PUBLICIDADE
O Ustasha, ou Ustaše, era um partido nacionalista croata de extrema-direita que foi colocado no poder de um Estado fantoche criado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Esse Estado chamava-se Estado Independente da Croácia e foi criado após os nazistas invadirem a Iugoslávia em 1941. Esse Estado fantoche existiu até 1945, quando foi derrotado pelos Partisans (comunistas) iugoslavos. Nos quatro anos em que exerceu o poder, o Ustaše impôs um projeto de terror, perseguindo sérvios e judeus e promovendo um genocídio na região.
Ustaše antes da guerra
O Ustaše surgiu como resultado do nacionalismo croata durante a década de 1920 e era liderado por Ante Pavelić. Esse nacionalismo croata foi consequência da formação da Iugoslávia, que agrupava várias nacionalidades diferentes, entre elas, sérvios e croatas. O poder na Iugoslávia durante as décadas de 1920 e 1930 estava concentrado nas mãos dos sérvios, e isso motivou o surgimento de um movimento de independência e um sentimento revanchista a partir do Ustaše.
O Ustaše era, portanto, um movimento separatista que visava ao surgimento da Croácia como Estado independente. Para que isso acontecesse, defendia ações de força: insurreições, terrorismo e a luta armada. O Ustaše foi ao longo da história classificado como um partido de orientações fascistas, pois inspirou-se em várias tendências políticas da época, como o nazismo alemão e o fascismo italiano, além de se apoiar em ideais nacionalistas dos croatas surgidos no século XIX.
O Ustaše possuía ideais anticomunistas, racistas, xenofóbicas, antissemitas, eram contrários à democracia liberal – como todos os movimentos de extrema-direita da década de 1930 – e defendiam o uso da violência contra as minorias consideradas “inimigos internos”, principalmente contra os sérvios. Além disso, proclamava-se abertamente um partido católico.
O grupo foi fundado oficialmente por Ante Pavelić, em 1930, na Itália, e teve adesão de muitos croatas espalhados pela Itália, Hungria, Alemanha e Áustria. Pavelić era chamado de Poglavnik, que é basicamente o correspondente em croata para Führer, em alemão, e Duce, em italiano. Todos os três termos eram usados como forma de tratamento e significam “líder supremo”. Esses termos demonstravam respeito e admiração e eram usados exclusivamente em referência aos líderes (nesse caso, Poglavnik para Pavelić, Führer para Hitler e Duce para Mussolini).
Fora da Croácia, o Ustaše recebeu adesão e apoio financeiro de muitos croatas, o que possibilitou seu financiamento, treinamentos militares e ações terroristas. Apesar disso, o suporte interno ao Ustaše não passou de 10% da população croata.
Invasão nazista na Iugoslávia
O Ustaše alcançou o poder a partir de 1941, quando os nazistas invadiram a Iugoslávia, destituindo o príncipe Paulo do comando do país. A colaboração do Ustaše com os nazistas trouxe-lhes o poder no Estado Independente da Croácia a partir de 10 de abril de 1941. Os nazistas haviam invadido a Iugoslávia para garantir o controle sobre recursos materiais da região e conseguir passagem para enviar tropas para a Grécia.
Uma vez que os nazistas dominaram a região, foi realizada a distribuição do poder e dos territórios. Pavelić, para assumir o poder da Croácia, precisou aceitar as imposições alemãs e italianas. Assim, o Estado Independente da Croácia só foi possível porque aceitaram que parte do território iugoslavo fosse distribuída entre italianos, alemães e húngaros. Além disso, os croatas tiveram de aceitar as interferências dos alemães no poder quando necessário. Na prática, a independência croata em 1941 era aparente, pois de fato eram apenas um Estado fantoche dos alemães nazistas.
A invasão nazista na Iugoslávia e o poder nas mãos do Ustaše motivaram o surgimento de movimentos de resistência em toda a Iugoslávia. Os grupos que se destacaram foram os sérvios monarquistas chamados de Chetniks e os comunistas iugoslavos chamados de Partisans. Esses grupos eram liderados por Draža Mihailović e Josip Broz Tito, respectivamente. Os quatro anos seguintes na Iugoslávia foram, em resumo, uma guerra civil na qual Ustaše, Chetniks e Partisans lutaram violentamente entre si.
Terror Ustaše
Assim que assumiu o poder, Ante Pavelić colocou em prática o seu projeto de limpeza étnica na Croácia. Seus principais alvos foram sérvios, judeus e ciganos. Isso ocorreu porque, na ideologia Ustaše, a construção de um Estado “etnicamente puro”, ou seja, homogêneo e formado apenas por croatas étnicos, era fundamental.
Assim foi instituída pelo Ustaše uma forte perseguição aos sérvios em toda a Croácia. A política Ustaše tinha os seguintes objetivos: matar um terço dos sérvios, expulsar um terço dos sérvios da Croácia e converter o terço restante ao catolicismo (os sérvios eram cristãos ortodoxos). Assim, uma semana após alcançar o poder, Pavelić decretou uma lei impondo pesadas punições a todos que ameaçassem os interesses nacionais e ofendessem o povo croata.
A política genocida implantada por Pavelić resultou, em 1941, em um grande massacre em parte da Bósnia e Croácia, onde milícias croatas invadiam vilas e massacraram a população sérvia. Geralmente, o Ustaše matava todos os homens sérvios adultos, dando prioridade aos padres ortodoxos. As igrejas ortodoxas também foram destruídas em massa. Além disso, qualquer manifestação cultural de origem sérvia (como o alfabeto cirílico) era perseguida.
O ápice da política genocida do Ustaše foi a criação do campo de concentração em Jasenovac. No campo de concentração de Jasenovac, cerca de 100 mil pessoas foram mortas; destas, cerca de 50 mil eram sérvias.
Os judeus, apesar de poucos numerosos na Iugoslávia, sofreram perseguição intensa do Ustaše, que havia herdado o antissemitismo do nazismo alemão, assim como a perseguição aos ciganos. Estima-se que, em seis meses no poder, o Ustaše reduziu o número de judeus na Croácia de 45 mil para 12 mil e que, após a guerra, os ciganos foram quase completamente extintos da região. No caso dos sérvios, estimativas apontam que um em cada seis sérvios morreu na guerra.
Derrota Ustaše
O Ustaše foi derrotado em 1945, após a expulsão dos nazistas da Iugoslávia. Os Partisans, apoiados por soviéticos e britânicos, prevaleceram e assumiram o poder na região. O Estado Independente da Croácia deixou de existir e passou a ser parte da República Socialista Federativa da Iugoslávia. O líder do Ustaše, Ante Pavelić, conseguiu fugir em 1945. Recebeu asilo político da Espanha fascista e lá morreu em 1959, aos 70 anos de idade. O que restou da ideologia Ustaše na Croácia foi duramente perseguido pelo governo socialista da Iugoslávia após 1945.
*Crédito da imagem: Neftali e Shutterstock
Por Daniel Neves
Graduado em História