PUBLICIDADE
A miscigenação que consiste na mistura de raças é um dos traços que mais esclarecem a verdadeira identidade do povo brasileiro. Esse conceito durante o período imperial no Brasil foi sistematicamente ocultado nas primeiras obras de historiadores que escreveram sobre o país tupiniquim.
Em 1830, por determinação do império brasileiro, ergueu-se o chamado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, IHGB. Esse instituto tinha o objetivo de escrever a história do Brasil criando assim uma memória dos fatos importantes do passado. Sua inauguração foi através da realização de um concurso que premiaria o escritor que escrevesse a melhor história da sociedade brasileira.
Foi com essa perspectiva que o alemão Von Martius venceu o concurso com sua tese “História Geral do Brasil”. Nela, o conceito de Miscigenação foi pouco trabalhado e a figura do português ganhou um papel de protagonismo. O receio de mostrar a verdadeira identidade da sociedade brasileira influenciou os primeiros escritos da História do Brasil e só foi a partir de 1930 que essa realidade historiográfica mudou.
Nessa época, surgiram intelectuais de grande estatura que romperam com a escrita tradicional e deram uma nova guinada na abordagem historiográfica brasileira. Dentre eles, destacam-se Sérgio Buarque de Holanda, autor de “Raízes do Brasil,” Gilberto Freyre, que escreveu “Casa Grande e Senzala”, e Caio Prado Junior, autor de “Formação do Brasil Contemporâneo”. Ambos os autores não falsearam o conceito de miscigenação e trataram seus escritos com originalidade.
Em “Raízes do Brasil” – publicado em 1936 - Sérgio Buarque pontuou as negativas heranças culturais ibéricas deixadas aqui nos trópicos. O conceito de homem cordial, por exemplo, foi o principal ataque ao legado deixado pelos portugueses, esse conceito referia-se àquela pessoa que agia mais pela emoção do que pela razão. Um exemplo de cordialidade era aquele homem que para escolher entre duas pessoas para uma vaga de emprego, escolhia o candidato que fosse seu amigo ou conhecido, ao invés de optar pela meritocracia. Isso serviu, portanto, para atrasar o progresso social, político e econômico brasileiro. Sérgio, então, propõe com toda honestidade a superação desses valores culturais para o desenvolvimento da sociedade brasileira.
Por outro lado, Gilberto Freyre não criticou a colonização efetuada pelos portugueses no Brasil, pelo contrário, fez um elogio à falta de orgulho de raça e à fácil adaptação dos lusitanos no território brasileiro. Porém, o que diferencia a obra de Freyre da escrita tradicional anterior a 1930 é a abordagem do processo de miscigenação do povo brasileiro. Em seu livro “Casa Grande e Senzala”, o autor afirma que foi essa falta de orgulho de raça dos portugueses que contribuiu para o sincretismo cultural e para as misturas de raças no Brasil.
Finalmente, Caio Prado Junior, que em seu livro “Formação do Brasil Contemporâneo”, publicado em 1942, critica profundamente os portugueses pelo seu caráter de exploração na colonização brasileira. Caio Prado, autor convictamente influenciado pelas teorias marxistas, debate que a função do Brasil Colônia era única e exclusivamente a de exportação dos produtos agrícolas. Por isso, ele afirma que a colonização teve um caráter predatório e os portugueses foram os protagonistas que iniciaram essa prática econômica. Assim, esses três autores, mesmo tendo diferenças quanto às perspectivas teóricas, polemizaram e inovaram a abordagem da história do Brasil a partir da publicação de suas obras no pós-1930.
Por Fabrício Santos
Graduado em História