade de instituições para mediar conflitos e coordenar ações coletivas. Sua visão de uma sociedade baseada na liberdade absoluta e na ausência de qualquer forma de coerção é vista por alguns como utópica e impraticável, dada a natureza humana e a inevitabilidade de conflitos de interesse.
Filosoficamente, Bakunin é criticado por sua rejeição do idealismo e sua adoção de um materialismo dialético que alguns veem como reducionista. Sua ênfase na ação direta e na revolução imediata é vista por alguns como uma abordagem simplista que não leva em conta a complexidade das mudanças sociais e políticas. Além disso, sua crítica ao papel da religião e sua promoção do ateísmo são vistas por alguns como uma negação da liberdade de crença e uma simplificação da complexidade das experiências religiosas e espirituais.
Em resumo, as críticas ao pensamento de Bakunin e à sua teoria do anarquismo abrangem uma ampla gama de questões, desde a viabilidade de suas propostas políticas e econômicas até as implicações sociais e filosóficas de sua visão de mundo. Embora suas ideias continuem a inspirar movimentos anarquistas e libertários, elas também provocam debates e críticas significativas que contribuem para o diálogo contínuo sobre a liberdade, a autoridade e a organização social.
Frases de Mikhail Bakunin
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“A liberdade sem socialismo é privilégio e injustiça; e o socialismo sem liberdade é escravidão e brutalidade.”
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“Quem diz Estado, diz necessariamente dominação e, em consequência, escravidão; um Estado sem escravidão, declarada ou disfarçada, é inconcebível; eis por que somos inimigos do Estado.”
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“O desejo de destruir também é um impulso criativo.”
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“Ser livre, para o homem, significa ser reconhecido, considerado e tratado como tal por um outro homem, por todos os homens que o circundam.”
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“Só sou verdadeiramente livre quando todos os seres humanos que me cercam, homens e mulheres, são igualmente livres. A liberdade dos outros homens, longe de negar ou limitar a minha liberdade, é, pelo contrário, sua premissa necessária e confirmação.”
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“Se Deus realmente existisse, seria necessário aboli-lo.”
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“Todo governo, não importa quem o controle, é um instrumento de opressão.”
Crédito de imagem
Fontes
BAKUNIN, Mikhail. A Reação na Alemanha. São Paulo: Boitempo Editorial, 1842.
BAKUNIN, Mikhail. O Império Knuto-Germânico e a Revolução Social. São Paulo: Expressão Popular, 1871.
BAKUNIN, Mikhail. A Comuna de Paris e a Noção de Estado. São Paulo: Expressão Popular, 1871.
BAKUNIN, Mikhail. Federalismo, Socialismo e Antiteologia. São Paulo: Boitempo Editorial, 1872.
BAKUNIN, Mikhail. Estatismo e Anarquia. São Paulo: Boitempo Editorial, 1873.
BAKUNIN, Mikhail. Deus e o Estado. São Paulo: Boitempo Editorial, 1882.
BAKUNIN, Mikhail. Textos Anarquistas. São Paulo: Expressão Popular, 1874.
PEDRO, Felipe Corrêa. “Mikhail Bakunin e o anarquismo”. In Filosofia: um panorama histórico-temático.