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O estruturalismo é um método de análise científica das ciências humanas e sociais que ganhou espaço na psicologia, na linguística, na sociologia, na antropologia e na filosofia no século XX. Os maiores defensores do estruturalismo concentraram-se entre os intelectuais franceses do fim do século XIX e da primeira metade do século XX.
O estruturalismo visa, em linhas gerais e em todas as ciências das quais ele faz parte, a entender o modo como uma estrutura geral perpetua em todos os graus uma base. Ao se compreender essa base, é possível entender como o conhecimento se dá naquela área, seja no intelecto psicológico humano ou na linguagem, seja na filosofia ou na estrutura geral da sociedade.
Tópicos deste artigo
- 1 - Estruturalismo e Psicologia
- 2 - Estruturalismo linguístico
- 3 - Estruturalismo na Filosofia
- 4 - Sociologia e Antropologia
Estruturalismo e Psicologia
Os primeiros estudos que levantaram o multidisciplinar método estruturalista foram do psicólogo, médico e filósofo alemão Wilhelm Wundt. Um dos pioneiros da psicologia experimental, Wundt buscou, por meio de seu laboratório de psicologia experimental, validar novos meios de pesquisa psicológica. Para o psicólogo, há uma estrutura geral do intelecto humano que tende a se repetir em todos.
Entendendo a estrutura geral psicológica dos seres humanos, é possível entender de maneira mais clara como ocorre o comportamento psicológico humano. Essa tese do estruturalismo garante um efeito muito buscado pelas pesquisas psicológicas: sair do terreno relativista do indivíduo e chegar a um patamar mais científico e mais seguro. Nesse sentido, a tarefa da psicologia é entender as bases estruturais gerais por intermédio da análise do indivíduo como uma parte (como um átomo) de um todo.
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Estruturalismo linguístico
A linguística também movimentou esforços para adotar o estruturalismo como modo de estudar o fenômeno da linguagem. Ferdinand Saussure, linguista suíço, é um dos primeiros estruturalistas da história e o primeiro a implementar o estruturalismo na ciência linguística. Diferenciando-se dos linguistas de sua época, Saussure não acreditava em uma formação puramente histórica da linguagem. Para o estudioso suíço, o que levantava a necessidade e a cientificidade dos estudos linguísticos era, justamente, a possibilidade de uma estrutura comum da linguagem, indiferente do idioma em que essa linguagem se manifestasse.
Para Saussure, havia uma estrutura central da linguagem, que estava embasada, primeiramente, em dois elementos básicos das linguagens, significante e significado. Significante é a expressão material de uma palavra (o que ela representa no mundo, ou seja, materialmente). Significado é o conceito representado pela palavra. A primeira base é sucedida por outra compreensão, a compreensão dos signos, que constituem as primeiras e mais singulares unidades simbólicas da linguagem. Esse elemento fundou a semiologia (ou semiótica) no estudo linguístico como o ponto primordial para entender a estrutura da linguagem. No entanto, apesar de ter iniciado o estruturalismo linguístico, Saussure nunca utilizou o termo “estrutura”, e sim “sistema”.
Estruturalismo na Filosofia
A filosofia, em especial a de vertente francesa dos pensadores do século XX, foi fortemente influenciada pelo estruturalismo. Dentre o materialismo histórico de Karl Marx e o existencialismo, determinado pelas teorias de Jean-Paul Sartre na França, surgiu o estruturalismo por meio da ótica de pensadores como Thomas Althusser e Roland Barthes. A curta e intensa atuação do estruturalismo no meio intelectual francês durou o bastante para ser levada a cabo em suas máximas consequências, resultando no movimento pós-estruturalista.
O pós-estruturalismo, fortemente difundido no meio intelectual francês e para o grande público midiático pelo filósofo Michel Foucault, consiste em um esgotamento do estruturalismo. As bases do estruturalismo foram tão levadas a sério que elas se esgotaram em um movimento de estender ao máximo a ideia de uma estrutura básica do conhecimento humano. A partir daí, nomes de intelectuais como Jean-François Lyiotard, Guy Debord, Gilles Deleuze, Jacques Derrida e Felix Guattari despontaram como expoentes máximos do pós-estruturalismo francês.
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Sociologia e Antropologia
Misturando o idealismo alemão do filósofo Immanuel Kant, o método comparativo do sociólogo francês Émile Durkheim e com inspirações embasadas no estruturalismo linguístico de Saussure, o antropólogo belga Claude Lévi-Strauss desenvolveu o estruturalismo na antropologia.
Com fortes aspirações no idealismo, os estruturalistas não aceitavam com facilidade a introdução de métodos de estudo empíricos. Do mesmo modo, a antropologia não poderia mais (desde os estudos do antropólogo polonês Bronislaw Malinowski) trabalhar de maneira puramente teórica. Ao mesmo tempo, a antropologia (mesmo sendo empírica) deveria buscar a essência do estruturalismo: bases comuns, ou seja, estruturas da formação dos seres humanos, que se evidenciaram pela cultura e pela formação das sociedades.
Existe uma estrutura básica que faz com que todas as formações humanas comunguem das mesmas bases. Para Lévi-Strauss, compreender essas bases é o caminho para que a antropologia consiga se estabelecer enquanto ciência legítima. A busca central da antropologia contemporânea de Strauss se dá pela cultura. O mundo possui diversas culturas diferentes (cada sociedade desenvolve uma cultura) e cada cultura é entendida como parte de um todo. O todo é a humanidade. Compreender as partes, juntá-las e entender os elementos estruturais delas, como se fossem uma espécie de quebra-cabeças, é o que faz o estruturalismo.
Um exemplo de elemento estrutural percebido por Lévi-Strauss foi o parentesco. Na obra As estruturas elementares do parentesco, o antropólogo percebeu que, em todas as culturas estudadas, o parentesco é entendido como algo que deve ser respeitado na conservação dos núcleos sociais e, mais do que isso, o incesto é um tabu em todas as formações sociais.
Para consolidar os estudos de campo antropológicos estruturalistas de Claude Lévi-Strauss, foi necessário recorrer também ao funcionalismo de Malinowski, que recorria ao estudo de campo de sociedades tribais, consideradas mais próximas de uma cultura de base e menos contaminadas por uma cultura científica, técnica e industrial. Como campo de seus estudos, Strauss escolheu as sociedades indígenas brasileiras, vivendo aqui por muitos anos, período em que viveu em tribos indígenas, pesquisou a cultura indígena de tribos do Mato Grosso e lecionou, durante certo tempo, na Universidade de São Paulo (USP). Para se aprofundar mais nessa ciência social, acesse o nosso texto: antropologia.
Crédito da imagem
[1] UNESCO/Michel Ravassard / Commons
Por Francisco Porfírio
Professor de Sociologia