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A varíola, que é uma doença muito antiga e altamente contagiosa, provocou muitas mortes e deixou muitas vítimas com sequelas no Brasil. Edward Jenner, no século XVIII, foi quem descobriu a vacina contra essa doença, tornando essa descoberta uma grande vitória para a ciência. Jenner, em suas pesquisas, chegou à conclusão de que as pessoas que trabalhavam com vacas que tinham varíola não contraiam a doença tão facilmente, pois os indivíduos quando contaminados com a varíola bovina ficavam imunes à varíola humana.
O processo de vacinação chegou ao Brasil somente no início do século XX, sendo o Rio de Janeiro uma das primeiras cidades a oferecer a vacina. Por ser uma doença muito grave, os políticos pensavam que a população brasileira receberia sem nenhuma resistência essa vacina, entretanto, como afirma o historiador Eliezer Cardoso de Oliveira, em sua tese “As representações do medo e das catástrofes em Goiás”, as pessoas não queriam ser vacinadas pelo choque que existia entre ciência e cultura popular. Pois foi o medo do desconhecido que contribuiu para o receio em receber algo completamente diferente dos costumes e hábitos de diversas populações espalhadas pelo Brasil.
A Revolta da Vacina no Rio de Janeiro, em 1904, foi a mais conhecida resistência contra as medidas sanitaristas efetuadas pelo governo. A falta de informação sobre os efeitos da vacina e a maneira impositiva dos políticos em obrigar os cariocas a receberem a vacinação contribuiu para o medo e a resistência. Em todos os Estados brasileiros houve receio por parte da população em receber a vacina; em Goiás não foi diferente. Oliveira destaca que os principais motivos da resistência popular estavam no campo imaginário, as pessoas tinham receio em receber a vacina por causa de sua origem, acreditavam que os crianças poderiam nascer com semelhanças físicas de um bovino.
O fato do processo de vacinação ser bastante demorado e dolorido também gerou desconforto. Os pontos de vacinação eram poucos e os goianos tinham que andar uma longa distância para chegar a esses locais e, quando recebiam a aplicação, deveriam voltar quinze dias depois para que os médicos aproveitassem as pústulas, ou seja, o pus que saía do local vacinado para ser aplicado em outra pessoa, pois a quantidade de vacina era pouca e essa medida era adotada para conseguir vacinar todos. Outro motivo era que a ciência através da vacina estaria interferindo nas ordens divinas e que os homens estavam tentando modificar a história escrita por Deus. Havia uma concepção fatalista da vida e da morte e a vacina era uma tentativa de enganar a morte, driblando a vontade divina. Além disso, a vacinação contrariava as práticas médicas tradicionais, como a sangria e os vomitórios que expeliam a doença para fora e não para dentro como a vacina faz.
Portanto, a resistência da vacina foi provocada pelo choque das tradições com o novo, do choque da ciência com os costumes. O processo de vacinação mostrou-se também como o exemplo da interferência do Estado na vida das pessoas, na busca para civilizar a sociedade brasileira. Desse modo, essa revolta mostrou o descontentamento da população contra o estado e contra a tentativa dos políticos em adotar práticas que geravam desconfiança e incerteza perante aquilo que se mostrava como novo e desconhecido, a vacina.
Por Fabrício Santos
Graduado em História