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Ser mãe
É desdobrar fibra por fibra
Os corações dos filhos.
O amor é a mola propulsora da vida. Provavelmente há quem discorde, porém, nenhum sentimento ganhou mais destaque entre poetas e artistas ao longo de nossa história. Há quem diga que, entre todos os amores, o amor de mãe seja o mais contundente, um amor literalmente visceral.
O dia das mães é comemorado no Brasil a cada segundo domingo de maio, mas em outras culturas as mães também são lembradas. Embora tenha adquirido uma conotação um tanto quanto comercial, a data pode ser um ótimo momento para pensarmos nas relações entre pais e filhos, certamente um dos temas mais explorados na Literatura universal. Na impossibilidade de traduzir fielmente o sentimento maternal, poetas como Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana, Antero de Quental, Vinicius de Moraes e Coelho Neto produziram belos poemas sobre as mães, nos quais tentaram explicar em versos e metáforas algo tão sensorial.
O mais sublime entre todos os sentimentos, um dos mais versados e lembrados na Literatura e nas artes plásticas, o amor de mãe, que transcende e faz transcender, viu na arte sua representação perfeita. Figura que dá contornos e cores ao mundo, alheias às datas convencionadas no calendário, mundo afora as mães seguem seu ofício de amar e educar todos os dias. Para provar a intensa relação entre mães, literatura e artes plásticas, selecionamos para você cinco poemas sobre mães de grandes poetas da língua portuguesa, além de cinco belíssimas telas que retratam com as cores de suas tintas o infinito amor maternal. Boa leitura!
Tópicos deste artigo
Os cinco melhores poemas sobre mães
MÃE...
São três letras apenas,
As desse nome bendito:
Três letrinhas, nada mais...
E nelas cabe o infinito
E palavra tão pequena - confessam mesmo os ateus -
És do tamanho do céu
E apenas menor do que Deus!
Mario Quintana
Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade
MÃE
Mãe ‑ que adormente este viver dorido.
E me vele esta noite de tal frio,
E com as mãos piedosas até o fio
Do meu pobre existir, meio partido...
Que me leve consigo, adormecido,
Ao passar pelo sítio mais sombrio...
Me banhe e lave a alma lá no rio
Da clara luz do seu olhar querido...
Eu dava o meu orgulho de homem – dava
Minha estéril ciência, sem receio,
E em débil criancinha me tornava,
Descuidada, feliz, dócil também,
Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
Se tu fosses, querida, a minha mãe!
Antero de Quental
Minha Mãe
Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora. Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fonte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.
Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão. que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu
Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe.
Vinicius de Moraes
Ser mãe
Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
lábio que suga, o pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.
Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo! É ser anseio,
é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra!
Todo o bem que a mãe goza é bem do
filho, espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!
Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!
Coelho Neto