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A partir da segunda metade do século XIX, o território que hoje corresponde à Alemanha passou por um processo de unificação territorial, o que garantiu o surgimento do Império Alemão sob a liderança da Casa de Hohenzollern. A Prússia liderou esse processo por meio das ações tomadas por Otto von Bismarck como primeiro-ministro prussiano. A Unificação Alemã também foi responsável pela alteração da balança de poder na Europa no final do século XIX.
Tópicos deste artigo
- 1 - Antecedentes históricos da Unificação Alemã
- 2 - Causas da Unificação Alemã
- 3 - Guerras de unificação
- 4 - Consequências da Unificação Alemã
Antecedentes históricos da Unificação Alemã
Na segunda metade do século XIX, a região correspondente à Alemanha era formada por uma série de pequenos reinos e ducados que possuíam uma mesma raiz cultural, mas que não eram politicamente unificados. As duas forças hegemônicas existentes nessa região, então conhecida como Confederação Germânica, eram a Prússia, liderada pela dinastia dos Hohenzollern, e o Império Austro-húngaro.
Desde o começo do século XIX, já havia ideais nacionalistas que defendiam a unificação dessa região. Esses ideais ganharam força a partir das revoluções liberais de 1848, as quais, no caso da Alemanha, levaram a uma série de movimentos de unificação, sob ideais democráticos e liberais, mas que, no entanto, fracassou em obter a união desse território em um Estado-nação.
Apesar disso, as revoluções de 1848 contribuíram para o fortalecimento do nacionalismo e da busca pela formação de um Estado-nação a partir de uma unificação territorial. Esse processo foi encabeçado pela Prússia, região mais desenvolvida nessa época, que via nele uma forma de garantir seu desenvolvimento econômico. Os prussianos defendiam ainda que, nessa ação, deveria haver a exclusão de qualquer influência da Áustria.
Economicamente, a Prússia já buscava garantir seus interesses em relação aos outros reinos germânicos por meio de uma união aduaneira, conhecida como Zollverein. Esse acordo econômico possibilitou o livre comércio entre os estados germânicos da Confederação Germânica e excluía a participação da Áustria, rival da Prússia.
Causas da Unificação Alemã
O projeto de unificação da Alemanha ganhou força a partir de 1857, quando Guilherme I assumiu o trono prussiano depois do afastamento do rei, Frederico Guilherme IV, em razão de uma doença cerebral. Ao assumir o trono, Guilherme I, juntamente de Albrecht von Roon, nomeado Ministro da Guerra, iniciou um projeto de modernização do exército que foi extremamente importante para as guerras travadas posteriormente.
Outros nomes importantes a assumir cargos de responsabilidade naquele momento, e que foram fundamentais para a Unificação Alemã, foram Helmuth von Moltke, como Chefe do Estado-Maior, e Otto von Bismarck, nomeado primeiro-ministro em 1862 e hábil político que conseguiu coordenar as guerras travadas pelos prussianos sem que houvesse interferências estrangeiras.
A ação do governo prussiano, encabeçado por Guilherme I e Otto von Bismarck, fez com que a Prússia travasse três guerras em um período de sete anos. As vitórias prussianas nesses conflitos promoveram a unificação da região e o surgimento do Império Alemão. Essas três guerras foram:
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Guerra dos Ducados (1864);
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Guerra Austro-Prussiana (1866);
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Guerra Franco-Prussiana (1870-1871).
Ao final desse processo, o mapa europeu passou por uma série de transformações, com a qual a Unificação Alemã redefiniu a balança de poder existente na Europa, marcou as decadências da Áustria e da França na posição de potências e, ao mesmo tempo, afirmou o surgimento da Alemanha como potência econômica e militar. As consequências dessas mudanças produziram o primeiro conflito do século XX: a Primeira Guerra Mundial.
Guerras de unificação
O projeto de unificação da Alemanha iniciou-se com as ambições prussianas em relação aos ducados dinamarqueses de Holstein e Schleswig. A guerra da Prússia contra os dinamarqueses ficou conhecida como Guerra dos Ducados e teve início quando a Dinamarca quebrou um acordo realizado com a Prússia e a Áustria em 1852, em Londres.
Nesse acordo de 1852, a Dinamarca havia concordado em garantir a autonomia política para os ducados de Holstein e Schleswig. No entanto, uma nova constituição promulgada pela Dinamarca, em 1863, decretou a redução da autonomia política desses ducados. Dessa forma, isso foi utilizado pela Prússia como pretexto para realizar a invasão do território dinamarquês. Os prussianos, então, fizeram um acordo com a Áustria e, juntos, atacaram a Dinamarca e conquistaram os ducados.
Ao final da guerra, os alemães ficaram com o controle de Schleswig, e os austríacos, com Holstein. A divisão dos ducados dinamarqueses acabou gerando um desentendimento entre Áustria e Prússia, o que levou as duas nações à guerra. A guerra contra a Áustria era desejada por Bismarck, que, antes desse conflito, agiu habilmente e obteve o apoio italiano e a neutralidade francesa.
A Guerra Austro-Prussiana também teve rápido desfecho e resultou na vitória prussiana sobre os austríacos. O apoio italiano foi extremamente importante, pois dividiu as forças austríacas e enfraqueceu suas posições no norte. A superioridade de tecnologia militar e a melhor estratégia de batalha, formulada por Moltke, também garantiram o êxito dos prussianos nessa guerra.
Com essa vitória, os prussianos adquiriram boa parte dos territórios germânicos que haviam apoiado os austríacos durante a guerra. Além disso, esse novo cenário possibilitou que a Áustria fosse excluída de participar de qualquer assunto debatido pela Confederação Germânica. Os austríacos também foram obrigados a pagar uma indenização de guerra aos prussianos.
Por fim, a Prússia envolveu-se em um conflito contra a França, que ficou conhecido como Guerra Franco-Prussiana. Essa guerra foi causada, primeiramente, pelo temor dos prussianos a uma possível ambição francesa por estados germânicos no sul, que não haviam sido, até então, anexados. O estopim do conflito foi o desentendimento provocado pela questão da sucessão do trono espanhol.
A guerra entre França e Prússia começou em meados de 1870 e estendeu-se até o início de 1871, tendo como desfecho uma vergonhosa derrota para os franceses. Novamente, a superioridade de armamentos e de estratégia militar garantiu a vitória prussiana. A derrota francesa resultou em grande humilhação ao país, conforme afirma Armando Vidigal:
Os termos do armistício foram duros, pois o objetivo prussiano era deixar a França enfraquecida por muitos anos. A Alemanha anexou a Alsácia e a Lorena germânica (incluindo) Metz; a França comprometeu-se a pagar uma indenização de 5 bilhões de francos e a arcar com os custos da ocupação alemã das províncias do norte até que a indenização fosse paga. Paris não chegou a ser ocupada, mas sofreu a humilhação de uma marcha triunfal alemã ao longo dos Campos Elísios|1|.
A partir da vitória na Guerra Franco-Prussiana, a Unificação Alemã foi concluída e, assim, foi formado o Segundo Reich, ou Segundo Império Alemão, com a proclamação de Guilherme I como kaiser, ou seja, imperador. Otto von Bismarck seguiu como primeiro-ministro após o surgimento do Império Alemão.
Consequências da Unificação Alemã
A Unificação Alemã alterou completamente as estruturas de poder existentes na Europa, vigentes desde o Congresso de Viena de 1814 e 1815. A Alemanha transformou-se na nação hegemônica do continente europeu, e o desfecho da Guerra Franco-Prussiana amargou as relações entre as duas nações. Por todo esse continente, espalhou-se uma tensão que, décadas depois, desembocaria no início da Primeira Guerra Mundial.
Nota
|1| VIDIGAL, Armando. Guerras da Unificação Alemã. In.: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2013, p. 313.