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Canção do exílio

Canção do exílio é o poema mais famoso de Gonçalves Dias. A obra, de cunho saudosista, enaltece o Brasil e apresenta características românticas, como o nacionalismo.

Poema “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias.
Canção do exílio é um famoso poema de Gonçalves Dias. (Créditos: Gabriel Franco | Brasil Escola)
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Canção do exílio é o poema mais famoso do escritor brasileiro Gonçalves Dias. Esse autor pertenceu à primeira geração romântica. Assim, seu poema, escrito em redondilha maior, apresenta cunho nacionalista. Nessa obra, o eu lírico, cheio de saudade de sua terra, exalta os elementos naturais do Brasil, de forma a mostrar sua superioridade em relação a outras nações.

Leia também: Iracema — famosa obra de José de Alencar que possui cunho nacionalista e indianista

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Canção do exílio

  • Canção do exílio é um poema romântico de Gonçalves Dias.

  • No poema, o eu lírico exalta a sua terra natal, ou seja, o Brasil.

  • Com saudosismo, ele afirma que as aves, o céu, as várzeas, os bosques e a vida no Brasil são superiores em comparação ao que existe no país estrangeiro.

  • Dois grandes símbolos nacionais apontados nesse poema são as palmeiras e o sabiá.

  • Na última estrofe, o eu lírico expressa seu desejo de não morrer antes de voltar para a sua terra.

Poema Canção do exílio

Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Coimbra — Julho 1843.

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Análise do poema Canção do exílio

A obra de Gonçalves Dias faz parte da primeira geração do romantismo brasileiro. Portanto, sua principal marca é o nacionalismo. De forma ufanista, o eu lírico idealiza a sua pátria. A obra foi escrita quando o autor estudava em Portugal, o que serviu de inspiração para o sentimento de saudade impresso nos versos.

O poema apresenta versos de sete sílabas (redondilha maior), muito comuns em obras românticas. Além disso, traz como símbolos nacionais o sabiá e as palmeiras. Assim, o eu lírico diz que sua terra (implicitamente, o Brasil) tem palmeiras, onde o sabiá canta. Afirma que as aves que gorjeiam “aqui” (na terra estrangeira) não gorjeiam (tão bem) como “lá” (na pátria).

Além das aves nacionais, o eu lírico também enaltece o céu, as várzeas, os bosques e a vida em sua pátria. Em um país estrangeiro, sozinho à noite, a pensar, o eu lírico encontra mais prazer “lá”, isto é, na lembrança de sua terra natal.

Ele afirma que sua terra “tem primores” que ele não encontra no país estrangeiro. Por fim, expressa o desejo de que Deus não o deixe morrer antes de voltar ao seu país, desfrutar seus primores e avistar de novo as palmeiras, onde o sabiá canta.

Intertextualidade e Canção do exílio

O poema Canção do exílio se transformou em um símbolo nacional e inspirou outras obras. Alguns poemas brasileiros, portanto, apresentam uma relação intertextual com a obra de Gonçalves Dias, como veremos nos exemplos a seguir.

Canção do exílio
(Casimiro de Abreu)

Eu nasci além dos mares:
Os meus lares,
Meus amores ficam lá! —
Onde canta nos retiros
Seus suspiros,
Suspiros o sabiá!

Oh que céu, que terra aquela,
Rica e bela
Como o céu de claro anil!
Que seiva, que luz, que galas,
Não exalas
Não exalas, meu Brasil!

Oh! que saudades tamanhas
Das montanhas,
Daqueles campos natais!
Daquele céu de safira
Que se mira,
Que se mira nos cristais!

Não amo a terra do exílio,
Sou bom filho,
Quero a pátria, o meu país,
Quero a terra das mangueiras
E as palmeiras,
E as palmeiras tão gentis!

Como a ave dos palmares
Pelos ares
Fugindo do caçador;
Eu vivo longe do ninho,
Sem carinho;
Sem carinho e sem amor!

Debalde eu olho e procuro...
Tudo escuro
Só vejo em roda de mim!
Falta a luz do lar paterno
Doce e terno,
Doce e terno para mim.

Distante do solo amado
— Desterrado —
A vida não é feliz.
Nessa eterna primavera
Quem me dera,
Quem me dera o meu país!

Lisboa –– 1855

Canção do exílio
(Casimiro de Abreu)

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!

Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!

O país estrangeiro mais belezas
Do que a pátria, não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
Tão doces duma mãe!

Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!

Quero ver esse céu da minha terra
Tão lindo e tão azul!
E a nuvem cor-de-rosa que passava
Correndo lá do sul!

Quero dormir à sombra dos coqueiros,
As folhas por dossel;
E ver se apanho a borboleta branca,
Que voa no vergel!

Quero sentar-me à beira do riacho
Das tardes ao cair,
E sozinho cismando no crepúsculo
Os sonhos do porvir!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
A voz do sabiá!

Quero morrer cercado dos perfumes
Dum clima tropical,
E sentir, expirando, as harmonias
Do meu berço natal!

Minha campa será entre as mangueiras
Banhada do luar,
E eu contente dormirei tranquilo
À sombra do meu lar!

As cachoeiras chorarão sentidas
Porque cedo morri,
E eu sonho no sepulcro os meus amores
Na terra onde nasci!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!

Lisboa — 1857

Canção do exílio
(Murilo Mendes)

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!

Canto de regresso à pátria
(Oswald de Andrade)

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo

Objetivos do poema Canção do exílio

O poema Canção do exílio pretende enaltecer o Brasil e despertar o sentimento de nacionalidade em seus leitores brasileiros.

Gonçalves Dias, autor de Canção do exílio

Pintura de Gonçalves Dias, o autor de “Canção do exílio”.
Gonçalves Dias é o autor de Canção do exílio.

Antônio Gonçalves Dias é o autor de Canção de exílio. Ele nasceu em Caxias, no Maranhão, no dia 10 de agosto de 1823. Era filho de um comerciante português e de uma brasileira de ascendência negra e indígena. No entanto, foi criado pela nova esposa do pai. Mais tarde, fez faculdade de Direito em Coimbra.

Voltou ao Brasil em 1845 e foi professor de História do Brasil e de Latim no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. A partir de 1852, também trabalhou na Secretaria dos Negócios Estrangeiros, o que permitiu que ele voltasse a morar na Europa durante alguns anos. O poeta faleceu em 3 de novembro de 1864, em um naufrágio, ao voltar de sua última viagem ao continente europeu.

Para saber mais sobre Gonçalves Dias, clique aqui.

Exercícios resolvidos sobre a obra Canção do exílio

Questão 1

(Unimontes) Leia atentamente os textos abaixo.

Texto I

Canção do exílio facilitada

lá?

ah!

sabiá...

papá...

maná...

sofá...

sinhá...

cá?

bah!

José Paulo Paes.

Texto II

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem que ainda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias.

Assinale a alternativa INCORRETA.

A) O texto I mantém o tom saudosista presente na famosa canção gonçalvina.

B) O texto I recupera a ideia do exílio do texto II, porém em linguagem sintética.

C) O texto I representa uma contradição da “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias.

D) O “lá” e o “cá”, na perspectiva das duas canções, têm sentidos similares.

Resolução:

Alternativa C.

O sentido dos dois poemas é o mesmo, apesar de o texto I apresentar linguagem sintética. Portanto, é incorreto afirmar que o texto I representa uma contradição da Canção do exílio.

Questão 2

(Unimontes) Leia com atenção a “Nova canção do exílio”, de Carlos Drummond de Andrade. A seguir, responda ao que foi proposto.

Nova canção do exílio

Um sabiá na
palmeira, longe.

Estas aves cantam
um outro canto.

O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.

Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.

Onde tudo é belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
na palmeira, longe.)

Ainda um grito de vida e
voltar
para onde tudo é belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.

Assinale a alternativa INCORRETA.

A) A canção drummondiana retoma a voz ufanista da composição de Gonçalves Dias.

B) A canção do poeta mineiro representa desencanto e melancolia do eu lírico.

C) A canção evidencia o lugar de isolamento do poeta face aos outros.

D) A canção ressalta a diferença entre o sabiá canoro e as outras aves.

Resolução:

Alternativa A.

O poema de Drummond não apresenta caráter ufanista, isto é, patriótico. Afinal, o “longe” mencionado no poema pode ter vários significados, bem como o “sabiá”, que pode ser o próprio eu lírico ou poeta. No poema de Gonçalves Dias, está explícita a ideia de pertencimento a uma “terra” (nação). Já no poema de Drummond, o “longe” pode ser uma lembrança ou um desejo, por exemplo. Dessa forma, não há a explicitação de um sentimento patriótico ou ufanista.

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.

ABL. Gonçalves Dias: biografia. Disponível em: http://www.academia.org.br/academicos/goncalves-dias/biografia.

ABREU, Casimiro de. As primaveras. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

GONÇALVES DIAS. Primeiros cantos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1998.

LAJOLO, Marisa. Fotoblog da vida e da obra de Gonçalves Dias. In: LAJOLO, Marisa.. O poeta do exílio. São Paulo: FTD, 2011.

LAJOLO, Marisa. O preço da leitura: Gonçalves Dias e a profissionalização de um escritor brasileiro oitocentista. MOARA, Belém, n. 21, p. 33-47, jan./ jun. 2004.

MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. 

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Canção do exílio"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/cancao-do-exilio.htm. Acesso em 09 de abril de 2025.

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