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Século XXI

No Século XXI, além de guerras civis regionais, uma nova forma de guerra está em ascensão: o terrorismo islâmico.

Soldados americanos na Guerra do Iraque ou Segunda Guerra do Golfo (2003-2011)
Soldados americanos na Guerra do Iraque ou Segunda Guerra do Golfo (2003-2011)
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Século XXI: a Era do Terror

Se, para alguns autores, o século XX teve início efetivo em 1914, em razão da Primeira Guerra Mundial; para outros, o século XXI começou, de fato, em 11 de setembro de 2001, com o ataque terrorista às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, e ao prédio do Pentágono (sede do Departamento de Defesa dos estadunidenses), em Washington (capital dos Estados Unidos).

Esses ataques foram planejados e executados pela rede terrorista islâmica, de atuação internacional, Al-Qaeda, que, à época, era comandada pelo saudita Osama Bin Laden. Esse acontecimento revelou não apenas uma nova forma de ataque terrorista, maior e bem coordenado, como também uma nova concepção de guerra.

Medidas contra o Terror

O fato é que, após os ataques de 11 de setembro, a primeira medida decididamente bélica dos EUA foi procurar e atacar os centros de treinamento da Al-Qaeda. Na época, a Al-Qaeda estava sediada no Afeganistão e recebia apoio do Talibã, um grupo fundamentalista islâmico atuante no Paquistão e no Afeganistão.

A procura por Bin Laden e outros membros da Al-Qaeda desencadeou a Guerra do Afeganistão, em 2002, cujo momento mais expressivo foi a Batalha de Tora Bora. Essas ações de retaliação aos ataques de 11 de setembro de 2001 configuraram o que o governo do presidente dos EUA, George W. Bush, chamou de Guerra ao Terror.

Bombardeio em Tora Bora, onde se esconderam membros do grupo terrorista Al-Qaeda
 Bombardeio em Tora Bora, onde se esconderam membros do grupo terrorista Al-Qaeda

A “Guerra ao Terror” foi o modelo de guerra que mais ficou em evidência na primeira década do século XXI. Isso aconteceu, especialmente, em razão da Guerra do Iraque (ou como nomeiam alguns autores, “Segunda Guerra do Golfo”), que teve início em 2003 e só cessou em 2011. A Guerra do Iraque constituiu uma extensão da política da “Guerra ao Terror” dos Estados Unidos, só que com ênfase em regimes autoritários islâmicos que representavam um perigo internacional por conterem armas de destruição em massa. Era o caso do Iraque, que possuía armas químicas que haviam sido utilizadas, nos anos 1980, para dizimar milhares de pessoas da etnia curda. A questão da posse desse tipo de arma foi a principal justificativa para a deflagração da guerra em solo iraquiano.

Efeitos colaterais das medidas contra o Terror

O grande problema enfrentado no território iraquiano pelas tropas americanas não foi exatamente a resistência das forças armadas ligadas a Saddan Hussein, mas as guerras internas entre grupos jihadistas*, que também estavam interessados na derrubada de Saddan e no controle do território iraquiano. Entre esses grupos, estava uma facção da Al-Qaeda. A administração do governo de Barack Obama, eleito após o fim do mandato de Bush, decidiu por retirar as tropas americanas do Iraque e confiar o controle do país a um governo provisório. A retirada completa das tropas ocorreu em dezembro de 2011.

Nesse mesmo ano, muitos dos focos de insurreição contra o governo provisório começaram a ganhar mais força. Nos anos que se seguiram, o Iraque viu-se imerso em uma guerra civil generalizada, que dura até os nossos dias. Um dos grupos jihadistas que mais se aproveitaram dessa situação foi o Estado Islâmico, do qual falaremos mais adiante. Antes, precisamos falar um pouco da chamada “Primavera Árabe”, um acontecimento que mudou a situação do mundo islâmico e que pode ser o centro de inúmeras guerras futuras.

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Importância da Primavera Árabe

A “Primavera Árabe” foi uma sucessão de levantes insurrecionais ocorridos em países do norte da África e do Oriente Médio nos anos de 2011 e 2012. Quando ocorreram os primeiros levantes em 2011, muitos jornalistas e especialistas no mundo islâmico diziam que a “Primavera Árabe” tinha como objetivo derrubar as ditaduras dos países em questão e estabelecer um regime democrático.

Acontece que, com o tempo, foi verificada a presença maciça da ideologia radical islâmica nos rebeldes, haja vista que boa parte deles é defensora da implementação da Sharia, a lei islâmica, e da jihad. Essa ideologia penetrou nesses grupos de rebeldes por meio da Irmandade Muçulmana, uma organização fundada na década de 1920, no Egito, que tem sido uma das maiores propagadoras das ideias matrizes do terrorismo islâmico.

Países como Egito, Líbia e Tunísia tiveram a sua estrutura política, econômica e social completamente transformada com a Primavera Árabe. O risco de guerras civis é iminente nesses países, que também podem sofrer com ações de grupos terroristas, como é o caso da Síria, um dos alvos da “Primavera Árabe”.

A Síria, comandada pelo ditador Bashar Al-Assad, enfrenta uma guerra civil desde 2011 contra vários focos jihadistas que procuram derrubar Assad. Ao contrário do caso iraquiano, citado acima, a Síria não sofreu interferência direta dos EUA, mas alguns dos grupos de rebeldes atuantes em seu território receberam armas, treinamento e dinheiro americano. O problema é que muitos desses rebeldes são mercenários e lutam para quem oferecer maior quantia. Um dos grupos terroristas mais poderosos da atualidade, o Estado Islâmico, é quem mais se beneficia disso.

O ditador da Síria, Bashar Al-Assad, procura preservar-se no comando do país.**
 O ditador da Síria, Bashar Al-Assad, procura preservar-se no comando do país **  

A singularidade do Estado Islâmico

O Estado Islâmico originou-se de uma ruptura entre o grupo que representava a Al-Qaeda no Iraque e o próprio comando central da Al-Qaeda. Esse grupo iraquiano decidiu atuar também na Síria por volta de 2011. Na Síria, já havia outro grupo patrocinado pela Al-Qaeda, o Al-Nusra, o que levou a um choque entre os dois projetos. O líder do grupo iraquiano, Abu Bakr Al-Bahgdadi, elevou a condição do grupo jihadista à categoria de Estado, chamando-o de Estado Islâmico do Iraque e na Síria (ou Levante, como também é conhecido o território sírio onde eles atuam), cuja sigla em inglês é ISIS. Três anos depois, em agosto de 2014, esse mesmo líder autodeclarou-se califa do Estado Islâmico. A partir daí o nome do grupo ficou conhecido apenas como Estado Islâmico. Muitos oficiais do exército iraquiano, antes leais a Saddan, passaram a se aliar ao califa Abu Bahgdadi, como salienta o investigador Patrick Cockburn:

“Abu Bakr al-Baghdadi começou a surgir das sombras no verão de 2010, quando se tornou o líder da Al-Qaeda no Iraque, depois que seus antecessores foram mortos num ataque conduzido por tropas desse país e dos Estados Unidos. A Al-Qaeda no Iraque andava mal das pernas, já que a rebelião sunita, em que havia antes desempenhado um papel de liderança, estava sucumbindo. Foi reavivado pela revolta dos Sunitas na Síria, em 2011, e, nos três anos seguintes, por uma série de campanhas cuidadosamente planejadas, tanto nesse país quanto no Iraque. Não se sabe até que ponto al-Baghgdadi foi diretamente responsável pela estratégia militar e táticas da Al-Qaeda no Iraque e, posteriormente, do ISIS. Ex-funcionários graduados do exército e inteligência iraquianos, à época de Saddan Hussein, desempenharam um papel central, mas estão sob a liderança geral de al-Bahgadadi.” [1]

Além de ser um grupo abertamente terrorista (o caso mais emblemático de terrorismo assumido pelo Estado Islâmico foi o dos atentados de 13 de novembro, em Paris) e jihadista, o Estado Islâmico tem uma proposta de, efetivamente, construir um Estado, isto é, uma nação islâmica jihadista com base na sharia***. Esse Estado não se limitaria à região do Iraque e da Síria, mas teria o objetivo de conquistar todo o território que, entre a Idade Média e a Idade Moderna, pertenceu à civilização islâmica.

O grande risco que o Estado islâmico e sua nova forma de guerra, que não é apenas convencional e terrorista, mas também cultural e religiosa, representam para o século XXI é o fascínio que provocam em jovens do mundo inteiro, que se voluntariam para lutar nas guerras do “califado” e para fazer atentados terroristas em quaisquer partes do mundo. Outro perigo, maior, inclusive, é o de, se alcançado o objetivo da fundação de um Estado (com sistema de saúde, educação etc.), o Estado Islâmico passar a ser reconhecido como tal. É o que argumenta a especialista Loretta Napoleoni:

“Independentemente da forma pela qual os enfrentarmos, o nascimento do Califado serve para nos advertir que aquilo que os políticos confundiram com uma nova espécie de terrorismo pode ser, na verdade, um novo modelo de terrorismo. Em outras palavras, o Estado Islâmico pode romper com a tradição e resolver o dilema do terrorismo sendo bem-sucedido na criação de uma nação, conquistando para membros de uma organização armada o status de inimigos e, para as populações civis, o status de cidadão. Mesmo sem reconhecimento diplomático, a simples existência do Califado levaria a comunidade internacional a encarar o terrorismo com outro olhar.” [2]

 Outros conflitos  

Além desses conflitos no Oriente Médio e dos riscos que representa o Estado Islâmico, o século XXI também tem apresentado outros focos de tensão. Na região subsaariana do continente africano, há a guerra civil no Quênia e na Nigéria, onde também há a atuação de um grupo terrorista, o Boko Haram. Na região do Cáucaso, houve uma insurgência da Chechênia contra a Rússia, que só foi devidamente controlada em 2006. Houve também uma tensão entre Rússia e Ucrânia, em razão da região estratégica da Crimeia, no início do ano de 2014. Aos poucos, muitas transformações geopolíticas vão se acentuando nessas regiões do mundo, sobretudo na África, Oriente Médio e Leste Europeu. Os focos de guerras atuais estão dispostos nessas regiões.

*Jihadistas: A expressão “jihadista” vem do termo “jihad”, que significa “esforço”, em árabe, e, originariamente, indicava a ascese, o esforço ou guerra espiritual para se tornar uma pessoa virtuosa. Com a ascensão do fundamentalismo islâmico, esse termo passou a ser identificado com a “guerra santa contra os infiéis”, isto é, uma guerra contra todos que não partilham da fé islâmica.

** Créditos da imagem: Shutterstock e Valentina Petrov

*** Sharia: A sharia, ou lei islâmica, é um conjunto de prescrições jurídicas sobre a conduta das pessoas que se baseia em interpretações do Corão. Os grupos jihadistas frequentemente fazem interpretações deturpadas dessas prescrições para cometerem atrocidades, como escravização sexual de mulheres, enforcamento de homossexuais e degolação e crucificação de cristãos.

NOTAS

[1] COCKBURN, Patrick. A Origem do Estado Islâmico: o fracasso da “Guerra ao Terror” e a ascensão jihadista. Sã Paulo: Autonomia Literária, 2015. p 85.
[2] NAPOLEONI, Loretta. A Fênix Islamista: O estado islâmico e a reconfiguração do Oriente Médio. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2015.pp. 77-78


Por Me. Cláudio Fernandes

Escritor do artigo
Escrito por: Cláudio Fernandes Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

FERNANDES, Cláudio. "Século XXI"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/guerras/seculo-xxi.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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